Charles Gave, economista e co-fundador da Gavekal: "inflação americana está muito viva e embicando para cima"
Repórter
Publicado em 26 de abril de 2024 às 16h11.
Última atualização em 26 de abril de 2024 às 17h22.
Poucas coisas no mercado tem preocupado mais o economista Charles Gave, CEO e co-fundador da Gavekal Research, do que os riscos de a inflação americana voltar a subir e o de euro entrar em crise. Em relatório recente, Gave afirmou que a inflação está "longe de estar morta" nos Estados Unidos. Pelo contrário. "Está muito viva e embicando para cima, possivelmente muito mais para cima."
Um dos sinais que indicam os riscos inflacionários, segundo o economista, é o gráfico do preço do ouro, que está próximo das máximas em termos absoluto e relativo em relação aos títulos do Tesouro americano. "Isso não é uma boa notícia para os mercados de título da OCDE. A última vez que vimos este padrão foi em 1978, antes de o ouro atingir seu pico e as taxas longas dos Estados Unidos subirem para 15,8%", recorda.
A diferença com o fim da década de 1970, pontua Gave, é que hoje as taxas longas dos Estados Unidos ainda estariam baixas demais para frear a valorização do ouro. "Se o Fed decidir cortar juros, aí o ouro vai realmente subir." O ouro está com valorização de 14% no ano e de 27,6% desde o início de 2023.
Juros mais altos nos Estados Unidos costuma se traduzir em dólar mais forte. Essa força do dólar, especialmente em relação ao euro, também preocupa Gave. "Isto é bastante ameaçador, mas o que me incomoda é que, apesar dos sinais emergentes de uma recuperação cíclica, a França continua em risco de cair numa nova recessão", diz. O país, segundo ele, poderia liderar uma eventual crise do euro.
"Em recessões anteriores da França, o euro caiu frente ao dólar americano. Isto implica que o euro tem grandes chances de cair a partir daqui."
Como uma alternativa para se proteger da queda do euro, o economista sugere uma operação comprada em títulos de 10 anos da Dinamarca e vendida em títulos de mesmo prazo da França.
"Com a Dinamarca desfrutando de fundamentos muito sólidos e a França de fundamentos horríveis, acredito que em caso de estresse financeiro na Zona do Euro, os rendimentos franceses aumentariam em relação aos rendimentos dinamarqueses, aumentando o spread entre os dois títulos". Gave pontua ainda que o spread entre os dois títulos, que era zero em 2021, já esta em 0,5 ponto percentual.
"Como um investidor, eu evitaria ter qualquer coisa na Europa, fora ações de multinacionais com forte produção local e receitas ao redor do mundo."