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Minerva volta a captar após liderar na renda fixa

A confiança dos investidores na empresa cresceu depois que a alta nos preços da carne bovina levou seus lucros a um patamar recorde

Os títulos da Minerva tiveram o melhor desempenho entre papéis brasileiros (Divulgação)

Os títulos da Minerva tiveram o melhor desempenho entre papéis brasileiros (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 23 de março de 2012 às 06h33.

Nova York - O Minerva SA, terceiro maior frigorífico do País, voltou ontem ao mercado internacional de dívida depois que um salto de 37 por cento no lucro e a melhora de sua nota de crédito levaram os títulos da empresa a terem o melhor desempenho entre papéis brasileiros.

A empresa captou US$ 100 milhões com nova emissão de títulos de vencimento em 2022 a uma taxa de 10,62 por cento, menos de dois meses depois de levantar US$ 350 milhões com os mesmos títulos a 12,62 por cento. A queda de 145 pontos-base no rendimento dos papéis nos últimos 30 dias é a maior para uma empresa brasileira. O rendimento médio de títulos de empresas de alimentos, bebidas e cigarros de todo o mundo e com classificação abaixo do grau de investimento caiu três pontos- base, ou 0,03 ponto percentual, no mesmo período, para 6,76 por cento, de acordo com dados do Bank of America Corp.

A confiança dos investidores no Minerva cresceu depois que a alta nos preços da carne bovina levou seus lucros a um patamar recorde e a companhia melhorou sua posição financeira com a captação de fevereiro. A Standard & Poor’s elevou a nota de crédito da companhia, com sede em Barretos, depois que os recursos da captação externa foram usados para alongar o perfil da dívida e elevar o caixa a um nível suficiente para cobrir todas as obrigações do Minerva até 2017. A JBS SA, maior frigorífico do mundo, divulgou em 21 de março um lucro abaixo das estimativas dos analistas.

“O Minerva tem a melhor administração no setor frigorífico”, disse Luiz Campos, que ajuda a administrar US$ 800 milhões em títulos corporativos de mercados emergentes na Dinosaur Securities Inc. em São Paulo, em entrevista por telefone. “Eles não estão pensando tão grande. Não estão endividando a companhia e a palavra é confiança. O Minerva dá aos investidores mais confiança que seus concorrentes.”

Disparada do lucro

Os títulos do Minerva pagam 754 pontos-base a mais do que papéis do governo brasileiro de prazo similar, comparado a uma diferença de 891 pontos há um mês, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A companhia tem classificação B+ na escala da Standard & Poor’s, quatro níveis abaixo do grau de investimento e cinco abaixo da nota soberana do País.

A alta de 9,3 por cento no preço da carne bovina colaborou para elevar o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, ou Ebitda, do Minerva para R$ 116 milhões no quarto trimestre, comparado a R$ 85 milhões um ano antes. A margem Ebitda também se ampliou para 10,7 por cento, a maior desde 2006.

A assessoria de imprensa do Minerva não quis fazer comentários para esta reportagem.

A JBS, sediada em São Paulo, apresentou lucro líquido de R$ 25,6 milhões no quarto trimestre. A previsão média de sete estimativas de analistas numa pesquisa da Bloomberg era de lucro líquido ajustado de R$ 189,9 milhões para o período.

A divisão de aves da JBS nos Estados unidos teve “um ano horrível”, disse o presidente Wesley Batista ontem.


A relação entre a dívida líquida e o lucro do Minerva caiu para 4,7 vezes em dezembro e pode recuar para 3,2 vezes até o quarto trimestre de 2012, de acordo com o Barclays Plc, que recomendou os bônus da empresa aos investidores em 24 de fevereiro.

‘Altamente positiva’

“A empresa vai continuar melhorando sua alavancagem gradualmente este ano com o aumento do Ebitda”, disse Reginaldo Takara, analista da S&P em São Paulo, em entrevista por telefone. “A forte demanda por carne bovina aliada à maior disponibilidade de gado é uma combinação muito positiva.”

Para Isabela Bacchi, analista do JPMorgan Chase & Co., a disparada dos títulos do Minerva significa que não há mais espaço de valorização para os papéis.

“A maior parte das notícias positivas já está precificada neste momento”, escreveu Isabela em relatório em 6 de março. “Para investidores que ainda não estão envolvidos, não vemos pressa para comprar nos níveis atuais e esperaríamos por um recuo como oportunidade para comprar novamente.”

Isabela Bacchi não respondeu a um pedido de comentário feito por e-mail.

As ações do Minerva acumulam uma alta de 32 por cento este ano, em comparação com um ganho de 16 por cento para o Ibovespa. As ações da JBS caíram 25 por cento desde o início do ano.

‘Muita sorte’

Investidores estão recompensando o Minerva pela decisão de se concentrar nas margens da unidade de bovinos, enquanto concorrentes como a JBS se expandiram em países como a Argentina, disse Richard Segal, estrategista de crédito para mercados emergentes no Jefferies Group Inc.

“Estamos perdendo dinheiro na Argentina”, disse Batista, da JBS, ontem.

A JBS disse que a unidade na Argentina teve prejuízo após o fechamento da planta de Venado Tuerto no ano passado devido a restrições do governo a exportações e a indenizações trabalhistas. Os preços e os limites às exportações fizeram com que a unidade deixasse de ser lucrativa, disse a empresa em janeiro.

“O Minerva teve muita sorte por não se diversificar na Argentina ou no setor de aves como seus principais concorrentes”, disse Segal em entrevista por telefone de Londres. “Eles se mantiveram no negócio principal de carne bovina e, enquanto seus concorrentes tiveram que enfrentar dificuldades com consolidação, eles se concentraram nas margens. As taxas caíram muito no último mês, mas ainda há espaço para mais melhora.”

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