Bolsa de Nova York: otimismo no mercado americano está animando o investidor na bolsa brasileira (Brendan McDermid/Reuters Brazil)
Denyse Godoy
Publicado em 8 de junho de 2020 às 20h15.
Última atualização em 8 de junho de 2020 às 23h11.
O índice S&P 500, o mais abrangente índice acionário da bolsa de Nova York, subiu 1,2% nesta segunda-feira, 8, e chegou aos 3.232 pontos, zerando as perdas deste atribulado 2020. Os investidores brasileiros, que sofreram uma forte pancada na bolsa B3 no ano, acompanham esperançosos as tendências do mercado americano, que costumam dar uma indicação dos rumos do local, e se perguntam quando o Ibovespa vai voltar ao terreno positivo.
O Ibovespa atingiu seu pico histórico em 23 de janeiro, aos 119.607 pontos, tendo subido 3,4% do último fechamento em 2019. Por quase um mês, o índice se manteve nesse nível, até que na segunda quinzena de fevereiro sucumbiu ao pânico global causado pela pandemia do novo coronavírus e desabou. Chegou a perder 48% até bater em 61.875 pontos em 23 de março, o patamar mais baixo desde julho de 2017. Desde então, avançou 57,8% — 11,7% na mais recente pernada de alta, de sete pregões. Mas, para apagar os prejuízos de 2020, ainda precisa subir 18,4%. É o que falta para os investidores que estavam posicionados nas ações do índice recuperar as perdas do ano.
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Foi o surto da infecção respiratória covid-19 que fez as empresas brasileiras perder tanto valor de mercado. Embora o contágio e as mortes no Brasil continuem subindo, a reabertura da economia na Europa e nos Estados Unidos está dando uma sinalização positiva para os investidores de que a maior crise desde a Segunda Guerra Mundial tem fim.
Mas, mesmo com as estimativas mais generosas até o momento, as perdas impostas pelo novo coronavírus podem não ser recuperadas neste ano. Os analistas do mercado financeiro têm estimado que o Ibovespa vai finalizar 2020 entre 100.000 e 112.000 pontos — uma elevação potencial de, no máximo, 14,7%. Para o índice avançar além desse ponto, a economia brasileira precisa se recuperar mais rápido do que o atualmente esperado. O Banco Mundial informou hoje que estima que o produto interno bruto brasileiro vai encolher 8% no ano, mais do que os 5,2% da média global.
O otimismo que se vê nas nações desenvolvidas agora é um vento que sopra a favor do Brasil. "Está havendo uma migração de recursos para ativos de risco, e esse movimento beneficia o país", diz Pablo Spyer, diretor operacional da corretora Mirae. O sucesso do Tesouro Nacional em captar 3,5 bilhões de dólares com uma emissão de títulos da dívida externa na semana passada é um sinal de que os investidores internacionais, que debandaram da bolsa neste primeiro semestre, estão dispostos a olhar para os ativos brasileiros novamente.
A corrida do pequeno investidor local para a B3 a um ritmo de 100.000 por mês, que deve continuar conforme a taxa básica de juro permaneça baixa, deixando a renda fixa menos atraente, também. A Selic se encontra em 3% ao ano e deve ser reduzida para 2,25% até o final de 2020, segundo a projeção de analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Banco Central na mais recente edição de sua pesquisa semanal Focus.
Como a bolsa antecipa o que acontece na economia real, a empolgação dos investidores com as perspectivas para o país pode até empurrar o Ibovespa para acima dos 120.000 pontos. "Porém, depois de zerar as perdas do ano, pode voltar a recuar", afirma Marco Tulli Siqueira, diretor da corretora Necton. Certo, mesmo, é que a bolsa brasileira vai ficar se equilibrando entre a fé e a realidade nos próximos meses.