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Maioria das ações globais é um fiasco, mostra estudo

Total da riqueza gerada depende de retornos gigantescos de algumas poucas empresas

Ações (Kanok Sulaiman/Getty Images)

Ações (Kanok Sulaiman/Getty Images)

TL

Tais Laporta

Publicado em 17 de julho de 2019 às 18h30.

Última atualização em 17 de julho de 2019 às 18h30.

Há dois anos, um professor da Universidade do Estado do Arizona chamou muito a atenção com um estudo segundo o qual toda a riqueza criada pelo mercado acionário nos Estados Unidos é resultado de ganhos de um grupo de empresas estranhamente pequeno. Agora, o professor está de volta com uma atualização, onde mostra que a situação não é melhor no resto do mundo.

Hendrik Bessembinder, um pesquisador em design de mercados financeiros de 62 anos, e sua equipe analisaram cerca de 62 mil ações negociadas em mais de 40 países entre 1990 e 2018. Suas descobertas: cerca de 60% eram um total fiasco, com desempenho pior que os títulos de um mês do Tesouro dos EUA. A proporção foi ainda maior do que o estudo inicial, que se concentrou nos EUA.

As descobertas têm implicações para tudo, desde a criação de riqueza até a matemática que mede a habilidade dos investidores, mas o debate ativo-passivo recebeu maior atenção. Como lucros altos são muito raros e, ao mesmo tempo, muito cruciais para o retorno total, isso ajuda a explicar por que os chamados stock pickers encontram dificuldade para acompanhar os índices.

"Historicamente, é norma nos EUA e em todo o mundo que algumas empresas com melhor desempenho tenham grande influência sobre como o mercado funciona globalmente", disse Bessembinder, professor da Escola de Negócios W.P. Carey, em entrevista por telefone. "É a norma, e espero que seja o caso no futuro".

Embora o mercado acionário como um todo tenha gerado mais de US$ 44 trilhões para acionistas entre 1990 e 2018 e superado os títulos do Tesouro, o total depende de retornos gigantescos e compostos de algumas poucas empresas, diz o relatório.

Sozinhas, Apple, Microsoft, Alphabet, dona do Google, Amazon.com e Exxon Mobil representaram mais de 8% da criação líquida global de riqueza durante o período. A maior parte das outras empresas gerou riqueza negativa.

E é fácil ver sua grande influência: Microsoft, Apple, Amazon.com e Facebook respondem por mais de 20% dos retornos do S&P 500 este ano. Esse número é ainda mais acentuado no Nasdaq 100, com maior peso do setor de tecnologia, por exemplo, onde essas quatro empresas respondem por cerca de 50% dos ganhos.

Mas Bessembinder e sua equipe, incluindo dois coautores da Universidade Politécnica de Hong Kong e Goeun Choi, da Universidade do Estado do Arizona, estão entre os primeiros que observam o fenômeno a longo prazo. As 306 empresas com melhor desempenho representaram cerca de três quartos da criação de riqueza líquida global durante o período de 28 anos do estudo. Apenas 811 empresas poderiam ser enquadradas como responsáveis por tudo isso.

As descobertas confirmam estudos anteriores de Bessembinder. Ao analisar quase nove décadas de desempenho dos títulos e ações dos EUA, o professor descobriu que, de 26 mil ações, cerca de 58% apresentavam desempenho inferior aos títulos do Tesouro durante sua vida útil.

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