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Petrobras está atrativa, mas fundos não compram, diz Mobius

O total investido em Petrobras caiu de 1,2% no ano passado para 1% das carteiras dos fundos globais de países emergentes da casa


	Petrobras: especialista acha que é bom manter as ações ou até comprar mais porque, após os escândalos, a empresa deverá melhorar sua gestão e sua governança
 (Vanderlei Almeida/AFP)

Petrobras: especialista acha que é bom manter as ações ou até comprar mais porque, após os escândalos, a empresa deverá melhorar sua gestão e sua governança (Vanderlei Almeida/AFP)

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Da Redação

Publicado em 10 de fevereiro de 2015 às 11h58.

O especialista em mercados emergentes, Mark Mobius, responsável pela gestão de US$ 40 bilhões aplicados em ações de empresas de países em desenvolvimento pela gestora internacional Franklin Templeton, considera que as ações da Petrobras estão baratas, mas os fundos da casa não estão aumentando as aplicações na empresa.

Ao contrário, o total investido em Petrobras caiu de 1,2% no ano passado para 1% das carteiras dos fundos globais de países emergentes da casa, para cerca de US$ 100 milhões. O total investido em ações brasileiras é de US$ 1,7 bilhão.

O valor investido em Petrobras já foi bem maior, mas veio caindo desde o polêmico aumento de capital para o pré-sal em 2010.

Na época, Mobius criticou o fato de o governo usar as reservas para pagar a parte dele no aumento de capital, enquanto os demais acionistas pagaram em dinheiro.

A queda desde então da fatia da Petrobras nos fundos da Templeton refletiu vendas de papéis e a desvalorização das ações.

Escândalo deve levar a melhora

Para Mobius, os escândalos envolvendo a operação Lava Jato, o pagamento de propinas e o superfaturamento de obras devem levar a empresa a melhorar sua gestão e sua governança.

“Agora, com esses escândalos, é uma boa notícia, pois a empresa terá de atender as demandas do público, e isso deve melhorar a Petrobras”.

Com isso, o executivo acha que é bom manter as ações ou até comprar mais. “As agências de risco podem rebaixar a nota de crédito da Petrobras, por causa o endividamento, mas a empresa não vai fechar, a demanda por óleo e gás não vai desaparecer”, justifica.

Os preços do petróleo também devem se recuperar, espera. “Há uma discussão sobre preços, há quem ache que o preço do petróleo não vai mais subir, acham que vai cair a US$ 50 ou até menos, mas não vejo assim”, diz Mobius.

“O gás de xisto dos EUA está com sua produção em queda, e pode ser uma boa aposta diversificar em petróleo”, afirma, acrescentando que a Petrobras não é só produção. “Ela também tem refino e distribuição também”, diz.

Fundos querem distância

Apesar disso, os fundos da Templeton não estão comprando mais ações da Petrobras. Os gestores das carteiras temem a grande dívida da estatal e aguardam para ver o que o governo fará para ajudar a empresa.

Diante do risco de o governo fazer um aumento de capital e diluir os demais acionistas, gestora prefere não arriscar aumentar as aplicações por enquanto.

Transparência nos desvios

Mobius afirmou que não ficou surpreso com as denúncias de corrupção e desvio de recursos na estatal. “Sabíamos que havia corrupção no Brasil, como há em qualquer lugar”, disse.

O que chamou a atenção foi o valor desviado e a extensão das irregularidades. Ele citou uma conferência em Hong Kong, na qual havia um executivo de relações com o mercado da Petrobras.

“Perguntei a ele quanto ele achava que tinha sido pago de propina e o executivo respondeu sem rodeios: 3%”, contou Mobius. “Isso é que é transparência”, ironizou. “Não é um grande segredo que haja corrupção”, disse o gestor.

“O que surpreende é a falta de conhecimento do governo e a extensão da organização”, disse.

Empresa precisa de recursos

O gestor diz que mesmo que a empresa tivesse sua nota de crédito rebaixada, o preço do papel cairia mais e ela ainda continuaria atrativa. “Sim, seria uma oportunidade”, afirmou. Mas ele destaca que a empresa terá de resolver o problema de financiamento no curto prazo.

“Apesar de a Petrobras dizer que não, ela vai precisar de mais empréstimos”, afirma Mobius.

“E, se precisar, ou o governo coloca mais dinheiro na companhia ou a reestrutura e a torna mais atrativa para investidores como nós, mudando suas políticas”, disse.

Reservas internacionais para financiar a Petrobras

Outra saída seria o governo fortalecer o balanço da Petrobras emprestando a ela recursos de suas reservas internacionais. “O Brasil tem um volume grande de reservas, mais de US$ 300 bilhões, se a Petrobras precisar de uns US$ 20 bilhões não seria grande problema”, disse.

O problema para uma operação desse tipo seria o impacto que ela teria nas contas públicas, observou Mobius. E o risco seria de o país sofrer um rebaixamento de sua nota de crédito pelas agências de risco.

“O governo está preocupado com um ‘downgrade’ da Moody’s ou da Standard & Poor’s e deve ter isso em mente”, afirmou.

Bendine e o impacto global da Petrobras

Sobre o novo presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, Mobius disse que “só sabe que ele veio do Banco do Brasil”. “A boa notícia é que, como ele veio do BB, ele sabe as regras do governo, como lidar com a burocracia”, observou.

“A má notícia é que ele vem do Banco do Brasil”, acrescentou. “Mas achou que temos de esperar um pouco para ver, dar uma chance para ele.”

Para Mobius, a primeira coisa que Bendine deveria fazer para recuperar a credibilidade da Petrobras é tornar a empresa completamente aberta e transparente sobre tudo.

“É preciso deixar as coisas claras, quais são os problemas, sua extensão, por que eles não estão pagando os fornecedores”, afirmou.

Ele lembrou que essa questão não é apenas brasileira, mas global. “Estive com um analista em Cingapura que disse que a Sembcorp, dona do estaleiro Jurong , não está recebendo”, afirmou.

“Enquanto isso, a Sete Brasil, empresa fornecedora de navios plataforma para a Petrobras, diz que está com fluxo de caixa positivo”, acrescentou.

“Essa é a primeira coisa que deve ser feita, é preciso deixar claro como a Petrobras vai pagar os fornecedores, pois isso tem impacto global”, disse. ”É importante ser transparente.”

Fim do conteúdo nacional

Mobius defendeu ainda o fim das exigências de conteúdo nacional para os equipamentos da Petrobras e também os limites para a participação de empresas estrangeiras na exploração de petróleo.

“Assim a empresa pode reduzir o custo de produção e ter melhores resultados”, disse. O governo precisa também retomar os leilões de áreas de exploração de petróleo para obter caixa.

“Claro que os preços não serão os mesmos agora que o petróleo caiu, mas é preciso mas será preciso considerar isso”, disse.

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