ROBERTO ROCHA: investir em ações e em renda fixa vai continuar atraente em 2017 – desde que Temer fique / Divulgação
Letícia Toledo
Publicado em 25 de agosto de 2016 às 18h41.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h45.
Letícia Toledo
O cenário político tem ajudado um bocado a bolsa. Mas, como o Ibovespa subiu 33% no ano, especialistas se dividem na análise de se o processo final do impeachment pode atrair a atenção de ainda mais investidores. Roberto Rocha, diretor da Citi Corretora, faz parte do grupo dos otimistas. Para ele, a concretização do impeachment não só movimentará mais o mercado acionário, como deve atrair investidores interessados em investir no país com foco no longo prazo. Confira a entrevista de Rocha para o EXAME Hoje.
Há quem diga que a bolsa já subiu demais e há quem enxergue um espaço grande para uma alta pós-impeachment. Afinal, o que deve acontecer?
Por mais que a expectativa seja alta, muitos investidores estão esperando a confirmação do impeachment. Ninguém quer ter uma surpresa como o Brexit [saída do Reino Unido da União Europeia]. Os números são difíceis de prever. Até agora, no ano, houve uma entrada muito pequena na renda variável, foi menos de 5 bilhões de reais e uma saída de renda fixa, de cerca de 30 bilhões. Eu diria que a gente pode ter uma entrada na renda variável de mais 10 bilhões de reais e uma entrada na renda fixa de pelo menos 30 bilhões de reais com a concretização do impeachment. Com isso o governo também vai poder avançar na agenda econômica que tem para o Brasil, com a reforma previdenciária, o teto de gastos. Investidores estão olhando para isso. Outro item importante é o projeto de concessões que também vai acelerar depois do impeachment. Nós vamos voltar para uma agenda de investimentos para atrair o investidor estratégico.
O interesse do investidor estrangeiro é maior por renda fixa, por ações ou por concessões?
É um pouco de tudo. Este ano entrou dinheiro para ações, já para renda fixa teve saída de dinheiro. Até agora a gente teve um posicionamento muito grande de investidores com perfil especulativo, que compraram e se anteciparam ao evento do impeachment. Num segundo momento, com a aprovação do impeachment, podemos ter um investidor que tem um prazo muito mais longo, menos especulativo. O investidor estratégico, que compra parte de uma companhia para geri-la, vai ter mais entrada. Já vimos o exemplo da chinesa State Grid, que comprou a CPFL. Isso vai se intensificar com as novas regras para concessões.
E qual cenário para 2017? O senhor recomenda investimentos em renda fixa ou ações?
As duas estão atraentes. Há uma expectativa de queda de juros para o ano que vem. Grande parte disso já está precificado, na curva de juros, mas há quem projete o juro abaixo de 10%, o mercado atualmente tem uma projeção de 11,25%. Se ele for abaixo de 10% em 2017, ainda tem um espaço para ganhar com juros futuros. Também é um cenário bom para as companhias endividadas da bolsa. A queda de juros melhora o resultado das empresas, diminui suas dívidas e também vai surgir um momento muito positivo para as empresas se recapitalizarem. O potencial disso para os próximos 12 meses está muito forte.
E o momento é propício também para aberturas de capital ?
Este ano já tivemos duas empresas levantando recursos no mercado acionário, a Rumo e a Energisa. Com a Energisa foi quase um IPO, porque ela praticamente não tinha ações no mercado. Empresas que tiverem negócios sólidos vão conseguir atrair investidores. É um momento diferente do boom de IPOs que vimos em 2008 no Brasil, em que qualquer empresa era bem sucedido. Desta vez é mais seletivo, quem tiver um negócio com uma perspectiva boa vai encontrar investidor para colocar dinheiro na empresa. Dinheiro tem tanto para empresas listadas, como novas.
Tivemos um exemplo este mês que não deu certo. O leilão da companhia de energia Celg-D foi cancelado por falta de interessados. Com o impeachment concretizado vai haver mais interesse estrangeiro?
Pode haver interesse do estrangeiro sim. Todo mundo indicou que o ativo da Celg-D é muito bom. Mas o momento e o preço afastaram os compradores. Com o impeachment e uma revisão de preço o leilão vai acontecer. A gente escutou de investidores interessados no negócio que o governo precisa baixar o preço em pelo menos 30%.
Uma outra dúvida que paira sobre o mercado é o quanto uma alta de juros nos Estados Unidos pode afastar investidores do Brasil. A alta de juros vem? Isso pode prejudicar o país?
Com o Brexit e a inflação ainda baixa nos Estados Unidos, todo mundo postergou a expectativa de alta de juros para dezembro. Ela está meio que contabilizada, não seria um choque para retirar investidores daqui. Pode ser um risco para o Brasil se o Federal Reserve decidir antecipar este aumento ou colocar um tom um pouco mais agressivo nesta alta. Por enquanto a previsão é que saia de 0,25% e 0,50% para 0,50% e 0,75% no fim do ano.
E se o impeachment não acontecer?
Aí a gente vai ter uma saída expressiva de investidores. É um evento que está fora do radar. Se a Dilma for confirmada no cargo e a gente não tiver nenhuma indicação de mudança de rota econômica, a bolsa, no médio prazo, volta para os 40.000 e o dólar a 4 reais.