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Risco Trump tem impulsionado mais o dólar no Brasil que o fiscal, diz ex-J.P. Morgan

Fabio Akira, sócio-fundador da Blueline, afirma que eleição americana tem tido efeito "muito significativo" no mercado, especialmente nas últimas semanas

Fabio Akira, sócio-fundador da Blueline: "Trump mais forte nas pesquisas elevou o dólar não apenas frente ao real, mas também contra o euro, yuan, peso mexicano e iene" (Leandro Fonseca/Exame)

Fabio Akira, sócio-fundador da Blueline: "Trump mais forte nas pesquisas elevou o dólar não apenas frente ao real, mas também contra o euro, yuan, peso mexicano e iene" (Leandro Fonseca/Exame)

Publicado em 17 de outubro de 2024 às 13h14.

Última atualização em 17 de outubro de 2024 às 13h28.

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O dólar está sendo negociado próximo ao maior patamar do ano, a R$ 5,67, após subir pouco mais de 20 centavos desde o início de outubro. Embora parte do mercado atribua grande parte dessa valorização a questões fiscais, as eleições americanas têm pesado muito mais nessa equação, segundo Fabio Akira, economista e sócio-fundador da Blueline. Com três décadas de experiência no mercado, sendo 16 anos no J.P. Morgan, o maior banco dos Estados Unidos e do mundo, Akira compartilhou sua visão.

"O impacto das eleições americanas tem sido muito significativo nos mercados, especialmente nas últimas semanas", afirmou Akira em entrevista ao programa Vozes do Mercado, da Exame Invest.

Ele destaca que a ascensão do ex-presidente Donald Trump nas pesquisas para a Casa Branca tem tido mais influência sobre o preço do dólar em relação ao real do que os temores fiscais.

"O fiscal no Brasil não ajuda o câmbio. Mas isso já tem sido precificado desde meados de abril. A deterioração mais recente foi turbinada pelo risco eleitoral nos EUA. Isso tem gerado uma pressão adicional sobre o dólar frente ao real."

Com o Partido Republicano ganhando força na corrida pelo Senado, Akira avalia que uma eventual vitória de Trump na disputa pela Casa Branca facilitaria a aprovação de medidas mais "radicais".

"Quem vence a Casa Branca geralmente também ganha na Câmara. Assim, os republicanos teriam capacidade de aprovar medidas radicais no front de tarifas de importação, imigração, expansão de gastos, isenção tributária e interferência na autonomia do Fed, o que causaria uma grande valorização do dólar."

Akira observa que uma vitória de Trump tende a valorizar o dólar contra todas as moedas do mundo, tanto de países emergentes quanto desenvolvidos, devido a suas políticas econômicas mais agressivas e protecionistas.

"Trump mais forte nas pesquisas elevou o dólar não apenas frente ao real, mas também contra o euro, yuan, peso mexicano e iene. Com Trump no controle da Câmara e Senado, o dólar ganharia força contra todas essas moedas."

Em uma eventual vitória de Kamala Harris, que tem perdido força nas pesquisas, Akira espera que o dólar permaneça forte contra as moedas do G10, mas devolva parte da valorização frente às divisas emergentes.

Na sombra da China

Uma das apostas da Blueline, no entanto, é justamente contra a principal moeda emergente: o renminbi chinês. A posição é sustentada por uma China relativamente frágil e a possibilidade de que, em um governo Trump, o país asiático seja um dos mais impactados por suas políticas.

"Se Trump vencer, o conflito comercial com a China mudaria completamente de nível, aumentando a necessidade de o governo chinês usar instrumentos fiscais para mitigar os impactos das políticas protecionistas dos EUA. Isso colocaria a China em uma posição ainda mais desafiadora."

Segundo Akira, essa percepção de risco já tem levado fundos globais a reduzir suas posições em países emergentes, independentemente dos problemas domésticos de cada um. "Isso afeta diretamente a performance de ativos emergentes, que tendem a sofrer em um ambiente de menor apetite por risco e maior protecionismo global."

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