Ausência de medidas pode aumentar o pessimismo dos investidores (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 1 de agosto de 2012 às 20h36.
São Paulo – O “dia D” para os mercados financeiros pode ser esta quinta-feira, dia 2 de agosto. E não só para os investidores, os políticos dos países mais encrencados na zona do euro também irão acompanhar de perto o desenrolar dos eventos programados ao longo do dia, em especial a reunião de política monetária do Banco Central Europeu e a coletiva de imprensa do seu presidente, Mario Draghi, que acontece logo em seguida.
A expectativa toda foi criada pelo próprio Draghi, conhecido como Super Mario por ter evitado a quebra do seu país em 1990. Ele disse na semana passada o que todos queriam ouvir. "Dentro do nosso mandato, o BCE está pronto para fazer o que for preciso para preservar o euro. E acredite em mim, será suficiente", afirmou em uma conferência de investimentos antes da Olimpíada em Londres.
O problema é que todos esperavam algum tipo de medida ainda no final de semana ou na segunda-feira. Até agora, contudo, nada foi feito e Draghi está sob pressão. Para se ter uma ideia da importância que um movimento do presidente-super-herói pode ter sobre os mercados basta olhar para o que aconteceu na última sexta-feira. A animação foi tanta que o Ibovespa disparou 4,72%, mas chegou a operar acima de 5% ao longo do dia.
“Dado que as expectativas estão elevadas, a falta de um anúncio mais contundente após a reunião poderá levar os mercados a fortes correções técnicas”, destaca o estrategista-chefe do HSBC, Carlos Nunes, em uma análise. Ou seja, agosto e talvez o resto do ano podem ser definidos nesta quinta-feira.
O que pode ser feito?
As medidas do BCE poderiam incluir recompras de títulos dos países no mercado (o que baixaria os juros), novos cortes de juros (hoje em 0,75% ao ano). Além disso, o BCE poderia lançar um programa LTRO (Long-Term Refinancing Operations), que consiste em oferecer capital a um custo mais baixo para os bancos da região. Desta forma, as instituições financeiras poderiam obter ganhos em suas operações com um custo de capital menor. Algo parecido foi realizado em dezembro do ano passado e em fevereiro deste ano. Para o Merrill Lynch, o mercado espera é mesmo uma "bazuca" na forma de compra de títulos.
“Se confirmadas todas as especulações, deveremos ter um alivio nos mercados mais longo que os últimos ocorridos, já que principalmente a ação do BCE no mercado de títulos de dívida deve tirar a pressão de Itália e Espanha, pelo menos por enquanto”, explica a UM Investimentos em sua análise mensal. Aliás, um levantamento com quase 20 carteiras de recomendações para o mês mostra um ponto em comum: a reunião do BCE.
Segundo o BTG Pactual, os investidores parecem mesmo mostrar que o cenário mais provável é o anúncio da compra de títulos da Espanha e da Itália no mercado e que qualquer coisa menor que isso poderia os desapontar e estimular uma queda generalizada.
“Os investidores continuam a sonhar com uma união bancária e a desmutualização da dívida como a solução final para a crise. Mas antes que isso aconteça, os países credores precisariam certamente pedir uma maior integração política e econômica, que não parece estar perto de se materializar”, ressalta Carlos Sequeira, em relatório.
“Não vemos um estímulo de liquidez como uma solução para os problemas na Europa ou mesmo capaz de definitivamente por a economia americana em um caminho de recuperação mais forte. De qualquer forma, é difícil negar que um estímulo poderia trazer alívio para os mercados, pelo menos em termos de ganhar tempo”, afirma Carlos Firetti, chefe de pesquisa do Bradesco BBI, em um relatório.
Nos Estados Unidos, o Banco Central do país (Federal Reserve) acabou na quarta-feira com as expectativas de quem esperava por algum tipo de estímulo econômico. O Fed manteve o juro perto de zero e disse que o crescimento do país desacelerou. Os comentários fizeram crescer as expectativas de que um afrouxamento monetário adicional possa ser implementado no próximo encontro de Ben Bernanke, presidente do BC, e a sua equipe de diretores, em 13 de setembro.
A atuação do Fed não deve resolver a crise, assim como a "bazuca" do BCE, mas ambas podem dar mais tempo para que os políticos encontrem um caminho mais saudável para solucionar os problemas.