Eike Batista: empresário ainda possui participação relevante em duas companhias listadas na B3: MMX e OSX (Wilson Dias/Agência Brasil)
Guilherme Guilherme
Publicado em 14 de outubro de 2020 às 18h54.
Última atualização em 14 de outubro de 2020 às 22h41.
As ações da mineradora MMX sofreram um forte revés nesta quarta-feira, 14, e fecharam em queda de 52,78%. Os papéis da companhia, que tem o empresário Eike Batista como um dos principais acionistas, vinham ganhando os holofotes do mercado, após acumularem alta de 1867% nos últimos cinco pregões.
A disparada dos papéis da companhia teve início pouco após a empresa emitir um fato relevante em que informou sobre o pedido feito na Justiça para retomar a Mina Emma ao patrimônio e exploração da MMX. Ainda no fato relevante, a companhia afirmou que, caso obtenha sucesso na tentativa, “será possível viabilizar de forma ainda mais consistente a recuperação judicial” e potencializar a capacidade da empresa para a produção e venda de minério de ferro.
Mas apesar das intenções da MMX e da forte valorização de suas ações, o mercado vê com ceticismo tanto o discurso da empresa quanto sua alta na bolsa. Gustavo Akamine, analista fundamentalista da Constância Investimentos, define a recente volatilidade dos papéis como um “forte movimento especulativo”.
“Dado o provável baixo valor residual, as empresas [de Eike] têm um baixo valor de mercado e baixo volume financeiro de negociação. O cuidado ao investir em ações de liquidez extremamente baixa deve ser redobrado, pois muitos casos de manipulação ocorreram no passado, justamente por volumes menores de dinheiro serem suficientes para alterar significativamente o preço das ações.”
De acordo com dados da Economatica, no mês, a média do volume diário de negociação das ações da MMX era de 24,374 milhões de reais até o fim do pregão de terça-feira, 13. O montante é 143,276% superior à média do volume diário de negociação de setembro, que foi de 17.000 reais.
A forte disparada seguida de uma queda brusca também foi observada nas ações da OSX, que, assim como a MMX, tem Batista no corpo de acionistas relevantes. Depois de acumularem apreciação de 353,56% desde quarta-feira, 7, elas encerraram o pregão desta quarta em queda de 25%.
Paulo Henrique Duarte, sócio da Valor Investe, conta que esses movimentos correlacionados ocorriam com frequência no auge do empresário, por mais que os negócios das empresas fossem descorrelacionados. Nos últimos dias, nem mesmo a Dommo (antiga OGX), que não tem mais Batista entre os principais acionistas, ficou de fora da forte volatilidade. Nesta quarta, as ações da companhia chegaram a subir mais de 50%, mas encerraram o pregão em queda de 10%, cotadas a 1,42 real. Tanto a Dommo como a OSX e a MMX se encontram em recuperação judicial.
“[As ações da Dommo] deram uma esticada, mas seguindo o mesmo racional das outras empresas. É claramente um movimento especulativo”, afirma Duarte, que recorda a prática antiga do empresário.
“Lá atrás, ele usava regulamente fatos relevantes e informações vazadas para investidores para deixar as empresas dele em evidência. Numa altura dessas já era para os investidores terem entendido que Eike [Batista] consegue contar uma história bonita para valorizar os papéis dele.” Em junho deste ano, o empresário foi condenado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a oito anos de prisão em regime semiaberto por manipulação de mercado. A decisão levou em conta a divulgação de falsas informações sobre o potencial de extração de petróleo da OGX.
Duarte também explica que o movimento de queda desta quarta pode estar atrelado a um movimento técnico do mercado, com a maior disponibilidade de ações para fazer a venda a descoberto — em que se busca ganhar com a queda do preço do ativo. “Para fazer isso precisa alugar as ações de quem tenha o papel e, na semana passada, não tinha estoque disponível dessas ações, mas hoje começou a ter disponibilidade. Aí acontece o que estamos vendo, mostrando que foi uma alta descolada de qualquer fundamento.”