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Lava Jato pune construtoras com prejuízos nos bonds

Notas emitidas pela OAS e pela Odebrecht sofreram os maiores prejuízos de que se tem registro desde 14 de novembro


	Obras da Odebrecht: o montante de US$ 1,6 bilhão em bonds da empresa com vencimento em 2022 perdeu 4,4%
 (Divulgação/Odebrecht)

Obras da Odebrecht: o montante de US$ 1,6 bilhão em bonds da empresa com vencimento em 2022 perdeu 4,4% (Divulgação/Odebrecht)

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Da Redação

Publicado em 19 de novembro de 2014 às 13h48.

São Paulo - A investigação cada vez maior de suborno no Brasil está engolindo as maiores empresas de construção do país e levando alguns detentores de bonds a fugir.

Notas emitidas pela OAS SA e pela Odebrecht SA sofreram os maiores prejuízos de que se tem registro desde 14 de novembro, quando o delegado da Polícia Federal Igor Romário de Paula disse que a polícia tinha encontrado “fortes evidências” de que pelo menos sete construtoras formaram um cartel para ganhar contratos públicos, incluindo um total combinado de R$ 59 bilhões (US$ 23 bilhões) em pedidos da empresa estatal Petróleo Brasileiro SA, a Petrobras.

A polícia anunciou 27 mandados de prisão e realizou 11 buscas em escritórios, inclusive nos da OAS e da Odebrecht, segundo comunicados da polícia. Um tribunal federal no estado do Paraná divulgou uma lista de 25 mandados de prisão no mesmo dia.

As investigações estão ampliando a preocupação de que as construtoras terão os contratos com o governo, dos quais dependem, interrompidos se forem consideradas culpadas por algum delito, disse Joe Kogan, estrategista de mercados emergentes do Bank of Nova Scotia.

A investigação cada vez mais ampla surge um mês depois de o Departamento de Justiça disponibilizar um vídeo no qual o ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, alegou que as construtoras formavam um cartel para superfaturar projetos e desviar dinheiro para políticos.

“As sanções para essas empresas por estarem envolvidas nessas acusações podem ser altas”, disse Kogan, por telefone, de Londres.

“É difícil dizer como a situação irá evoluir e pode demorar anos até que uma decisão final seja tomada, mas há algumas preocupações sérias sobre como os contratos podem ser rearranjados. Estamos recebendo muitos telefonemas de investidores”.

Queda da Odebrecht

A assessoria de imprensa da Odebrecht disse que o desempenho dos bonds da empresa está em linha com o de outras notas comparáveis.

Em um comunicado separado, na semana passada, a Odebrecht disse que a polícia buscou documentos relacionados à Petrobras em seus escritórios do Rio de Janeiro, sem realizar prisões.

O montante de US$ 1,6 bilhão em bonds da empresa com vencimento em 2022 perdeu 4,4 por cento, para 96,6 centavos de dólar, desde 14 de novembro, quando atingiram o nível mais baixo desde que foram emitidos, em junho de 2013.

Isso contrasta com uma queda média de 0,22 por cento nos mercados emergentes.

A assessoria de imprensa da OAS preferiu não comentar sobre os bonds da empresa. Em outro comunicado, no dia 14 de novembro, a OAS disse que havia entregado todas as informações e documentos exigidos pela Polícia Federal e que faria o que fosse necessário para cooperar com a investigação.

O montante de US$ 875 milhões em notas da empresa com sede em São Paulo com vencimento em 2019 caiu 31,5 por cento, para 64,99 centavos de dólar, o nível mais baixo desde que foram emitidas, em outubro de 2012.

A Moody’s alterou sua perspectiva para o rating B1 da OAS de estável para negativo, ontem, citando “a percepção de um risco operacional maior logo após as acusações que envolvem seus principais executivos”.

Lava Jato

A assessoria de imprensa da Queiroz Galvão SA, que tem sede no Rio de Janeiro, preferiu não comentar sobre os bonds da empresa. Em um comunicado em 14 de novembro, a firma disse que todos os seus contratos estão dentro da lei.

O montante de US$ 700 milhões em bonds da QGOG Constellation SA com vencimento em 2019 caiu 8,4 por cento, para 88,82 centavos de dólar, desde 14 de novembro. A QGOG é controlada pela Queiroz Galvão S.A.

A OAS, a Odebrecht e a Queiroz Galvão têm contratos para construção e fornecimento para a refinaria Abreu e Lima, o maior projeto de infraestrutura, com valor de US$ 18,5 bilhões, dentro do caso multibilionário de lavagem e corrupção conhecido como Lava Jato.

Se forem identificadas práticas impróprias nos contratos, elas deverão ser corrigidas, disse José Miranda Formigli, diretor de exploração e produção da Petrobras, no dia 17 de novembro, durante uma teleconferência com investidores.

A Petrobras, que teve sua divulgação de balanço atrasada em função da investigação, está criando uma diretoria de compliance para melhorar a governança corporativa, disse a presidente da empresa, Maria das Graças Foster, no mesmo dia.

‘Processo doloroso’

A Petrobras está passando por um “processo doloroso”, disse ela. A assessoria de imprensa da empresa preferiu não fazer mais comentários.

As construtoras envolvidas na investigação da Petrobras também têm contratos para construir e fornecer equipamentos para praticamente todos os grandes projetos do governo, segundo Bernardo Rodarte, que gerencia R$ 1 bilhão na Sita Corretora.

A Queiroz Galvão faz parte do consórcio que está construindo a Belo Monte, complexo hidrelétrico de R$ 30 bilhões no rio Xingu, no estado do Pará.

Construtoras das Olimpíadas

A Odebrecht compõe o grupo de empresas responsável por construir uma das usinas do complexo hidrelétrico do rio Madeira, que deverá ser o terceiro maior do Brasil.

Muitas das construtoras que estão sendo investigadas também estão participando das construções para os Jogos Olímpicos de 2016 no Brasil.

“As acusações feitas por Costa podem desencadear investigações que podem fazer com que as empresas percam seus lucrativos contratos com o governo”, disse Rodarte, por telefone, de Belo Horizonte.

O acordo de redução de sentença de Costa proíbe que ele e seus advogados comentem as investigações. O Ministério Público não respondeu a e-mails com pedidos de comentário.

Se as construtoras forem consideradas culpadas, elas serão proibidas de participar de futuros leilões de contratos do governo federal, disse Camila Abdelmalack, economista da corretora CM Capital Markets.

“Considerando que uma grande parte de suas receitas vem desses projetos, esse é um problema muito sério”, disse Abdelmalack, por telefone, de São Paulo.

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