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O clube do bolinha das criptomoedas

As moedas virtuais e o blockchain foram projetados para ser uma força igualitária. Mas as mulheres encontram um divisão de gêneros desequilibrada

CRIPTOMOEDAS: a festa oficial da Conferência Norte-americana de Bitcoin em janeiro foi num clube de strip-tease (Getty Images/Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 9 de março de 2018 às 17h29.

Última atualização em 9 de março de 2018 às 17h53.

Palo Alto, Califórnia – Quando uma startup de criptomoeda que prometia revolucionar a indústria de frutas e verduras fechou, em janeiro, deixou apenas uma palavra em seu site: pênis.

Quando uma empresa de moeda virtual chamada DateCoin recentemente tentou atrair investidores para sua oferta inicial de moeda, publicou um anúncio no Facebook que mostrava uma moça de maiô, e um texto sobre seu corpo dizia: “Toque meu ICO”.

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E depois da Conferência Norte-americana de Bitcoin em janeiro, que contou com 84 oradores homens e três mulheres, a festa oficial foi realizada em um clube de strip-tease de Miami.

As moedas virtuais e o blockchain, o sistema de registros que garante a segurança das operações realizadas pelas criptomoedas, foram projetados para ser uma força democratizante e igualitária, sustentada por uma exuberância utópica, mas as mulheres que tentam participar da corrida do ouro encontram uma divisão de gênero desequilibrada. E algumas dizem que a cultura está piorando, com a dominação masculina sendo fortalecida coma a nova leva de especuladores ricos, conhecida como “Blockchain Bros”.

Isso significa que esse mundo mal surgiu e já corre o risco de se parecer como o resto da indústria de tecnologia, onde as mulheres são decididamente uma minoria. Alguns estudos estimam que elas sejam apenas de 4 a 6 por cento dos investidores do blockchain. Esse desequilíbrio é crítico porque frequentemente são nos primeiros dias da indústria que grandes fortunas são feitas – e os grandes vencedores escolhem em quem investir e o que construir em seguida, gerando uma série de consequências.

Agora, algumas investidoras e empresárias iniciais começam a denunciar e a contra-atacar.

“Mulheres, pensem em investir em criptomoedas, senão os homens vão ficar de novo com toda a riqueza”, escreveu no Twitter a capitalista de risco Alexia Bonatsos.

Agora, algumas líderes das criptomoedas estão organizando eventos, clubes e conferências para atrair mulheres para a indústria. Bonatsos falou em um evento em fevereiro em San Francisco. E Jalak Jobanputra, fundadora da startup de investimento Future Perfect Ventures, e outros desenvolvedores de blockchain se reuniram em Nova York, em fevereiro, para discutir a questão. Mais tarde, anunciaram que iam formar um grupo de defesa da diversidade do blockchain chamado Collective Future, e criar um compromisso de diversidade com o qual as empresas se comprometeriam.

“São os primeiros dias que decidem a cultura de uma indústria, quem vai tomar as decisões”, disse Jobanputra. Ela citou os capitalistas que fundaram o eBay e a Amazon e quem eles financiaram depois.

Arianna Simpson, uma das primeiras investidoras de criptomoeda, disse que o aumento do interesse nas moedas virtuais por homens novatos deve mostrar às mulheres que não é preciso grande conhecimento ou doutorado para prosperar no ecossistema.

“As mulheres sempre questionam se são qualificadas, mas basta olhar para esses palhaços à nossa volta”, disse ela.

A resposta aos eventos tem sido encorajadora, disseram algumas. Brit Morin, empresária do Vale do Silício, recentemente realizou um encontro de blockchain para mulheres cujos ingressos se esgotaram em uma hora. Ela transferiu a reunião para um local maior, onde todos os 500 lugares foram vendidos. Então, criou um livestream para o evento; naquela noite, 16 mil espectadores a assistiram.

“Temos a oportunidade de reconstruir os sistemas financeiros e as mulheres querem ser parte desse processo”, disse Morin.

