Rali de US$ 10 tri do mercado acionário é desafiado por balanços
Companhias do S&P 500 devem registrar queda de 9% nos lucros no segundo trimestre, o que seria a pior temporada desde 2020
Agência de notícias
Publicado em 17 de julho de 2023 às 14h20.
Um rali de quase US$ 10 trilhões para os mercados acionários globais este ano vai enfrentar um momento decisivo, já que centenas de empresas divulgarão balanços nas próximas semanas.
Companhias do S&P 500 devem registrar queda de 9% nos lucros no segundo trimestre, o que seria a pior temporada desde 2020, segundo dados compilados pela Bloomberg Intelligence. Na Europa, pode ser ainda pior, com um declínio projetado de 12%. Mas, com as expectativas já baixas — e alguns indicadores sugerindo uma recuperação dos lucros no próximo ano —, estrategistas estão divididos sobre como o mercado reagirá.
“Tenho dúvidas de que as empresas conseguirão demonstrar o mesmo grau de resiliência de lucros neste trimestre”, disse Evgenia Molotova, gestora sênior de investimentos da Pictet Asset Management. “O crescimento da receita e a estabilidade das margens serão fundamentais para ver se os lucros poderão se recuperar no segundo semestre.”
As áreas de foco para observadores do mercado incluem o impacto de um dólar em queda sobre grandes exportadores para os EUA, a substância por trás da onda da inteligência artificial que impulsionou o rali das ações este ano e pistas sobre o quanto as empresas têm sido afetadas por custos mais altos e menor consumo.
Grande influência da tecnologia
A febre em torno da IA levou o Nasdaq 100, com forte peso do setor tech, ao melhor primeiro semestre já registrado. Agora, investidores buscam evidências das implicações nos lucros da nova tecnologia.
“Se o entusiasmo pela IA não se materializar adequadamente nos lucros das companhias de tecnologia, poderemos ver pelo menos uma correção temporária nos preços das ações”, disse Aneeka Gupta, diretora de pesquisa macroeconômica da WisdomTree.
Efeito de inflação
Os sinais de desaceleração da inflação reforçaram o otimismo de que o Federal Reserve possa interromper o aumento dos juros em breve. Para as empresas, a notícia não é tão positiva, porque a mão de obra e outros custos ainda estão elevados, enquanto tentam subir ainda mais os preços para clientes.
“A inflação geral se desacelerou mais rápido do que os salários, o que pode ajudar os consumidores, mas prejudica as margens”, disse Rob Haworth, estrategista sênior de investimentos do US Bank Wealth Management. “Vamos observar a interação do ganho salarial com a inflação de preços para saber se as empresas permanecem sob pressão.”
Aperto dos consumidores
Participantes do mercado disseram que estão focados no ritmo dos gastos dos consumidores, nas vendas de automóveis e no setor de viagens e hospitalidade para avaliar a saúde do setor corporativo dos EUA. Outra área de foco será o endividamento das empresas e os planos de refinanciamento, especialmente para aquelas com balanços mais fracos.
“Os consumidores sustentaram a economia dos EUA por meses, estimulados por um forte mercado de trabalho e excesso de poupança, portanto, qualquer evidência de aperto dos cintos, negociação ou queda nos gastos com serviços será fundamental”, disse Ross Mayfield, analista de estratégia de investimento da Baird.
Desempenho mais fraco na Europa
A expectativa é a de que os lucros europeus caiam mais do que nos EUA, devido à fraqueza no setor manufatureiro, de acordo com estrategistas do Barclays. Grandes exportadores também enfrentam mais um obstáculo à medida que moedas como o euro e o franco suíço se fortalecem. A fabricante de relógios Swatch — que tem altos custos fixos na Suíça — alertou que as variações cambiais pesarão nas vendas este ano.
O mercado acionário começou a refletir os desafios da Europa no período de abril a junho, quando o Stoxx 600 teve desempenho inferior ao S&P 500 em dólar. Embora “valuations” mais baratos tenham tornado os papéis regionais atraentes novamente para alguns, outros dizem que a escassez de ações de tecnologia pode manter o cenário instável.
Recuperação instável da China
O mercado acionário da China ficou de fora do rali global deste ano em meio à frágil recuperação econômica, o que aumentou a preocupação com o setor imobiliário e elevou o desemprego entre os jovens.
Os balanços das montadoras do país devem ser um ponto positivo, à medida que as vendas domésticas e as exportações ganham “momentum”, enquanto os resultados de companhias de tecnologia podem ser fracos, já que os mercados globais de chips permanecem sem brilho.
As apostas também são altas para empresas internacionais com exposição à China, como gigantes do luxo da Europa. O Burberry Group disse na sexta-feira que a demanda na China ajudou a compensar o desaquecimento nos EUA. As favoritas dos investidores LVMH e Kering — que começaram a mostrar algumas rachaduras no início deste ano — também serão examinadas por seu desempenho na Ásia.