BNDESPar, braço de investimentos do banco de desenvolvimento, contratou instituições financeiras para vender ações em uma possível oferta secundária. (Ueslei Marcelino/Reuters)
Tais Laporta
Publicado em 23 de novembro de 2019 às 08h30.
Última atualização em 23 de novembro de 2019 às 09h30.
O plano do BNDES de vender sua participação na JBS pode colocar um freio no impressionante rali da gigante de carnes.
O BNDESPar, braço de investimentos do banco de desenvolvimento, contratou instituições financeiras para vender ações em uma possível oferta secundária, segundo comunicado da JBS esta semana. O BNDESPar detém uma participação de 21,3% no frigorífico, equivalente a cerca de R$ 15 bilhões, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Embora analistas do Bradesco BBI e BTG Pactual tenham considerado os resultados do último balanço do JBS sólidos, investidores acreditam que a planejada oferta de US$ 1,9 bilhão deve manter as ações sob pressão nas próximas semanas.
A expectativa sobre a operação já tirou parte do brilho do rali da JBS, gigante global de carnes com melhor desempenho em 2019. Embora as ações da JBS tenham mais que dobrado em valor neste ano, os papéis mostram desempenho inferior ao das concorrentes no mercado doméstico nas últimas semanas. O Ebitda recorde divulgado na quinta-feira da semana passada não impediu a queda de 2% das ações, que acumulam baixa de 23% desde o pico em setembro.
A possível oferta do BNDES “representa um grande peso para a ação no curto prazo”, segundo relatório do analista do JPMorgan Lucas Ferreira, que tem recomendação overweight e preço-alvo de R$ 34 para os papéis.
Marcel Moraes, do Santander, que tem o maior preço-alvo para a JBS entre analistas do sell-side acompanhados pela Bloomberg, também destacou o impacto da possível venda da fatia do BNDESPar entre os principais riscos, de acordo com relatório de 18 de novembro.
As ações da JBS subiram 131% nos últimos 12 meses, impulsionadas pela forte demanda por proteína após os cortes de fornecimento de carne suína na Ásia e fortes resultados nos EUA, puxados pela ampla oferta de gado e aumento dos preços da carne bovina.
A perspectiva para os próximos trimestres é ainda melhor diante do cenário positivo para as exportações. A recente suspensão do embargo para exportações de frango dos EUA para a China favorece os embarques de aves da JBS com origem no mercado norte-americano. Já as vendas de carne de porco podem aumentar com a eliminação do aditivo alimentar ractopamina na sua cadeia de suprimentos nos EUA a partir de janeiro. O aditivo, usado na ração, é banido na China.
As exportações da empresa a partir do Brasil, por sua vez, devem ser impulsionadas por novas habilitações da China. Na semana passada, o país asiático autorizou importações de mais três plantas de suínos e uma de bovinos que pertencem à JBS.