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Para especialistas, bolsas vivem "o olho do furacão" da crise global

Em painel do Global Managers Conference 2022, evento organizado pelo BTG Pactual, gestores de portfólios globais compartilharam suas visões sobre inflação e juros

Gestores do BTG, New Capital, Janus Henderson e BlackRock debateram os caminhos da inflação e juros no mundo (BTG/Divulgação)

Gestores do BTG, New Capital, Janus Henderson e BlackRock debateram os caminhos da inflação e juros no mundo (BTG/Divulgação)

BA

Bianca Alvarenga

Publicado em 21 de junho de 2022 às 17h32.

Última atualização em 22 de junho de 2022 às 18h40.

Inflação em patamares recordes, juros subindo e bolsas em queda são o novo normal do mercado global. Depois de um longo período de condições monetárias muito favoráveis, o mundo pode estar a uma esquina da maior crise econômica em mais de uma década.

Para debater os possíveis caminhos à frente, um painel de gestores de investimentos globais avaliaram as últimas decisões de autoridades financeiras, especialmente as do Federal Reserve, o Banco Central da maior economia do mundo. Na semana passada, o Fed aumentou os juros básicos dos Estados Unidos em 0,75 ponto percentual, o maior reajuste em uma reunião desde 1994.

Camila Astaburuaga, gestora de portfólio da New Capital, Phil Gronniger, gestor de portfólio de renda fixa da Janus Henderson e Jasmine Fan, gestora de estratégias de investimentos da BlackRock participaram de um painel no Global Managers Conference Brasil, evento promovido pelo BTG Pactual nesta terça-feira, 21. A moderação do debate foi feita por Ricardo Costa, gestor de portfólio do banco.

Os especialistas convergiram na visão de que a economia americana pode estar prestes a viver dias mais difíceis do que está sendo estimado pelo Fed, com uma boa chance de uma recessão acontecer já em 2023. No entanto, a crise pode ser mais breve e menos profunda do que o esperado.

"As empresas estão vindo de um momento de fortes balanços, e as famílias também estão em um momento orçamentário mais favorável, principalmente em razão dos salários. Se a recessão vier, ela tende a ser mais curta e mais rasa", defendeu Gronniger, da Janus Henderson.

As projeções da curva de juros e os prêmios dos bonds (títulos de dívida dos Estados Unidos) estão em seu pico, segundo Astaburuaga, da New Capital. Por um lado, isso indica que o mercado está no que a gestora chama de "olho do furacão". Por outro lado, ela acredita que em seis meses as condições devem melhorar consideravelmente, em razão da queda gradual da inflação.

O Fed vai conseguir conter a alta dos preços?

O trabalho do Federal Reserve tem sido muito mais baseado no alinhamento de expectativas, do que em medidas concretas. Isso porque, observa Astaburuaga, a condução dos juros é a única ferramenta que a autoridade tem para manter a economia em ordem.

"É muito difícil manter os preços sob controle, a economia crescendo e um mercado de trabalho saudável com só uma ferramenta, a política monetária", ponderou a gestora da New Capital.

Por outro lado, outros fatores devem contribuir para uma diminuição na escalada dos preços. Fan, da BlackRock, lembra que a maioria dos presidentes e diretores de empresas nos Estados Unidos já acredita em uma desaceleração econômica ao longo dos próximos 12 meses, e por isso está congelando os planos de contratação de novos funcionários.

A menor geração de vagas resolve um dos "bons problemas" vividos pelos Estados Unidos: a oferta de empregos ainda é substancialmente maior do que o número de desempregados, o que tem causado um aumento nos salários e, por consequência, uma pressão extra na inflação.

Com essa questão parcialmente endereçada, o Fed deve focar no controle de preços no curto prazo, o que significa que os juros podem subir mais do que o esperado. A tese de "pouso suave" da economia americana, em que o Fed conseguiria controlar a inflação sem gerar uma recessão, parece cada vez mais improvável, mas, como disseram os especialistas, tal situação deve ser transitória.

Os juros nos Estados Unidos devem permanecer altos?

Passada a incerteza do curto prazo, os especialistas não acreditam em uma mudança de cenário perene. Ou seja: mesmo que os juros nos Estados Unidos tenham que subir para conter a inflação, as taxas não devem permanecer em patamares elevados por muito tempo.

"Estamos, por exemplo, migrando para um mundo de energias renováveis, que são mais baratas. É claro que, no curto prazo, riscos geopolíticos podem levar a um aumento de custos, pressionando a inflação, mas no longo prazo o aumento de produtividade deve contribuir pra manter os juros mais baixos", opina Astaburuaga, da New Capital.

Gronniger, da Janus Henderson, lembra que as taxas dos títulos da dívida americana com vencimento em 10 anos estão perto de 1%, o que indica uma baixa chance de uma mudança secular nas taxas.

"Algumas pessoas discutiram a 'japonificação' das taxas dos EUA, com nosso título de dívida do Tesouro de 10 anos bem abaixo de 1%. Embora improvável, seria um cenário ruim se voltássemos a taxas tão baixas", defende o gestor.

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