Ibovespa fecha em queda com mercado atento ao futuro de Moro no governo
Ministro da Justiça pediu a saída do cargo, após ser informado sobre troca da diretoria da Polícia Federal, diz jornal
Guilherme Guilherme
Publicado em 23 de abril de 2020 às 17h18.
Última atualização em 23 de abril de 2020 às 17h33.
A bolsa brasileira B3 aprofundou a queda na tarde desta quinta-feira após a Folha de S.Paulo noticiar em seu site que o ministro da Justiça, Sérgio Moro , pediu demissão. O Ibovespa, principal índice da bolsa, fechou o pregão em queda de 1,26%, em 79.673,30 pontos. A notícia também foi sentida no mercado de câmbio, com o dólarcomercial, referência nas transações entre bancos e empresas, subindo 2,2% e fechando em níveis recordes, a 5,528 reais.
De acordo com o jornal, Moro disse que iria sair após o presidente Jair Bolsonaro avisar que pretende trocar o diretor geral da Polícia Federal , Maurício Valeixo, homem de confiança do ministro da Justiça. Bolsonaro, sempre segundo a Folha, ainda está tentando reverter a decisão do ministro, cujo prestígio entre a população é um dos pilares do governo.
“O Moro é um dos portos seguros do governo. O mercado reage fortemente ao aumento das incertezas políticas”, diz Henrique Esteter, analista da Guide Investimentos.
A ameaça de Moro se dá em meio ao aparente enfraquecimento de outro nome forte do governo, o ministro da Economia, Paulo Guedes . "O próprio governo está minando a atuação desses ministros, e o mercado financeiro interpreta que nem o Guedes está a salvo. Ainda mais agora que ele começa a entrar no embate de questão fiscal versus o aumento de gastos", diz Bruno Lima, analista da Exame Research, o braço de análise de investimentos da EXAME.
Mais cedo, o Ibovespa chegou a subir mais de 1,5%, acompanhando o bom humor externo e refletindo a possibilidade de o Banco Central voltar a cortar a taxa básica de juros Selic, que está agora em 3,75%, o menor nível da história. A redução do juro acaba forçando os investidores que aplicam em renda fixa a buscar ativos de maior risco que possam dar maior retorno também.
No início da tarde, porém, o índice de referência brasileiro passou a cair coma notícia de que o medicamento remdesivir, tido como grande promessa no tratamento do novo coronavírus , falhou em um teste. De acordo com o site de notícias médicas STAT, uma pesquisa publicada acidentalmente no site da Organização Mundial da Saúde mostrou que o remédio não traz benefícios para os pacientes com a infecção respiratória covid-19. Na semana passada, a notícia de que o medicamento teria sido eficaz para tratar 120 pessoas infectadas serviu de gatilho para uma elevação dos ativos de risco no mundo inteiro ao alimentar esperanças de que a pandemia que travou a economia possa ser domada logo.
Nos Estados Unidos, as bolsas de valores encerraram praticamente estáveis, após ficarem no campo positivo na maior parte do dia. Pela manhã, o S&P, que encerrou em leve queda de 0,05%, chegou a ter alta de mais de 1%. Parte do bom humor se deu em razão das estatísticas sobre o desemprego no país, que é o mais afetado pela pandemia. Os pedidos de seguro desemprego recuaram para 4,427 milhões de pedidos na semana passada. Embora muito acima do normal, o número é inferior aos 5,237 milhões registrados na anterior. Na pior semana da atual crise, os Estados Unidos chegaram a registrar mais de 6 milhões de pedidos de seguro desemprego.
“Os pedidos estão caindo a cada semana. Isso aumenta a expectativa de uma reabertura econômica”, disse Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus.