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Ibovespa recorde e dólar em queda: bolsa ficou cara para estrangeiros?

Índice de referência da bolsa brasileira atinge pontuação em dólar equivalente ao período pré-pandemia, sinalizando que preços já não estão tão baratos depois da forte alta desde abril

Especialistas defendem que oportunidades seriam suficientes para compensar perdas com a variação cambial | Foto: triloks/GettyImages (triloks/Getty Images)

Especialistas defendem que oportunidades seriam suficientes para compensar perdas com a variação cambial | Foto: triloks/GettyImages (triloks/Getty Images)

BQ

Beatriz Quesada

Publicado em 9 de junho de 2021 às 06h05.

O principal índice da bolsa brasileira, o Ibovespa, conseguiu ultrapassar a barreira dos 130.000 pontos no início de junho e quebrou o recorde em seis pregões seguidos até segunda-feira, dia 7. O dólar, por outro lado, entrou em tendência de queda e analistas já avaliam a possibilidade de a cotação cair abaixo da marca dos 5 reais.

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Os dois movimentos fazem parte de um contexto global de recuperação econômica que ganhou um novo participante nos últimos meses: o Brasil. O país surpreendeu investidores e analistas com um PIB do 1º trimestre acima do esperado e tem avançado na imunização contra a Covid-19 – ainda que com alguma lentidão. O resultado é o fortalecimento das expectativas de bons ventos para a economia local, impulsionando a bolsa e a moeda brasileiras.

Isso significa que o tíquete de entrada ficou menos atrativo para o investidor estrangeiro do que antes do rali que começou em abril. Prova disso é o desempenho do Ibovespa em dólares, que calcula a pontuação do índice já incluindo a variação da moeda americana.

Sob essa perspectiva, o Ibovespa encerrou o pregão de segunda-feira aos 25.897 pontos, segundo a plataforma de informações financeiras Economatica, no maior patamar desde 20 de fevereiro de 2020, antes da confirmação do primeiro caso de Covid-19 no país. O recorde é de maio de 2008, quando o índice em dólar bateu nos 44.551,37 pontos.

O investidor estrangeiro voltou a ampliar de forma significativa o ingresso na bolsa brasileira, levando o saldo acumulado no ano da casa de 10 bilhões de reais em abril para 30 bilhões de reais no fim de maio. Mas esse movimento pode perder força a julgar pela pontuação em dólar do benchmark da B3.

Outra forma de avaliar o Ibovespa é por meio do EWZ, principal ETF da bolsa brasileira. Por ser o fundo de índice mais líquido do mundo ligado à bolsa do Brasil, o EWZ costuma ser usado como referência para o desempenho do mercado local na visão do investidor estrangeiro – daí o apelido de “Ibovespa dolarizado”. Com as recentes altas da bolsa, o EWZ recuperou sua marca de negociação pré-pandemia e voltou a ser negociado acima dos 40 dólares.  

Vale lembrar que a maior parte dos investidores procura ações específicas e não investe por meio de um índice, seja o EWZ ou o Ibovespa em dólares. Porém, por reunirem os papéis mais líquidos e com maior valor de mercado da B3, os índices se tornam bons termômetros do apetite estrangeiro pela bolsa brasileira – que, por sinal, ainda parece estar longe de terminar.

“A recente alta do Ibovespa em dólar não significa necessariamente que o índice está caro. Em termos de múltiplos [métricas de avaliação da empresa de valor], o Ibovespa ainda está longe da média histórica, mesmo em comparação com outros países emergentes. Vejo como oportunidade”, afirma Bruno Musa, economista e sócio da Acqua-Vero Investimentos

Outro ponto a se considerar é se o investimento deve continuar vantajoso apesar da recente alta do real. Isso porque o investidor estrangeiro que apostou no Brasil pode ganhar em duas frentes se os ativos subirem: tanto na valorização da bolsa quanto na alta do real no momento de converter para moeda estrangeira. 

Para Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, esse não será o caso. "O câmbio não está caro para o investidor de fora entrar [na bolsa]. Antes da pandemia, o dólar era negociado a 4 reais, hoje ainda está a 5 reais. Ainda tem terreno para investir sem grandes preocupações”, argumenta.

Mas e se o real continuar avançando? Nesse caso, Agostini defende que as oportunidades da bolsa brasileira seriam suficientes para compensar as perdas na variação cambial. O investidor estrangeiro deixaria de ganhar no câmbio, mas poderia acompanhar a onda favorável ao mercado de capitais nacional. Vale lembrar que a participação do investidor estrangeiro na B3, pela métrica do volume negociado, chegou a 46,4% do total no mês de junho.

“A economia brasileira mostrou consistência no crescimento econômico e a imunização está ganhando corpo. O risco fiscal segue no radar, mas o governo já sinalizou que pode mitigar o problema por meio de privatizações, como a da Eletrobras (ELET3, ELET6), que está sendo encaminhada. A bolsa não está cara nem barata, mas é possível dizer que tem tudo para continuar a avançar”, avalia Agostini.

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