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IPO da Locaweb está caro e investidor deve ficar de fora, dizem analistas

Ações devem ser comercializadas dentro da faixa indicativa de R$ 14,25 e R$ 17,25; analistas consideram o preço elevado

Locaweb: ações de empresa de serviços de internet começarão a ser negociados na quinta-feira (6) (Locaweb/Instagram/Divulgação)

Locaweb: ações de empresa de serviços de internet começarão a ser negociados na quinta-feira (6) (Locaweb/Instagram/Divulgação)

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Guilherme Guilherme

Publicado em 31 de janeiro de 2020 às 07h00.

Última atualização em 31 de janeiro de 2020 às 12h39.

São Paulo - A carência de empresas de tecnologia na B3 está prestes a ser atenuada com a oferta inicial de ações (IPO em inglês) da Locaweb. Com abertura de capital marcada para o início de fevereiro, o grupo de hospedagem de sites e serviços de internet pretende arrecadar dinheiro suficiente para colocar em prática seus planos de crescimento por meio de aquisições. O período de reserva para participar da estreia da Locaweb na Bolsa vai até a próxima segunda-feira (3).

Embora a injeção de recursos possibilite uma expansão mais vertiginosa, as casas de análise foram unânimes ao desaconselharem a entrada de seus clientes no IPO. 

Na operação, as ações da Locaweb serão negociadas dentro da faixa indicativa de 14,25 reais e 17,25 reais. Considerando o valor médio, o IPO deve levantar cerca de 944 milhões de reais. Desse total, 55,61% serão destinados ao caixa da empresa, enquanto o restante irá para o bolso dos atuais sócios da empresa.  

Maior acionista da empresa, o fundo americano de venture capital Silver Lake vai zerar sua participação de 18,97% adquirida em 2010. O desembarque de fundos do tipo em IPOs não é raro, mas ativou o sinal de alertas em algumas casas de análise. Os fundadores Claudio Gora e Gilberto Mautner e os sócios Michael Gora e Ricardo Gora vão reduzir sua fatia em 6,1 pontos percentuais, passando a deter 10,88% do negócio cada um. 

“Que apetite dos controladores em vender, não? Como potencial acionista, eu não gosto da sinalização” escreveu em relatório Ricardo Schweitzer, sócio-fundador e analista da Nord Research.

Fundador e analista da Suno Research, Tiago Reis considera normal a saída do Silver Lake e a venda de parte da fatia dos fundadores da Locaweb, mas concorda com Schweitzer quando o assunto é o preço cobrado pelas ações - que ambos consideram alto. Segundos os analistas, o preço ideal seria entre 10 reais e 13 reais. 

Em 2018, o lucro líquido da Locaweb ficou em 10 milhões de reais e a expectativa é a de que, em 2019, esse número fique entre 15 milhões de reais e 17 milhões de reais. Considerando os números atuais, a Suno vê o indicador preço/lucro da Locaweb em “elevadíssimos” 130x. Em uma perspectiva otimista, a casa projeta uma redução do múltiplo para 19,4x após as aquisições e algum crescimento orgânico. 

“Estimamos que a Locaweb seja uma empresa que lucra 15 milhões de reais e queira ser avaliada em 2 bilhões de reais”, avaliou Tiago Reis em relatório.

Na avaliação da Levante, o múltiplo da Locaweb ficou entre 34x e 41,2x para 2020 e entre 21,8x e 26,4x para 2021. “Acreditamos que o múltiplo deveria ser mais baixo, pois a empresa tem mais dívidas e possui margem operacional menor que a das companhias de tecnologia já listadas.”

As casas também mantiveram certa cautela quanto aos planos de aquisição da Locaweb. Segundo Reis, a estratégia traz uma série de riscos, como o de pagar a mais por uma empresa e dificuldades em atingir a sinergia e os ganhos de escala esperados. Nos últimos anos, foram feitas seis aquisições e só uma delas foi alienada. 

“Estimamos que o custo de aquisição de futuros clientes cresça à medida que a competição na indústria se intensifique e os gastos com marketing digital sejam cada vez mais necessários”, escreveu Reis. 

O negócio

A Locaweb nasceu em 1998 como a primeira do Brasil com foco em hospedagem de sites. No segmento, a empresa é líder até hoje, com 21,6% do market share, segundo dados da própria companhia. No entanto, analistas avaliam que o baixo custo de entrada pode representar uma ameaça para o negócio da empresa. 

No exterior, o mercado de hospedagens online é bastante pulverizado com a líder global, a GoDaddy, detendo apenas 16,75% do market share, segundo o site de dados sobre empresas de tecnologia Datanyze.

Ainda de acordo com o site, no mundo, 440 empresas - incluindo as gigantes Amazon e Google - disputam esse mercado. No Brasil, 149 empresas já estão presentes. “O cenário competitivo é bastante incerto e permeado por riscos atrelados a grandes players globais”, afirmou Reis em relatório.

O que pode jogar a favor da Locaweb são os contratos de longo prazo e incentivos por meio de descontos, que geram custos para os clientes trocarem o serviço pelo o de suas concorrentes. Entre junho e agosto, a taxa de cancelamento foi de 1,2% - a menor do Brasil. 

Analistas da Suno consideram essa uma das principais vantagens competitivas do negócio e avaliam como um risco o surgimento de ferramentas que facilitem a migração do cliente para outra companhia.

O serviço de hospedagem, assim como os de servidor dedicado, e-mail corporativo, soluções de computação em nuvem, revenda de hosting e registro de domínio fazem parte do segmento denominado Be Online/Saas - que corresponde a cerca de 80% da receita, que nos nove meses de 2019 foi de 249,4 milhões de reais.

Os 20% restantes da receita vem de plataformas de e-commerce e de pagamentos, encabeçada pelas marcas Tray, Tray Corp e Yapay. De janeiro a setembro do ano passado, a área aumentou sua receita líquida em 47,3% em relação ao mesmo período de 2018. Para analistas, a tendência é a de que essa frente continue ganhando relevância. 

Segundo analistas da Levante, o segmento pode ser impulsionado pela esperada melhora do varejo em 2020. “Na esteira do crescimento do PIB e da queda das taxas de desemprego, os dados de varejo devem apresentar melhoras significativas”, avaliam. 

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