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Placar de 27 a 0 para rebaixamentos de notas deverá piorar

Nos primeiros meses deste ano, 27 empresas tiveram ratings rebaixados, o que mostra o impacto da fraqueza econômica e dos escândalos nas notas de crédito


	Petrobras: a Moody’s cortou o rating da Petrobras para Ba2, ou dois níveis abaixo do grau de investimento
 (Paulo Whitaker/Reuters)

Petrobras: a Moody’s cortou o rating da Petrobras para Ba2, ou dois níveis abaixo do grau de investimento (Paulo Whitaker/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 25 de fevereiro de 2015 às 16h29.

São Paulo - Para ter uma ideia de como as coisas estão mal no Brasil, considere o seguinte: nos dois primeiros meses deste ano, 27 companhias tiveram seus ratings rebaixados no país.

O número de upgrades? Zero.

A contagem demonstra como a debilitada economia brasileira e o escândalo da Operação Lava Jato, que atinge a Petrobras e lhe tirou o título de grau de investimento, estão afetando a nota de crédito das empresas. De produtoras de commodities a construtoras, praticamente nenhum segmento foi poupado.

A última vez que o Brasil sofreu uma onda de cortes de rating assim foi em 1999, quando o país estava à beira do calote.

“Esse é um momento único em termos de debilidade e finanças frágeis para as companhias brasileiras, e os escândalos envolvendo a Petrobras se somam às preocupações macroeconômicas”, disse Joe Bormann, diretor-executivo de finanças corporativas para a América Latina da Fitch Ratings, em entrevista de Chicago. “Esperamos que os downgrades ultrapassem os upgrades em um porcentual recorde neste ano. As perspectivas definitivamente não são boas”.

Na terça-feira, a Moody’s Investors Service cortou o rating da Petrobras para Ba2, ou dois níveis abaixo do grau de investimento, segundo comunicado da agência de classificação.

A produtora de petróleo estatal ainda não conseguiu medir o tamanho das perdas causadas por negócios fechados com fornecedores que teriam pago subornos em troca de contratos.

A Fitch e a Standard Poor’s classificam a empresa em seus níveis mais baixos de grau de investimento.

‘Preocupação crescente’

O corte no rating “reflete a preocupação crescente em relação às investigações de corrupção e às pressões sobre a liquidez”, disse Nymia de Almeida, analista da Moody’s, no comunicado.

Há, possivelmente, mais problemas no caminho da Petrobras, pois a Moody’s disse que os ratings da empresa continuam em observação para outro rebaixamento.

Das 82 empresas brasileiras classificadas pela Fitch, 21 têm perspectivas negativas para suas notas, disse Bormann.

O ciclo de cortes de ratings ajudou a elevar os custos de captação das companhias brasileiras, com os rendimentos dos títulos denominados em dólar subindo 0,5 ponto porcentual neste ano, para 7,6 por cento, segundo o JPMorgan Chase Co.

O aumento contrasta com uma queda média de 0,04 ponto porcentual no custo médio da dívida corporativa dos países em desenvolvimento.

Em um sinal de que as perspectivas para a economia do Brasil estão piorando, os analistas participantes da pesquisa Focus, do Banco Central, preveem agora que o produto interno bruto do país encolherá 0,5 por cento neste ano.

Esta seria a maior contração desde que a economia do país encolheu 4,2 por cento em 1990, segundo dados compilados pelo Fundo Monetário Internacional.

Construtoras como a OAS SA e a Andrade Gutierrez SA tiveram seus ratings reduzidos após serem implicadas na investigação de corrupção na Petrobras.

Produtoras de açúcar, como a Grupo Virgolino de Oliveira SA, e empresas como a Vale SA, a maior produtora de minério de ferro do mundo, também sofreram rebaixamentos.

‘Cenário ruim’

Os cortes de rating deste ano contrastam com os 46 que ocorreram no mesmo período em 1999, quando a nota soberana do Brasil foi reduzida para quatro níveis abaixo de junk pela Standard Poor’s em um momento em que a crise na Rússia levava os investidores a retirarem dinheiro dos mercados emergentes.

O real mergulhou 32,8 por cento naquele ano, ajudando a levar a inflação a 8,9 por cento.

“Agora o Brasil é um país completamente diferente, muito mais integrado aos mercados internacionais”, disse Marcelo Lima, gerente de negociação de renda fixa da INTL FCStone Securities Inc., de Miami. “Nós reconhecemos que as razões para um cenário tão ruim são muito mais internas que externas”.

O Brasil, em si, corre o risco de ter seus ratings de dívida rebaixados. A Moody’s colocou o Brasil sob uma perspectiva negativa em setembro, seis meses depois que a Standard Poor’s rebaixou a nota do país para o nível mais baixo dentro do grau de investimento.

Um novo rebaixamento pode provocar reduções nas notas de empresas estatais, bancos e concessionárias de serviços públicos, entre outras.

“Eu não acho que a tendência dos rebaixamentos está perto de acabar”, disse Lima, da FCStone.

“O cenário é ruim e não deverá melhorar tão cedo”.

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