Banco Central: o BC faz nesta terça-feira, 20, pela manhã, dois leilões de venda conjugada com compra de dólares no valor total de até US$ 4 bilhões (Divulgação/Banco Central)
Da Redação
Publicado em 20 de agosto de 2013 às 10h12.
São Paulo - O Banco Central e o Tesouro Nacional voltam a atuar em conjunto e com artilharia pesada nesta terça-feira, 20, pelo segundo dia seguido, para tentar segurar o câmbio e os juros futuros.
A ação paralela das autoridades já foi anunciada previamente e pretende amenizar o nervosismo que ameaça dominar os negócios domésticos nesta terça-feira, devido ao clima tenso no exterior nesta véspera de divulgação da ata da reunião de política monetária do Federal Reserve, realizada em julho.
A expectativa entre os agentes financeiros é de que o documento do Fed apresente na quarta-feira, 21, novas pistas sobre o momento do início da redução dos estímulos à economia dos Estados Unidos.
No esforço interno para aplacar os ânimos dos investidores, o BC faz nesta terça-feira, 20, pela manhã, dois leilões de venda conjugada com compra de dólares no valor total de até US$ 4 bilhões e também realizará um leilão de até 20 mil contratos de swap (US$ 1 bilhão), referente à terceira tranche de rolagem do próximo vencimento de US$ 5,04 bilhões em swap cambial em 2 de setembro.
Além disso, o Tesouro faz leilão extraordinário de recompra de até 2 milhões de LTN e até 2 milhões de NTN-F, ambos títulos prefixados. Com a recompra desses papéis, o Tesouro repassa liquidez ao mercado a fim de aliviar a pressão sobre as taxas futuras de juros.
Pelo menos na abertura dos negócios, a previsão desses leilões ajuda a dissipar a pressão nesses dois mercados. O dólar à vista no balcão abriu nesta terça-feira, 20, em queda, cotado a R$ 2,40 (-0,58%). Até 9h28, a moeda à vista oscilou de R$ 2,3880 (-1,08%) a R$ 2,4030 (-0,46%).
Os juros futuros também recuam nos vencimentos de curto e longo prazos. No mercado futuro de câmbio, no horário acima, o contrato de dólar com vencimento em 1º de setembro de 2013 recuava a R$ 2,3995 (-0,87%).
Esse vencimento já oscilou hoje entre uma mínima de R$ 2,3960 (-1,03%) e uma máxima, de R$ 2,4090 (-0,50%). A taxa de abertura desse contrato foi a R$ 2,4080 (-0,54%).
A perspectiva dessa nova atuação conjuntura já desvia o câmbio interno da valorização exibida hoje pelo dólar ante outras moedas correlacionadas a commodities no exterior. Na segunda-feira, 19, porém, as intervenções do BC e do Tesouro apenas ajudaram a aliviar a pressão de alta sobre o câmbio e os juros.
O dólar no balcão fechou a segunda-feira com alta de 0,92%, cotado a R$ 2,4140. E a moeda dos EUA com vencimento em setembro no mercado futuro avançou 0,81%, a R$ 2,4210, mesmo depois de três leilões de swap do BC e uma operação extraordinária de recompra de títulos do Tesouro.
O ajuste do dólar ante o real ontem ocorreu devido ao resultado negativo da balança comercial e à desconfiança em relação à economia brasileira, segundo os agentes de câmbio ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.
O reflexo do dólar mais valorizado é sentido diretamente pelos juros futuros, que vêm contando ainda com a pressão sobre as taxas dos Treasuries para avançarem.
O estrategista-chefe do banco Mizuho do Brasil, Luciano Rostagno, disse hoje que essas atuações programadas do BC e Tesouro tendem a amenizar o movimento do câmbio e dos juros futuros nesta terça-feira. Contudo, as intervenções podem ser insuficientes para reverter a tendência mundial de valorização do dólar, afirmou o estrategista.
Para Rostagno, o alerta, ontem, do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, sobre o risco da aposta na queda do real, pode pesar hoje sobre a parte curta da curva a termo de juros. "As declarações de Tombini foram bastante claras de que o BC não pretende acelerar o movimento de alta dos juros.Com isso, deve haver um ajuste para baixo da parte curta de juros futuros", previu mais cedo hoje.
Já a parte longa pode voltar a ser pressionada, se o dólar subir, disse o estrategista, citando que neste caso o ajuste poderia ser mais moderado porque os juros dos treasuries norte-americanos estão em queda nesta manhã. "A parte longa da curva de juros poderia continuar agregando prêmios, desde que o movimento do câmbio seja de valorização", avaliou.
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, fez um alerta ontem à noite sobre os riscos dos investidores concentrarem suas apostas na alta do dólar, uma vez que a cotação pode virar, impondo perdas a quem agiu de forma "unidirecional". O chefe do Comitê de Política Monetária (Copom) também identificou que "os movimentos recentemente observados nas taxas de juros de mercado incorporam prêmios excessivos". As taxas de juros no mercado futuro, que tentam antecipar o comportamento do BC, estariam altas demais.
Ao mesmo tempo, a autoridade monetária confirmou que não deixará o mercado sem proteção, ou "hedge" no jargão financeiro, como vem fazendo nos últimos meses. Em nota, Tombini disse ainda que, "se necessário", o Banco Central poderá oferecer "liquidez aos diversos segmentos do mercado", mas não mencionou diretamente o eventual uso das reservas internacionais, que ontem somavam US$ 373,95 bilhões.
Diante do impacto do dólar na inflação, Tombini apontou que "a adequada condução da política monetária contribui para mitigar riscos para a inflação, a exemplo dos oriundos da depreciação cambial". "Em relação à taxa de câmbio, o presidente reitera que o BC está atento ao processo de realinhamento global das moedas", assinalou Tombini.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, por sua vez, afirmou que o patamar atual de câmbio pode ter impacto sobre inflação. Segundo ele, a realidade mudou a partir de maio, com o Fed ameaçando retirar estímulos. Mantega disse que parte da volatilidade cambial é influenciada pela sucessão no Federal Reserve.
Mas, segundo o ministro, o Tesouro está agindo para mitigar excessos, com leilões. "O governo não tolera inflação acima da meta", afirmou. Nesse sentido, Mantega garantiu que a posição do governo é de continuar reforçando a parte fiscal e caminhar para um resultado fiscal sólido.