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Por que a Bolsa sobe tanto? Índice alcançou os 164 mil pontos pela 1ª vez

O rali recente reflete uma combinação de fatores domésticos e internacionais e pode indicar um início "forte" da Bolsa em 2026

Home brokers, falhas nas operações e fundos motivam a maioria das reclamações (Nilton Fukuda / Agência Basil/Agência Brasil)

Home brokers, falhas nas operações e fundos motivam a maioria das reclamações (Nilton Fukuda / Agência Basil/Agência Brasil)

Publicado em 4 de dezembro de 2025 às 18h52.

O Ibovespa superou nesta quinta-feira, 4, a marca dos 164 mil pontos e voltou a registrar novo recorde. O avanço consolida um movimento de fôlego: há três sessões consecutivas o principal índice acionário da B3 renova máximas tanto no intradiário quanto no fechamento. No acumulado de 2025, já foram 32 pregões encerrando no maior patamar da história, com valorização de 36,72% no período.

O rali recente reflete uma combinação de fatores domésticos e internacionais. Luis Castro da Fonseca, sócio-fundador da Nest Asset Management, explica que a forte alta do Ibovespa ao longo do ano, e especialmente nas últimas semanas, está ligada principalmente ao bom desempenho dos mercados globais, em particular dos emergentes.

Após uma década em que países desenvolvidos, sobretudo os Estados Unidos, lideraram os ganhos, houve em 2025 uma rotação internacional: investidores reduziram exposição à tecnologia e inteligência artificial e passaram a buscar outras oportunidades.

Com isso, índices como o MSCI Emerging Markets, que replica o sobe e desce de uma cesta de ações de bolsas de países emergentes, avançaram mais que o S&P 500, e bolsas de Coreia do Sul, México e África do Sul registraram fortes altas.

"O mercado brasileiro acompanhou esse movimento, subindo 55,33% em dólares", diz o gestor.

Nos últimos dias, porém, o mercado brasileiro teve desempenho ainda mais forte que seus pares, em parte porque estava "atrasado" em relação aos demais emergentes e começou a fechar esse gap rapidamente conforme o fim do ano se aproxima.

"A estabilidade na economia local, com a inflação sob controle ainda que pressionada, e a postura firme do mercado local também contribuíram para que o Brasil conseguisse participar do rali global. O ambiente político, apesar de conturbado, também não trouxe nenhuma novidade negativa com o potencial de afetar o cenário positivo para o mercado", afirma Fonseca.

Corte nos juros do Brasil e dos EUA no radar

O apetite ao risco no exterior também é impulsionado pela expectativa de um novo corte de juros nos Estados Unidos na reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) marcada para a próxima terça-feira, 9, e quarta, 10.

A sinalização de afrouxamento na política monetária dos EUA anima o mercado após um período de forte volatilidade nos Treasuries, desencadeado pela possibilidade de alta de juros no Japão.

O cenário eleitoral do próximo ano também entrou no radar dos investidores. Felipe Sant'Anna, especialista em investimentos do grupo Axia Investing, destaca que a pesquisa AtlasIntel/Bloomberg mostra um cenário de empate técnico entre o presidente Lula (PT) e nomes da direita — como Tarcísio de Freitas, Jair Bolsonaro e Michelle Bolsonaro — trouxe um componente adicional de ânimo ao mercado.

"A queda de Lula nas pesquisas também impacta positivamente a bolsa, já que o mercado considera uma chance de mudança no governo", diz Sant'Anna.

Além do humor doméstico e global mais construtivo, o desempenho positivo nas negociações desta quinta também foi influenciado pela divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do 3° trimestre, que mostrou avanço tímido de 0,1%, abaixo das expectativas.

Os números reforçaram a leitura de desaceleração do consumo das famílias e, por consequência, reacenderam a perspectiva de um corte na taxa básica de juros do Brasil, a Selic.

Até onde o Ibovespa pode ir?

No pano de fundo desse rali está também a forte temporada de distribuições de dividendos, catalisada pela tentativa das empresas de antecipar pagamentos antes da nova tributação estabelecida no Projeto de Lei (PL) 1.087 de 2025.

Um relatório do BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME) mostra que, desde o início de novembro, as companhias abertas anunciaram R$ 68 bilhões em dividendos, sendo R$ 35,7 bilhões em valores extraordinários.

O banco lembra que parte desses recursos tende a ser reinvestida no mercado acionário local, ajudando a sustentar o valuation das empresas, especialmente em um contexto de volume médio diário relativamente baixo, de cerca de R$ 24 bilhões.

Embora as empresas tenham até três anos para efetuar os pagamentos, analistas veem espaço para que a injeção de capital contribua para o bom momento do Ibovespa. No curto prazo, o índice mantém tendência de alta, com projeções apontando para 165 mil a 180 mil pontos. Do lado técnico, os níveis de 159.600, 157.200 e 153.400 pontos funcionam como suportes.

Rali de fim de ano

O Itaú BBA chamou atenção, em relatório, para o fortalecimento do movimento de alta e para a possibilidade de que o mercado esteja entrando em um ciclo mais amplo de valorização, típico dos ralis de fim de ano.

Segundo a análise, o Ibovespa não apenas renovou máximas nesta semana, mas "reforçou o rompimento", isto é, consolidou a superação dos patamares anteriores que serviam como barreira técnica. O banco destaca que a maior parte dos índices setoriais já negocia na máxima do ano, o que indica que a alta não está concentrada em poucos papéis, mas se espalha por diferentes segmentos.

Esse comportamento é interpretado pelos analistas como um indicativo de que "os astros do mercado estão alinhados" e de que o índice tem espaço para continuar subindo. "O cenário de tomada de risco ganha mais um capítulo e caminhamos não apenas para um rali de fim de ano, mas também de início de 2026", diz o banco.

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