Odebrecht: paralelamente, os títulos já inadimplentes emitidos pela divisão petrolífera da Odebrecht estão em alta (Guadalupe Pardo/Reuters)
Da Redação
Publicado em 6 de abril de 2017 às 17h31.
São Paulo - A Odebrecht está recompensando alguns detentores de seus títulos, enquanto outros se dão muito mal.
As notas emitidas pela holding desabaram ontem, após o Valor Econômico publicar que executivos revelaram a credores que o pedido de recuperação judicial é inevitável.
Os títulos são os de pior desempenho no Brasil neste ano e perderam mais de um terço do valor, diante de especulações de que a construtora, envolvida em escândalos, teria dificuldades para honrar obrigações.
A Odebrecht afirmou ao Valor que continua fazendo bons progressos nos esforços para reestruturar o negócio.
Paralelamente, os títulos já inadimplentes emitidos pela divisão petrolífera da Odebrecht estão em alta -- proporcionando algumas das melhores taxas de retorno nos mercados emergentes --, enquanto os detentores dos títulos negociam a flexibilização dos termos de pagamento para evitar a quebra da Odebrecht Óleo e Gás.
A divergência mostra que os títulos da mesma controladora têm perspectivas dramaticamente distintas.
Embora todos sejam negociados em níveis que reflitam estresse profundo, investidores apostam que os papéis da divisão petrolífera, que são garantidos por plataformas, são mais seguros, uma vez que a construtora – que perdeu bilhões em contratos desde que foi envolvida no escândalo de corrupção em 2014 – aparentemente está queimando o caixa.
"A construtora da Odebrecht é muito leve em ativos", disse Ray Zucaro, diretor de investimentos da RVX Asset Management, em Miami.
"Antes tinha uma reputação, que agora já era. Enquanto isso, os títulos da Odebrecht Óleo e Gás com vencimento em 2022 têm plataformas de perfuração que estão em funcionamento e têm contratos."
A divisão petrolífera afirmou em 31 de março que espera pagar somente juros sobre as notas com vencimento em 2022 até 7 de abril, mais de 30 dias após a data agendada de pagamento, em meio a negociações para reestruturar suas dívidas.
A Bloomberg publicou no mês passado que um comitê de detentores de títulos negociava com a empresa um acordo que evitaria a baixa contábil do principal dos títulos.
Em resposta a perguntas da reportagem enviadas por e-mail, a companhia se recusou a comentar o desempenho dos títulos.
O grupo, que atua também no setor sucroalcooleiro, tem vendido ativos para administrar suas dívidas, em meio a esforços para restaurar sua reputação após concordar em pagar multa recorde relativa à Operação Lava Jato.
Mais de 75 executivos e ex-executivos da empresa assinaram acordos com a promotoria e o herdeiro Marcelo Odebrecht está preso há quase dois anos.
Os mercados de crédito estão praticamente fechados ao grupo, que é obrigado a tomar empréstimos de ou vender ativos para suas divisões mais lucrativas para ajudar subsidiárias em dificuldades a pagar dívidas.
Apesar dos esforços para virar a página, os negócios continuam minguando, segundo reportagem publicada pela Folha de S. Paulo na segunda-feira, relatando que as encomendas à construtora encolheram 20 por cento no último trimestre de 2016, o equivalente a US$ 4,3 bilhões em projetos.
Na semana passada, a Exotix Partners recomendou a venda das notas da Odebrecht em vista de tendências "preocupantes" para os negócios, argumentando que o ritmo atual de queda no caixa não é sustentável e pode levar a empresa a dar calote neste ano se o quadro se mantiver e não houver entrada significativa de projetos.
O braço de construção da Odebrecht afirmou em resposta por e-mail a perguntas da reportagem que a companhia está fazendo "todo o necessário para virar a página na questão reputacional" e negociando acordos em diversos países onde opera.
"A companhia mantém um canal ativo de comunicação com seus bondholders" para mantê-los informados e evitar volatilidade nos papéis, segundo o comunicado.