Maior fundo do mundo passa a vender ações da Petrobras
Indefinições sobre a capitalização e desastre da BP tiraram a atratividade dos papéis da estatal
Da Redação
Publicado em 22 de julho de 2010 às 18h29.
São Paulo - Ao contrário do que muitos gestores e investidores têm feito nos últimos meses, a Black Rock, maior gestora de fundos do mundo, está vendendo as ações da Petrobras (PETR3); (PETR4). "As regras desta megaoperação ainda estão indefinidas. Não está na hora de ser agressivo com os papéis", dispara o gestor do fundo para América Latina, Will Landers. O fundo tem 8 bilhões de dólares em ações da região e cerca de 8% em papéis da estatal brasileira de petróleo.
Os papéis da Petrobras têm sido influenciados, desde o início do ano, por uma avalanche de notícias desencontradas a respeito do processo de capitalização da estatal. A estimativa é de que a empresa poderia captar entre 50 e 80 bilhões de dólares. Parte desse valor viria de uma nova emissão de ações de aproximadamente 25 bilhões de dólares. A operação está atrelada à um acordo de compra de direitos de exploração de até 5 bilhões de barris do governo com ações.
A oferta depende da definição do valor de cada barril na chamada "cessão onerosa". Para encontrar um preço, a Petrobras contratou a consultoria DeGolyer & MacNaughton. Entretanto, na lei da capitalização, exige-se um segundo laudo independente, esse feito pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). Para isso, a agência contratou a Gaffney, Cline & Associates. A estimativa é de que a empresa conclua o trabalho até o final de agosto.
Landers falou ao Site Exame sobre as variáveis que têm afetado as ações da estatal, além de outras oportunidades de investimentos na bolsa brasileira e as suas expectativas para a economia mundial. Confira os principais trechos da entrevista:
Por que a Black Rock está vendendo as ações da Petrobras?
A Petrobras não deixou de ser uma posição importante em nosso fundo porque é a maior ação da região, com cerca de 8%. Esse peso a mais estamos direcionando para outros setores relacionados à economia doméstica, como o de bancos, construtoras e consumo. As regras desta megaoperação ainda estão indefinidas. Ainda não sabemos o preço do barril. Será 5,6, ou 7 dólares? E cada dólar faz uma grande diferença sobre o quanto precisarei pagar a mais para não ser diluído na nova oferta de ações.
Além disso, se o laudo da ANP não sair até agosto, só sai em setembro. Então as eleições poderão atrapalhar porque alguns investidores estrangeiros não vão querer participar durante o período eleitoral. Não é o nosso caso, mas quem não pensa sobre o Brasil 24 horas por dia poderá evitar. Não está na hora de ser agressivo com os papéis da Petrobras.
Mas as ações não estão baratas em relação às outras companhias do setor no mundo?
Isso até poderia ser verdade antes do vazamento de óleo da BP no Golfo do México. No preço de hoje não está mais atrativo. Na realidade, há até um prêmio. Se você quer atrair dinheiro novo dos investidores globais de petróleo, o preço da operação precisará estar atrativo em relação às outras companhias de petróleo do mundo. Estamos ainda, no mínimo, dois meses antes da operação. A Petrobras, depois da capitalização, não deixa de ser uma das mais atrativas no mundo de petróleo. Mas o da operação vai segurar o preço da ação.
E agora, fora da Petrobras, como escolher as ações do setor de consumo? Muitos papéis já subiram bastante com o apelo do crescimento doméstico. Como fazer um bom stockpicking?
O nosso trabalho sempre é o de stockpicking. Olhamos hoje o Brasil com um P/L atrativo de 9,5 vezes para 2011. Continua a ser um dos países mais baratos e líquidos do mundo. Itaú, Bradesco e Banco do Brasil estão com múltiplos atrativos. O Itaú hoje é uma das maiores posições do nosso fundo nessa parte de consumo. Temos Bradesco e, menor escala, o Banco do Brasil. Também preferimos a mineração em relação ao aço. Vemos a Vale com performance forte, e sendo a companhia com a menor custo de produção e melhor qualidade. Nas empresas de varejo temos posições menores. Mesmo com algumas ações com os preços próximos dos níveis mais altos em 12 meses, ainda vemos potencial para quando o mercado começar a digerir que o Banco Central está perto do final do ciclo de aperto monetário.
O debate sobre um novo mergulho (Double dip) da economia mundial voltou ao foco. Como o Sr. vê essa questão?
O que aprendemos nos últimos dois a três anos é que tudo é possível. Porém vemos alguns resultados animadores. Os números da Apple nesta semana mostram que o consumidor está disposto a comprar produtos bons. Não acreditamos em um double dip, mas sim que alguns setores nos EUA e na Europa andem mais devagar. Por outro lado, China, Brasil e Índia estão tentando frear a taxa de crescimento. Neste cenário o Brasil se destaca. Temos exportações bastante voltadas para os países em crescimento e estamos alinhados com o desenvolvimento da economia doméstica.