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Mercado discute substituição do juro de referência nos EUA

O banco central americano tenta fortalecer o controle sobre os juros de curto prazo nos EUA

Jerome Powell: Presidente do Fed planeja realizar entrevistas coletivas com a imprensa após cada uma das oito reuniões anuais (Yuri Gripas/Reuters)

Jerome Powell: Presidente do Fed planeja realizar entrevistas coletivas com a imprensa após cada uma das oito reuniões anuais (Yuri Gripas/Reuters)

Júlia Lewgoy

Júlia Lewgoy

Publicado em 11 de dezembro de 2018 às 15h55.

Começou o debate para substituir a taxa de juros de referência do banco central americano.

Diante da queda dos volumes e de poucos agentes dominando o mercado de fed funds, o Federal Reserve iniciou discussões sobre referências alternativas, tentando fortalecer o controle sobre os juros de curto prazo nos EUA.

Nas últimas semanas, essas deliberações foram deixadas de lado, em vista de especulações sobre uma mudança na trajetória de aperto monetário e sobre o destino do balanço patrimonial da instituição, que soma US$ 4,1 trilhões. Porém, essas discussões podem ter consequências dramáticas para os mercados financeiros. Integrantes do comitê de política monetária (Federal Open Market Committee ou FOMC) apresentaram duas potenciais alternativas na reunião do mês passado — e não poderiam ser mais distintas. Alguns estrategistas esperam uma virada na meta para a política monetária já no ano que vem.

“O Fed sabe que a taxa fed funds tem defeito”, disse Mark Cabana, estrategista-chefe de juros nos EUA do Bank of America. “Provavelmente defeito fatal na cabeça deles e na cabeça do mercado.”

Para a maioria, fed funds é sinônimo de meta de juros do banco central, mas é bem mais do que isso. É um mercado no qual instituições financeiras concedem empréstimos overnight entre si, tirando das reservas que mantêm em depósito junto ao banco do Federal Reserve em Nova York – o que garante o cumprimento das exigências de reservas.

Antes da crise financeira, o Fed usava operações no mercado aberto para manipular a disponibilidade de reservas a serem emprestadas a cada dia, a fim de controlar a taxa efetiva fed funds – e mais amplamente os juros de curtíssimo prazo nos EUA. Contudo, a dinâmica mudou quando medidas de estímulo quantitativo adotadas para proteger a economia criaram gigantescas reservas, diminuindo a necessidade das instituições de acessar liquidez interbancária.

Novas leis deram ao Fed capacidade de pagar a algumas instituições — mas não todas — juros sobre reservas excedentes depositadas junto ao banco central. Quem ficou de fora emprestava abaixo dessa taxa, criando oportunidade de arbitragem para firmas capazes de tomar empréstimo a juro próximo ao juro efetivo sobre reservas excedentes e deixar o dinheiro rendendo no banco central, embolsando o diferencial.

O início da reversão das posições do balanço patrimonial do Fed começou a retirar liquidez do sistema financeiro, sugerindo que as reservas podem voltar a ficar escassas. Além disso, a disparada das emissões de títulos do Tesouro americano – e consequente aumento dos rendimentos – contribuiu para a elevação de outros juros de curto prazo, especialmente no mercado de notas compromissadas.

À medida que esses ativos de curto prazo ficaram mais atraentes do que o empréstimo de reservas para outros bancos, a disponibilidade de recursos diminuiu, pressionando a taxa fed funds para cima. Isso forçou autoridades a tomar providências sem precedentes para tentar trazer a taxa de volta para o meio do intervalo da meta do banco central. Não só isso, as oportunidades de arbitragem foram eliminadas, reduzindo ainda mais o volume.“O mercado de fed funds não é mais um mercado de verdade”, disse Scott Skyrm, da corretora Curvature Securities. “Era um mercado enorme no qual os bancos emprestavam dinheiro entre si, agora restaram somente os bancos focados em financiamento da casa própria.”

Na reunião realizada nos dias 7 e 8 de novembro, integrantes do Fed sugeriram que a taxa overnight de financiamento bancário (Overnight Bank Funding Rate) poderia substituir a fed funds como meta da política monetária.

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