A resistência veio após a indignação com a falta de diversidade nas moedas virtuais, pontuada por incidentes sexistas envolvendo os anúncios da DateCoin no Facebook e da Prodeum, startup de blockchain para frutas. Nenhuma das duas empresas deu um retorno a nossos pedidos de comentários.

O desequilíbrio de gênero também era óbvio na Conferência Norte-americana de Bitcoin, em janeiro, em Miami, organizada por um investidor famoso, Moe Levin, que originalmente escalou 86 homens e uma mulher para fazer palestras. Após queixas, substituiu dois homens, para conseguir o que achava que deveria ser suficiente: 84 homens no palco e três mulheres.

“Foi só uma coincidência; não havia a intenção de não as incluir. Só não tivemos tempo para isso”, disse Levin.

Quando perceberam que a festa após a conferência aconteceria em um clube de strip-tease, elas pediram que Levin mudasse de local. Ele afirmou que o clube foi o lugar mais conveniente e mais seguro que conseguira encontrar.

“O centro de Miami não tem muitos espaços de evento e precisávamos de muita segurança”, disse Levin.

No ano anterior, a festa de abertura da conferência contou com modelos vestindo apenas lingerie, pintadas de dourado e cobertas de logotipos do bitcoin.

“Moe faz algo bem sexista todos os anos. E vai variando, o que na verdade mostra que é de caso pensado”, disse Rose Chan, que fundou o grupo de trabalho de blockchain do Banco Mundial e que agora dirige seu próprio projeto de criptomoeda.

Um grupo de investidoras disse ter decidido boicotar a conferência no futuro.

Levin se disse surpreso com essa reação. “Muita gente se divertiu bastante”, disse ele.

Em alguns eventos femininos de criptomoedas, a frustração está dando espaço para a revolta e a tristeza. Em uma noite recente, cerca de 50 jovens interessadas no assunto se reuniram no Woman’s Club de Alto Palo. Algumas eram estudantes de Engenharia da Universidade de Stanford.

Enquanto tomavam vinho, compartilharam suas histórias – algumas haviam sido confundidas com modelos contratados, outras receberam convites suspeitos durante entrevistas de emprego, e muitos homens não acreditavam que fossem engenheiras.

Catheryne Nicholson, diretora executiva da BlockCypher, que fornece infraestrutura para aplicativos de blockchain, explicou às jovens porque a situação de gênero havia se deteriorado.

“Agora que há um monte de dinheiro circulando por aí, os homens pensam: ‘Ah, vou aproveitar’. Estão mais cheios de si”, disse ela.

Karen Hsu, líder de crescimento da BlockCypher, disse que achava que certas preocupações em termos de gênero eram exageradas. Ela contou que, em uma conferência recente, lhe perguntaram se seria uma das palestrantes, fato que considera uma validação.

“Foi bom porque ele não pensou que eu era modelo”, disse Hsu, referindo-se às moças contratadas que ficam ao lado dos estandes das startups para chamar a atenção dos participantes da conferência.

Outras mulheres falaram sobre como a cultura do blockchain as estava exaurindo aos poucos. Jay Graber, desenvolvedora da Zcash, uma novo criptomoeda que pretende destacar a privacidade, usava pequenos brincos verdes que havia feito com pedaços da placa de memória RAM usadas em dispositivos de criptomoedas. Ela disse que se interessou por blockchain depois de se juntar aos protestos do Occupy Wall Street em 2011, quando começou a ver a tecnologia como uma ferramenta que poderia tomar o poder dos grandes bancos centrais. Agora, já não tem tanta certeza.

“Nunca me senti insegura antes neste setor, mas percebi que não há ninguém como eu. É um sentimento difícil quando você não vê ninguém parecido”, disse Graber.

Ela contou que já havia considerado a possibilidade de deixar a indústria.

“Tenho a sensação constante de estar sendo deixada de lado. É um estado geral de alienação”, disse ela.

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