Mercados

O alfajor vai à bolsa

A fabricante argentina de alimentos Havanna, conhecida por seus alfajores, testará um novo tipo de apetite nesta semana: o de investidores na bolsa. A maior fabricante do tradicional doce argentino inicia nesta segunda-feira seu processo de abertura de capital na Bolsa de Comércio de Buenos Aires, com a definição do valor das ações. Na sexta-feira […]

LOJA DA HAVANNA: a fabricante de alfajores fará a primeira abertura de capital da Argentina em três anos /

LOJA DA HAVANNA: a fabricante de alfajores fará a primeira abertura de capital da Argentina em três anos /

LT

Letícia Toledo

Publicado em 6 de junho de 2016 às 16h52.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h48.

A fabricante argentina de alimentos Havanna, conhecida por seus alfajores, testará um novo tipo de apetite nesta semana: o de investidores na bolsa. A maior fabricante do tradicional doce argentino inicia nesta segunda-feira seu processo de abertura de capital na Bolsa de Comércio de Buenos Aires, com a definição do valor das ações.

Na sexta-feira 10, os papéis passarão a ser negociados. A Havanna vai ofertar 10% de seu capital com o objetivo de captar 150 milhões de pesos, cerca de 10,8 milhões de dólares. Está prevista ainda a oferta secundária de mais 7,5% de seu capital, dependendo do ânimo do mercado com a empresa.

Criada em 1947, no balneário de Mar del Plata por três amigos, a marca ganhou fama e prestígio na Argentina inicialmente por seus alfajores —recheados com doce de leite e cobertos de chocolate — e depois pelas Cafeterias Havanna, com cafés, sanduíches, tortas e uma variedade de produtos que levam doce de leite. E é exatamente em sua popularidade que a empresa aposta para conquistar investidores.

“A marca é muito conhecida e acredito que os argentinos estejam muito animados com a possibilidade de participar dos negócios da Havanna. Pensamos em abrir o capital há pelo menos dois anos e meio”, afirma Alan Aurich, presidente da Havanna. Em 2015, a empresa faturou 843 milhões de pesos argentinos (em torno de 61 milhões de dólares) e teve um lucro de 70 milhões de pesos (5 milhões de dólares).

A seca de IPOs

A oferta de ações da Havanna acontece pouco mais de seis meses após Mauricio Macri assumir a Presidência e vem sendo tratada na Argentina como sinal definitivo de um novo momento para o país. Se a Havanna decolar na bolsa, uma longa espera pode estar perto do fim no mercado de capitais.

O governo de Macri conseguiu cumprir uma de suas principais promessas de campanha ao quitar dívidas de mais de 9,3 bilhões de dólares com credores internacionais de seus títulos públicos. O acordo permitiu ao país voltar ao mercado internacional de crédito e marcou o início de uma administração mais amigável com o mercado.

Desde 2013 a bolsa argentina não registrava uma oferta de ações. A Havanna será a segunda companhia em menos de um mês a listar seus papéis. No dia 19 de maio, o grupo financeiro Supervielle captou 280 milhões de dólares em um IPO realizado simultaneamente na bolsa de Buenos Aires e na Bolsa de Valores de Nova York, que vendeu 35% de seu capital.

A situação no Brasil não é muito diferente dos hermanos. Por aqui, após o boom de IPOs que chegou a 64 empresas em 2007, nos últimos dois anos apenas duas empresas abriram o capital. Em 2014, a fabricante de produtos veterinários Ourofino levantou 418 milhões de reais. Em 2015, a corretora de seguros controlada pela Caixa Econômica, Par Corretora, captou 602 milhões de reais.

Para este ano, especialistas apontam que a chance de um IPO é escassa. “Primeiro nós precisamos de uma estabilização política, depois de um ajuste econômico que comece a trazer retornos reais. No cenário turbulento atual é muito difícil que alguma empresa se anime”, diz Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Nova Futura Corretora.

No início do ano, a Caixa Econômica Federal desistiu do IPO da Caixa Seguridade, mas afirmou que mantém a intenção de abrir o capital tão logo o mercado se mostre favorável. A estimativa inicial era de que a nova empresa movimentaria 10 bilhões de reais na abertura de capital.

Mercado pequeno

O mercado de ações argentino ainda é pequeno. O valor da Bolsa de Comércio de Buenos Aires é de 81 bilhões de dólares, enquanto o da BM&F Bovespa está próximo de 623 bilhões de dólares. Segundo o jornal argentino Clarín, atualmente 30 empresas demonstram interesse em abrir o capital — o que representa quase um terço do número de companhias listadas atualmente.

O mercado argentino ainda é classificado como de “fronteira”. A atribuição é dada pela empresa de pesquisa MSCI, cujos índices são utilizados como referência para mais de 9,5 trilhões de dólares em ativos em todo o mundo. Por ser consideradas de fronteira, as ações argentinas passam despercebidas pelos grandes investidores.

“Nós temos visto como grande a possibilidade de sairmos do patamar de fronteira com esse novo governo. Os investidores estrangeiros estão animados com o país. O IPO do Grupo Supervielle chamou muita atenção e acredito que este pode ser o começo da popularização do mercado acionário aqui”, diz Juan C. Barboza, economista-chefe do Itaú BBA na Argentina.

O principal índice da bolsa argentina, o Merval, tem alta de 10% neste ano. Segundo o presidente da Havanna, Aurich, quase 50 fundos americanos demonstraram interesse em adquirir ações da empresa.

Parte do dinheiro levantado com a abertura do capital da Havanna será usado para investir na fábrica que a empresa está construindo em Mar del Plata. A nova fábrica, com 55.000 metros quadrados e um custo de 7 milhões de dólares, vai concentrar a produção atualmente distribuída em três fábricas menores. Com uma produção centralizada, a Havanna quer chegar a novos mercados. Até o fim do ano, a empresa pretende abrir a primeira loja nos Estados Unidos, no estado da Flórida.

Hoje, a Havanna tem operação em nove países. O Brasil é o segundo maior mercado da marca. Por aqui, a empresa iniciou uma expansão por meio de franquias no fim de 2014. Hoje são 53 lojas no país e um faturamento de 55 milhões de reais em 2015. O plano é abrir mais de 40 lojas ainda neste ano. “Desenvolvemos produtos exclusivos para o Brasil, como a linha de panetones com doce de leite e o doce de leite light, que chegará às lojas em breve”, diz Aurich. A ver se a vida da Havanna na bolsa será tão doce quanto seus alfajores.

(Letícia Toledo) 

Acompanhe tudo sobre:Exame Hoje

Mais de Mercados

Cade dá aval para dona do Burger King operar Subway no Brasil

Divisora de águas, compra de campo Peregrino deixa Itaú BBA ainda mais otimista com a Prio (PRIO3)

Ibovespa fecha em queda repercutindo inflação nos EUA e dados do emprego do Brasil

Inflação nos EUA, recorde na China e dados de emprego no Brasil: o que move o mercado