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Ibovespa fecha em queda com fala de Guedes sobre colapso da economia

Com preocupações internas, índice brasileiro se descola das bolsas internacionais, que tiveram dia positivo

 (NurPhoto/Getty Images)

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Guilherme Guilherme

Publicado em 7 de maio de 2020 às 17h29.

Última atualização em 7 de maio de 2020 às 18h52.

A bolsa brasileira caiu, nesta quinta-feira, 7, com temores sobre os impactos do novo coronavírus (covid-19) no Brasil, após o ministro da Economia, Paulo Guedes, alertar sobre um possível "colapso" da economia. Com isso, o Ibovespa, principal índice de ações, se descolou do cenário internacional e fechou em queda de 1,2%, em 78.118,57 pontos.

Embora tenha operado em alta pela maior parte do dia, a fala de Paulo Guedes, pela manhã, teve repercussão negativa no mercado. "O mercado absorveu bem isso", comentou Gustavo Bertotti, economista da Messem Investimentos. Desde então, o Ibovespa vinha oscilando, sem a mesma força que apresentou nos primeiros negócios do dia, quando abriu em alta puxado pelo otimismo global, com dados da China e dos Estados Unidos. 

De acordo com os últimos dados do Ministério da Saúde, o Brasil já tem 125.218 casos confirmados e 8.536 mortes. Especialistas já estimam que o país seja o novo epicentro da epidemia, considerando a baixa taxa de testagem.

“Os estados já estão decretando lockdown. Isso é muito ruim para a economia. Esperava-se voltar ao normal entre maio e junho. Mas as expectativas serão frustradas”, afirmou Gabriel Ribeiro, analista da Necton Investimentos.

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) também esteve no radar. Ontem, o Copom optou por um corte mais agressivo do que o esperado, reduzindo a taxa básica de juro em 75 pontos base, para 3% ao ano. A expectativa média era de um corte de 50 pontos base.

O corte de juros, embora enfraqueça a moeda local, tende a fortalecer a bolsa de valores, já que o custo de capital fica mais barato. Além disso, Alvaro Bandeira, economista-chefe, do banco digital Modalmais, destaca que a medida também pode tornar a bolsa brasileira mais atrativa para o investidor estrangeiro. “A decisão do Copom está fazendo o dólar esticar bem, isso torna as ações brasileiras mais atrativas”, disse.

Porém, Jason Vieira, economista-chefe da Inifity Asset, acredita que o mercado tenha interpretado de forma negativa a queda de juros e a sinalização de novos cortes. "O mercado não gostou. O contexto está complicado. O corte pode ser mais problemático, já que não está chegando na atividade [econômica]", disse.

Na bolsa, as ações das companhias de papel e celulose Klabin e Suzano lideraram as altas do Ibovespa, subindo 10,93% e 7,50%, respectivamente. A valorização da moeda americana, que voltou a bater o recorde de fechamento nesta quinta, tende a favorecer as empresas do setor, que têm grande parte da receita em dólar.

Entre os papéis com maior peso no índice, os grandes bancos pressionaram para baixo. Os papéis de Itaú, Bradesco e Santander caíram mais de 3%, enquanto os do Banco do Brasil recuaram 2,7%. A ação da Vale, que possui a maior participação no Ibovespa, subiu 3,9% e ajudou a atenuar as perdas. 

Mercado internacional

Lá fora, o otimismo se deu graças às exportações chinesas, que cresceram 3,5%, em abril, ante uma expectativa de retração de 15,7%.

"Eles estão começando a colocar a cabeça para fora da água. Isso é importante para o mundo inteiro, principalmente para os emergentes, que exportam muita matéria-prima para a China", afirmou Bandeira.

As importações chinesas, contudo, vieram abaixo das projeções, recuando 14,2% na comparação anual. "Os dados são duvidosos. A exportação subiu muito e a importação diminuiu, então de onde veio a matéria-prima? Mas de certa forma ajuda o mercado", comentou Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus.

Laatus também viu com otimismo os dados semanais de pedidos de seguro-desemprego, divulgados, hoje, nos Estados Unidos. Embora os 3,169 milhões de pedidos tenham ficado pouco acima dos 3 milhões projetados, o mercado voltou a reagir de forma negativa, já que também vieram abaixo dos números registrados na quinta-feira passada, quando foram reportados 3,846 milhões de pedidos. "Está diminuindo semana a semana. Uma hora essa curva vira", disse. Por lá, o S&P 500, principal índice americano de ações, subiu 1,15%.

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