Temer impacta muito menos a Bolsa do que imaginamos
Oscilações na bolsa de valores são hoje muito mais influenciadas pelo noticiário internacional e pelo preço das commodities do que pela política nacional
Fernando Pivetti
Publicado em 17 de abril de 2017 às 10h49.
Última atualização em 17 de abril de 2017 às 15h36.
São Paulo - As aprovações das reformas trabalhista e previdenciária previstas para ocorrer ainda este ano não deve impactar fortemente a bolsa brasileira .
Isso porque o desempenho das ações é muito mais influenciado pelo cenário internacional e pela dinâmica de preços das commodities do que pelas questões de política interna.
O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, afirma que o mercado brasileiro é muito sensível ao noticiário externo porque o país possui um número muito alto de investimentos estrangeiros.
Outra justificativa para que os investidores se preocupem menos com a questão interna do país é que após tantos escândalos o cenário político se tornou “mais previsível” .
O analista da Clear Corretora, Raphael Figueiredo, lembra que em 2014 as notícias relacionadas à Operação Lava Jato eram muito novas e o mercado não conseguia traçar uma direção concreta para todo o processo de combate à corrupção.
“Hoje o cenário mudou e os investidores já se ‘acostumaram’ com as operações da Polícia Federal e conseguem ter ideia do que vem por aí”, acrescenta.
Figueiredo destaca ainda que se neste momento, se os escândalos com as delações que estão sendo divulgadas não afetarem diretamente o Palácio do Planalto, a Lava Jato tende a ter menos impacto no mercado.
Efeito Temer e suas reformas
Isso não significa que as medidas propostas pelo governo Temer sejam irrelevantes para o mercado. A preocupação dos investidores é que a não aprovação das propostas comprometam o ajuste fiscal.
E o mercado já se mostra bem pessimista com o andamento das aprovações. O analista Phillip Soares, da Ativa Investimentos, destaca que as recentes concessões feitas pelo governo com relação à reforma da Previdência são um sinal negativo.
“A expectativa é que a discussão da reforma da Previdência seja encerrada em setembro. Até lá, o noticiário pode continuar negativo com relação à política nacional.”
O que esperar?
Apesar do mercado não estar confiante em relação aos rumos do governo nos próximos meses, é possível que a Bolsa continue subindo em um curto prazo. Desde janeiro, o Ibovespa, acumula ganhos de mais de 5%.
André Perfeito ressalta que as tensões políticas do governo Trump podem ser combustível para as ações aqui no Brasil.
“O clima ruim na Síria e a diplomacia abalada com a Rússia pressionam os preços das commodities para cima, e isso reflete positivamente no nosso mercado.”
Além de Trump, o acordo da Opep também deve começar a trazer novos resultados e elevar os preços do petróleo.
O analista Raphael Figueiredo projeta que, se o ritmo de alta das commodities e o corte na taxa básica de juros se mantiverem, a bolsa pode atingir até o final de junho o marco histórico de 73 mil pontos.
“Se esse marco vai ser superado ou não, tudo dependerá de uma série de mudanças de padrões dentro do mercado financeiro do Brasil, e isso ainda segue indefinido.”