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Menor captação de fundos se torna desafio para agenda de IPOs

Ingresso líquido em fundos de ações cai 85% em 12 meses, ao mesmo tempo em que investidor estrangeiro reduz presença em ofertas iniciais

Cerimônia de estreia da Viveo na B3, após ação ser precificada no piso da faixa indicativa | Foto: Cauê Diniz/B3 (Cauê Diniz/B3/Divulgação)

Cerimônia de estreia da Viveo na B3, após ação ser precificada no piso da faixa indicativa | Foto: Cauê Diniz/B3 (Cauê Diniz/B3/Divulgação)

GG

Guilherme Guilherme

Publicado em 15 de agosto de 2021 às 08h05.

Última atualização em 15 de agosto de 2021 às 10h03.

O mercado de capitais brasileiro atravessa o período mais aquecido de abertura de capital de empresas de sua história. Somente neste ano até o mês de agosto foram mais de 40 ofertas públicas iniciais (IPOs, na sigla em inglês), com o volume movimentado estabelecendo um novo recorde de mais de 60 bilhões de reais. Considerando as emissões de empresas já listadas (follow ons), as ofertas de ações já superam os 100 bilhões de reais no ano. 

É um momento inédito com implicações para o mercado. Com a reduzida participação de investidores estrangeiros nas ofertas iniciais, são fundos de investimento nacionais que assumiram o protagonismo da janela de IPOs pelo lado da demanda. A participação de estrangeiros nas ofertas iniciais vem caindo desde 2019, segundo dados da B3

Em 2018, a média de participação de estrangeiros por oferta pública inicial foi de 58,7% do volume negociado. No ano seguinte, esse percentual caiu para 35%; em 2020, para 29%; e, até maio deste ano, estava em 26%. Nesse período, na contramão, a participação média dos fundos nacionais nas ofertas passou de 31% para 59,7%. 

“O mercado local cresceu e está mais relevante. Mas também houve desinteresse por parte do investidor estrangeiro, que passou a optar por outros mercados emergentes, como o indiano e o chinês”, diz Francisco Kops, gestor de renda variável da Asset 1. Incertezas fiscais e instabilidade política estão entre os principais fatores que afastam o investidor estrangeiro do país. 

A dependência crescente de gestoras locais nos IPOs, porém, pode começar a cobrar seu preço por uma razão indireta. Em um ambiente de crescente atratividade da renda fixa por causa da alta da taxa Selic e de desempenho mais fraco da bolsa nos últimos meses, a captação líquida da indústria de fundos de ações perdeu força. 

Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), a captação líquida acumulada nos 12 meses encerrados em julho foi de 15,2 bilhões de reais. É um volume 86,4% abaixo do registrado no mesmo período de 2020, quando a soma estava em 111,8 bilhões de reais. Neste ano, o ingresso líquido (captações menos resgates) de recursos para fundos de ações está positivo em apenas 794 milhões de reais. 

Fundos multimercados, que eventualmente entram em IPOs, também reduziram seu volume de captação. Na comparação anual do acumulado de 12 meses, em julho, a queda foi de 18,6% para 82,7 bilhões de reais. 

“Essa onda de IPOs pode não ocorrer da maneira como está prevista”, afirma Cláudia Yoshinaga, coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da FGV-EAESP. Na CVM (Comissão de Valores Mobiliários), ao menos 20 empresas têm pedidos de IPO em análise, como a rede de restaurantes Madero e a rede de academias low cost Bluefit.

  

“Já começamos a ver sinais de saturação nas ofertas", afirma Matheus Spiess, analista da casa de análises Empiricus (do mesmo grupo que controla a EXAME). Dos últimos cinco IPOs, quatro saíram no piso ou abaixo da faixa indicativa de preços e uma empresa desistiu da operação. “No contexto de menor captação, faltam recursos para participar de tudo.”

Diante da participação reduzida de estrangeiros, Kops, da gestora Asset 1,  diz acreditar que a menor captação dos fundos locais pode ser um “grande problema” para as empresas que pretendem se listar na bolsa. 

“Não há grande entrada de dinheiro novo e o investidor institucional está lotado de empresas novas no portfólio, sendo que muitas ainda não maturaram suas teses. A questão é achar espaço na carteira.”

Com o volume de ofertas iniciais superando o de captações, fundos que quiserem entrar em IPOs futuros podem ser "obrigados" a se desfazer de ativos que estão no portfólio. “Tivemos uma janela de ofertas bastante ativa, que influenciou bastante o preço das ações”, diz Kops.

Ainda que veja espaço para boas histórias de empresas estreantes, o gestor acredita que a tendência é a barra de exigência do mercado aumentar. “A competição por capital vai ser cada vez maior, dado que quase não há dinheiro entrando na indústria.”

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