Mercados

Incerteza após eleições britânicas afunda libra

Investidores no Reino Unido sentem-se ameaçados com um Parlamento sem maioria absoluta

David Cameron, líder do Partido Conservador: situação política que não acontecia desde 1974 fez libra cair a US$ 1,45 (.)

David Cameron, líder do Partido Conservador: situação política que não acontecia desde 1974 fez libra cair a US$ 1,45 (.)

DR

Da Redação

Publicado em 7 de maio de 2010 às 09h18.

Londres - A libra esterlina parece ser uma das grandes prejudicadas pelas eleições desta quinta-feira no Reino Unido, onde os investidores, partidários de uma vitória dos conservadores, confirmaram seu temor de ter um Parlamento sem maioria absoluta pela primeira vez desde 1974.

A paralisia que a situação pode gerar, apesar de o líder conservador, David Cameron, e o primeiro-ministro, o trabalhista Gordon Brown, já terem dado os primeiros passos para tentar uma maioria parlamentar, encontrou sua primeira vítima na divisa britânica, hoje com a cotação mais baixa do ano em relação ao dólar.

A libra caiu para US$ 1,45 e 1,14 euro, mas recuperou parte do valor perdido depois que o líder do Partido Liberal-Democrata, Nick Clegg, confirmou que corresponde aos conservadores tomar a iniciativa e formar o novo Governo.

"Esta manhã, parece que é o Partido Conservador o que tem mais votos e mais cadeiras, mas não uma maioria absoluta. Por isso, penso que agora corresponde ao Partido Conservador demonstrar que é capaz de tentar formar um Governo pensando no interesse nacional", afirmou o líder liberal-democrata.

Os conservadores têm um plano mais claro e imediato para conter o déficit britânico, que este ano rondará 178 bilhões de libras (204,8 bilhões de euros)

Os responsáveis pelos mercados de divisas advertiram que a incerteza política seguirá prejudicando a libra, que hoje voltou em alguns momentos aos níveis de abril de 2009 na comparação com o dólar.

O analista Phil Hughes, da empresa Currencies Direct, afirmou à agência de notícias local "PA" que, se algo decisivo não acontecer em breve, as consequências podem ser uma venda generalizada da libra e um eventual rebaixamento da qualificação creditícia do Reino Unido.

A agência Moody's, no entanto, já assegurou hoje que a nota da dívida do Reino Unido, hoje em Aaa (máxima), não será afetada pelo resultado das eleições.


As dúvidas políticas não poderiam chegar em pior momento, entre turbulências nos mercados internacionais por causa da grave crise financeira da Grécia, que contaminou também Wall Street.

A Bolsa de Valores de Londres, no entanto, não respondeu aos resultados com grandes oscilações e seu índice de referência, o FTSE-100, tinha leve baixa no meio do pregão.

A praça londrina tem um olho nas negociações em Londres e outro em Bruxelas, onde os dirigentes da zona do euro conversarão sobre o pacote de ajuda da União Europeia (UE) à Grécia.

Os temores na City, o centro financeiro de Londres, sobre o futuro econômico aumentaram esta semana depois que a Moody's advertiu que a nota dos bancos gregos poderia contagiar entidades de Portugal, Espanha, Itália, Irlanda e até do Reino Unido.

A agência considera, porém, que "o próximo Governo poderá conseguir um apoio parlamentar convincente que permita impulsionar os planos de ajuste fiscal propostos pelos três partidos durante a campanha".

Arnaud Mares, vice-presidente do grupo de risco soberano da Moody's, afirmou que as diferenças entre as políticas fiscais de conservadores, trabalhistas e liberal-democratas "são menores", o que não "deve obstaculizar um acordo".

"A falta de uma maioria de um só partido sem dúvida criará incerteza política no curto, e talvez no médio e longo prazo", manifestou Mares.

A fragilidade da libra também gerou temores em torno de um possível aumento da inflação, o que pode levar o Banco da Inglaterra (central) a revisar para cima a taxa básica de juros, que há mais de um ano está em 0,5%, um mínimo histórico.

Isso porá em perigo a recuperação econômica, como declarou Douglas McWilliams, do Centro de Pesquisa Econômica e Empresarial britânico. Segundo ele, se a queda da libra continuar, o BC terá que elevar os juros básicos.

O comitê de política monetária do BC britânico se reúne hoje e anunciará as conclusões de sua avaliação econômica na segunda-feira.


Acompanhe tudo sobre:CâmbioEuropaPaíses ricosPolíticaReino Unido

Mais de Mercados

Por que a China não deveria estimular a economia, segundo Gavekal

Petrobras ganha R$ 24,2 bilhões em valor de mercado e lidera alta na B3

Raízen conversa com Petrobras sobre JV de etanol, diz Reuters; ação sobe 6%

Petrobras anuncia volta ao setor de etanol