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Sinais de aceleração no Brasil testam apetite estrangeiro

Em 2019, saída líquida de capital estrangeiro da B3 totalizou 44,5 bilhões de reais - excluindo a entrada de recursos via ofertas de ações

Euforia do mercado interno não atraiu estrangeiros e bolsa terminou 2019 com a maior saída líquida de capital externo em 15 anos (Peter Cade/Getty Images)

Euforia do mercado interno não atraiu estrangeiros e bolsa terminou 2019 com a maior saída líquida de capital externo em 15 anos (Peter Cade/Getty Images)

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Guilherme Guilherme

Publicado em 7 de janeiro de 2020 às 13h40.

O rali que destacou a bolsa brasileira entre os mercados acionários globais no ano passado ainda não balançou o investidor estrangeiro.

Os estrangeiros retiraram cerca de R$ 4,7 bilhões em ações brasileiras em 2019, de acordo com dados da B3. Excluindo a entrada de recursos via ofertas de ações, a saída líquida salta para cerca de R$ 44,5 bilhões, a maior desde ao menos 2004.

Embora gestoras de recursos incluindo Fidelity e BlackRock tenham mantido posição overweight no mercado brasileiro, a maior parte dos investidores estrangeiros segue com uma postura mais cautelosa em relação ao país. O ritmo mais lento do que o esperado da recuperação econômica não ajudou, enquanto outros mercados emergentes da Indía à Argentina não entregaram promessas de reformas. Os investidores locais, famintos por maiores retornos à medida que as taxas de juros caem a mínimas históricas, ocuparam esse espaço.

“O estrangeiro não se animou tanto quanto o investidor local”, disse Pedro Sales, sócio e gestor da estratégia de ações brasileiras da Verde Asset Management. “A bolsa se tornou muito mais interessante para o brasileiro, que viu o seu custo de capital sair de um patamar super alto para um patamar super baixo.”

O movimento de queda da taxa de juros tem impulsionado a migração de produtos de renda fixa para investimentos de maior risco. Com a Selic a 4,5%, contra 14% há apenas alguns anos, os locais têm buscado cada vez mais alternativas aos seus investimentos tradicionais em títulos do Tesouro ou poupança. No ano passado, o investidor pessoa física respondeu por mais de 18% da negociação na bolsa brasileira, a maior fatia desde ao menos 2013, segundo dados da B3.

Sinais incipientes de que o crescimento econômico tem começado a ganhar tração no Brasil têm emergido ao longo dos últimos meses. Desde que o PIB do terceiro trimestre surpreendeu para cima, dados de vendas do varejo, produção industrial e criação de empregos vieram acima do esperado.

O ano começou com um tom positivo para o mercado acionário. Recentemente, o maior fundo de índice de ações brasileiras registrou a maior entrada líquida semanal em sete anos, enquanto houve uma redução na posição líquida vendida dos investidores estrangeiros nos contratos do Ibovespa futuro nos primeiros pregões do ano. Além disso, estrategistas estão projetando que a bolsa apresente o quinto ganho anual seguido neste ano.

“O Brasil está bem preparado para receber muito interesse por parte dos investidores mais adiante”, disse Ray Zucaro, diretor de investimentos da RVX Asset Management em Miami. De acordo com ele, uma combinação de moeda estável, juro menor e valuations interessantes devem ajudar o Brasil a se destacar na América Latina.

Os investidores estrangeiros estão dando um olhar mais atento e “fazendo seu dever de casa” com Brasil, disse Zucaro.

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