Ibovespa: mercado acompanha decisões de política monetária dos EUA e Brasil (Germano Lüders/Exame)
Repórter de finanças
Publicado em 31 de julho de 2024 às 10h47.
Última atualização em 1 de agosto de 2024 às 14h45.
O Ibovespa fechou a sessão desta quarta-feira, 31, em alta de 1,07% aos 127.651 pontos. O dia foi agitado no mercado com a forte alta do petróleo, resultado da elevação das tensões no Oriente Médio, e as expectativas para as decisões de políticas monetárias dos Estados Unidos e Brasil na conhecida Super Quarta.
Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o petróleo de referência WTI para setembro fechou com alta de 4,26%, cotado a US$ 77,91 o barril, enquanto a referência Brent, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), valorizou 3,55%, cotado a US$ 80,84 o barril. O movimento da commodity puxou Petrobras (PETR3; PETR4) para cima, que fechou em alta de 2,71% e 2,07%, respectivamente, ajudando a bolsa brasileira a ficar no azul.
O dia também girou em torno das decisões do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) e do Comitê de Política Monetária (Copom). Assim como apontavam as expectativas, o Federal Reserve (Fed, banco central dos americano) manteve a taxa de juros inalterada na faixa entre 5,25% e 5,50% ao ano (EUA).
Para além da decisão em si, o que trouxe otimismo ao mercado foram os sinais nas falas do presidente do Fed, Jerome Powell, sobre o início do corte de juros em setembro. Apesar de Powell declarar que os dados ainda não foram o suficiente para iniciar o afrouxamento hoje, a autoridade reconheceu que se os progressos continuarem, o início do ciclo de cortes deve iniciar em setembro, é o que explica Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad.
Já a decisão do Brasil sai após o fechamento da sessão, com as projeções também apontando para a manutenção da Selic em 10,50%. Álvaro Bandeira, coordenador da Comissão de Economia da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais do Brasil (Apimec Brasil), explica que o comunicado do Copom deve ser mais duro, preocupado com o recrudescimento da inflação — principalmente de serviço —, o que força as expectativas para o final do ano.
"Teoricamente, para que a meta fosse mantida, o Banco Central teria de elevar a Selic, mas isso não deve acontecer nesta reunião, provavelmente ele vai sinalizar essa preocupação", afirma o especialista.
Bandeira também comenta que a decisão do BC em subir juros também dependerá muito do que vai acontecer com o Fed na próxima reunião - ainda mais agora com o aumento das apostas para a redução dos juros em setembro. "Isso poderia facilitar um pouco mais a decisão do Banco Central por aqui."
A valorização do petróleo hoje foi um reflexo da morte do líder político do Hamas, Ismail Haniyeh. O grupo extremista confirmou a morte e disse que Haniyeh foi morto em um ataque aéreo em Teerã, capital do Irã, que o grupo terrorista atribui a Israel. O ataque ocorreu enquanto o líder político estava na cidade para a posse do novo presidente iraniano, nesta quarta-feira. As informações são do Financial Times.
A morte de Haniyeh coloca em xeque a relação entre Israel e Irã. Relação esta que já estava balançada após ataques diretos em abril deste ano. O assassinato de Haniyeh, portanto, eleva as tensões no Oriente Médio, e se torna um grande dilema para o Irã, que agora deverá deliberar sobre como responder.
Especialistas ouvidos pela EXAME Invest afirmaram que o que preocupa o mercado é justamente a entrada do Irã no conflito, visto que o país é um dos maiores produtores de petróleo no mundo, sendo membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). O envolvimento do país na guerra pode pressionar o preço do petróleo e prejudicar países que compram a maior parte da commodity do país, como a China.
Além dessa questão do Irã, a queda no índice do dólar dos EUA, o Índice DXY, também deu suporte aos preços, é o que explica Frederico Nobre, portfólio manager da Warren Brasil Gestão. "Um dólar mais fraco pode aumentar a demanda por petróleo, tornando as commodities denominadas em dólar, como o petróleo, mais baratas para os detentores de outras moedas."
WEG (WEG3) figurou como a maior alta da sessão, fechando com um avanço de 10,47%. A valorização foi reflexo dos bons números do balanço do segundo trimestre de 2024. A companhia registrou lucro líquido de R$ 1,44 bilhão, o que representa alta de 5,4% em relação ao mesmo período em 2023. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) foi de R$ 2,12 bilhões, 15,7% superior ao segundo trimestre de 2023.
O dólar também foi outro ponto de destaque nesta quarta-feira, 31, chegando a subir 1,14%. Apesar da forte alta, no fechamento da sessão a moeda diminuiu os ganhos e fechou com um avanço de 0,66% a R% 5,654. Um dos fatores que colaboram para a valorização do dólar hoje e, consequentemente, a depreciação do real foi a decisão do Banco do Japão (BoJ).
Pela segunda vez consecutiva neste ano, após 17 anos sem alterar os juros no país, o BoJ elevou sua taxa de juro de referência para “cerca de 0,25%” de sua faixa anterior de 0% a 0,1%. A nova taxa é a mais alta desde 2008. O movimento busca valorizar o iene, que no começo de julho atingiu seu valor mais baixo desde 1986.
Segundo Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, foi uma postura mais firme do BoJ, mostrando que há uma preocupação em relação ao valor do iene. A decisão fortalece o iene na seção de hoje, que subia, por volta das 9h15, 1,7% ante o dólar.
"O iene mais valorizado tem sido a tendência dessa segunda metade de julho e tem prejudicado o desempenho de moedas utilizadas nas operações de carry trade ou carrego como peso mexicano e como real. Então a decisão do BoJ deve pressionar uma alta da nossa taxa de câmbio", afirma o especialista.
Além disso, Mattos explica que há a formação da Taxa Petax de fim de mês, que traz maior volume e maior volatilidade nos horários utilizados pelo Banco Central para a formação da taxa. Segundo o especialista, a Petax é importante para contratos de câmbio, derivativos, sendo que a taxa de fim de mês é tem mais relevância, visto que há referência para o vencimento dos contratos do primeiro dia útil de agosto.
Principal índice de ações da bolsa brasileira, a B3, o Ibovespa é calculado em tempo real, com base na média do desempenho dessa carteira teórica de ativos, cada uma com seu peso na composição do índice.
Funcionando como um termômetro do desempenho consolidado das principais ações para o mercado, cada ponto do Ibovespa equivale a 1 real. Por isso, se o Ibov está em 100 mil pontos, isso quer dizer que o preço da carteira teórica das ações mais negociadas é de R$ 100 mil.
O horário de negociação na B3 vai das 10h às 17h. A pré-abertura ocorre entre 9h45 e 10h, enquanto o aftermarket ocorre entre 17h25 e 17h45. Já as negociações com o Ibovespa futuro ocorrem entre 9h e 16h55.