Ibovespa fecha em alta de 3,9 % com possível afrouxamento de quarentenas
Expectativa de que Paulo Guedes tenha maior autonomia aumenta otimismo entre investidores
Guilherme Guilherme
Publicado em 27 de abril de 2020 às 17h30.
Última atualização em 27 de abril de 2020 às 18h28.
A bolsa de valores brasileira iniciou a semana em forte alta, puxada pelo cenário externo positivo e com a menor preocupação sobre uma possível saída de Paulo Guedes do ministério da Economia. Com isso, o Ibovespa, principal índice brasileiro de ações, subiu 3,86%, nesta segunda-feira, 27, e fechou em 78.238,60 pontos.
Na última sexta-feira, a saída de Paulo Guedes foi bastante especulada no mercado financeiro, após Sergio Moro ter deixado o governo. Mas, a expectativa quanto à sua saída foi amenizada, após o presidente Jair Bolsonaro afirmar que Guedes tem autonomia para gerir questões econômicas. Segundo o presidente, o ministro é o “único homem que decide a economia” do país.
As recentes falas do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que foram no sentido de que ainda é cedo para se pensar em um impeachment, também ajudaram o mercado. Mas, segundo Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, a preocupação sobre as questões políticas do Brasil ainda é grande entre os investidores.
“O mundo todo está enfrentando a crise do coronavírus. Mas aqui, também estamos tendo que lidar com a crise política”, disse.
No exterior, as principais praças acionárias tiveram um dia de ganhos, com expectativa de uma retomada da atividade econômica, após países da Europa e estados americanos se aproximarem de uma redução das medidas de isolamento social.
Com o declínio dos novos casos de infecção e morte por coronavírus, a Itália planeja uma volta à normalidade de forma gradual a partir do dia 5 de maio. Já a Espanha, segundo país com o maior número de infectados, sinalizou um afrouxamento da quarentena ao permitir, neste fim de semana, que crianças saiam de suas casas.
Nos Estados Unidos, epicentro da doença com cerca de 966.000 infectados e 55.000 mortos, estados menos atingidos pelo coronavírus, como Mississipi, Colorado e Tennessee já devem experimentar uma reabertura econômica. No estado de Nova York, onde há a maior a concentração de casos, a reabertura gradual deve começar a partir de 15 de maio, de acordo com o governador Andrew Cuomo.
Com o maior otimismo sobre o futuro da atividade econômica, o índice pan-europeu Stoxx 600 subiu cerca de 1,8% nesta manhã. O destaque fica com a bolsa de Milão, que avançou 3%. Nos Estados Unidos, o S&P 500 avançou 1,5%.
Outro fator que endossou o bom humor entre os investidores neste início de semana é o fato de o Japão ter triplicado o limite de compras de dívidas corporativas de seu banco central, além de ter extinguido o teto de compras de títulos públicos. Por lá, a bolsa de Tóquio fechou em alta de 2,71%.
Apesar do clima favorável nos mercados mundiais, as preocupações em torno da demanda por petróleo continuam altas. Com a escassez de espaço para armazenar a commodity, o petróleo WTI, negociado nos Estados Unidos, caiu 23,5%. Já o petróleo brent, referência para a política de preço da Petrobras, recuou 7,1%.
Mesmo com a queda do preço do petróleo, as ações ordinárias e preferenciais da Petrobras subiram 4,54% e 3,13, respectivamente. Segundo Gabriel Ribeiro, analista da Necton Investimentos, a atual cotação da commodity não é boa para o balanço da empresa, mas pode ajudá-la a ganhar mercado.
"O petróleo nesses níveis inviabiliza a produção de pequenos produtores, principalmente as que fazem a partir do gás de xisto [bastante feito nos EUA]. Eles podem quebrar, mas a Petrobras vai sobreviver. Por isso, as ações dela e de outras petroleiras estão segurando mais. No longo prazo, o preço do petróleo tende a subir", disse.
Na liderança do Ibovespa, ficaram as ações das varejistas Via Varejo, que disparou 18,65%, após comprar a empresa de tecnologia e logística ASAPLog. A aquisição deve reforçar o sistema de e-commerce da companhia.
Na outra ponta, as ações da Embraer caíram 7,49%, após falhar a venda de sua parte comercial para a Boeing. O acordo, de 4,2 bilhões de dólares, vinha sendo desenhado desde 2018, mas não saiu do papel.