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Declarações de Bolsonaro derrubam bolsa

Ibovespa fechou a 95.584,35 pontos após recuar 1,77% nesta quinta-feira (28)

Ibovespa: Bolsa recuou 1,77% nesta quinta (Ueslei Marcelino/Reuters)

Ibovespa: Bolsa recuou 1,77% nesta quinta (Ueslei Marcelino/Reuters)

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Reuters

Publicado em 28 de fevereiro de 2019 às 18h07.

Última atualização em 28 de fevereiro de 2019 às 19h37.

A bolsa paulista fechou com o Ibovespa abaixo de 96 mil pontos nesta quinta-feira, marcada por noticiário corporativo intenso, tendo Ambev e Petrobras entre as maiores quedas, enquanto receios sobre a reforma da Previdência e o viés negativo dos mercados no exterior endossaram vendas.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 1,77 por cento, a 95.584,35 pontos, conforme dados preliminares.

O volume financeiro somava 13,88 bilhões de reais, novamente abaixo da média do ano, com o fechamento do mercado brasileiro em parte da próxima semana ajudando a reduzir a liquidez.

Fevereiro encerrou com o Ibovespa em queda de 1,86 por cento, mas o acumulado do ano ainda mostra ganho 8,76 por cento, dada a alta de 10,8 por cento em janeiro.

"Continuo acreditando que estamos em um momento de acomodação e realização de lucros", afirmou o estrategista Dan Kawa, sócio na TAG Investimentos.

Em encontro com jornalistas nesta quinta-feira, em Brasília, o presidente Jair Bolsonaro disse que é possível uma mudança na idade mínima para aposentadoria das mulheres na proposta de reforma da Previdência. A proposta inicial fala em 62 anos para mulheres e 65 para homens. O governo poderia admitir idade mínima de 60 para mulheres. "Não precisava ter feito esse comentário", afirmou um gestor no Rio de Janeiro. "Ninguém estava pressionando neste ponto da idade mínima. Adiciona ruído em um momento já de maior cautela".

Já desconfiados em relação à capacidade do governo em articular uma base de apoio para aprovar o texto reforma sem muitas alterações, o mercado se surpreendeu ao ouvir do próprio presidente que pontos centrais da proposta, como a idade mínima, podem virar letra morta.

A percepção entre analistas e operadores ouvidos pelo Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, é a de que Bolsonaro "queimou na largada" e cedeu antes mesmo de barganhar com o Congresso. "O mercado foi totalmente influenciado por essa questão da Previdência. Ninguém gostou da ideia de já flexibilizar a proposta. Qualquer coisa que ponha em risco a economia de R$ 1 trilhão vai desagradar", afirma Pedro Galdi, analista da Mirae Asset Corretora.

Além da Previdência, operadores também citaram como fator negativo para o Ibovespa a possibilidade de que o Brasil perca espaço no índice MSCI Emergentes, que reúne papéis de empresas de países emergentes. O comitê da MSCI, provedora dos índices, estuda uma mudança na composição do indicador, que poderia ter peso maior de ações da China. Segundo projeções, caso as mudanças sejam efetuadas, a participação do Brasil no índice, hoje em 5,8%, poderia cair para 5,5% em agosto deste ano e para 5,4% em maio de 2020. Isso levaria a uma realocação global de ativos com impactos prejudiciais para o mercado doméstico.

Em relatório enviado a clientes mais cedo, o economista Alberto Ramos, do Goldman Sachs, já havia destacado sobre a necessidade de um profundo ajuste fiscal estrutural estar no centro da agenda política do governo, sob o risco de prejudicar a recuperação econômica prevista para o país.

A observação foi feita após o IBGE mostrar que a economia continua em uma lenta recuperação, com o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil crescendo 0,1 por cento entre outubro e dezembro de 2018 sobre os três meses anteriores, enquanto sobre o quarto trimestre de 2017, houve avanço de 1,1 por cento.

O pregão teve como pano de fundo o viés externo negativo, após término abrupto e sem acordo de encontro entre os EUA e a Coreia do Norte e sinalizações menos positivas sobre as negociações comerciais EUA-China, apesar de uma desaceleração menor que a esperada do PIB norte-americano no quarto trimestre.

Destaques

- PETROBRAS ON caiu 2,64 por cento, após balanço avaliado de modo geral positivamente por analistas, enquanto a empresa sinalizou planos de pagar dividendos mínimos a acionistas até que julgue ter saúde financeira suficiente para remunerar mais os investidores. Também o Conselho Nacional de Política Energética divulgou definições sobre o leilão de excedentes da cessão onerosa. PETROBRAS PN recuou 0,07 por cento.

- AMBEV perdeu 6,15 por cento após lucro líquido de 3,46 bilhões de reais no quarto trimestre, mas sinalização de custos maiores em 2019. Analistas do Credit Suisse destacaram que o Ebitda da companhia de bebidas superou suas estimativas, mas que a qualidade do mesmo foi baixa. Em teleconferência, executivos afirmaram que aguardam acelerar crescimento em 2019 com esperada retomada da economia.

- BRADESCO PN perdeu 2,63 por cento e ITAÚ UNIBANCO PN caiu 1,89 por cento, reforçando o viés de baixa no pregão brasileiro.

- BRF fechou em baixa de 4,77 por cento, em meio à repercussão do prejuízo de 2,1 bilhões de reais no último trimestre de 2018, 12,5 vezes maior que a estimativa média de analistas, enquanto o Ebitda ajustado subiu 30,3 por cento e a margem avançou a 8,8 por cento. A companhia ainda estimou perda contábil adicional de 800 milhões de reais vinculada à venda de ativos a ser computada nos próximos trimestres.

- EDP BRASIL caiu 7,04 por cento, mesmo após lucro líquido de 524 milhões de reais no quarto trimestre de 2018, alta de 161,3 por cento na comparação anual. Analistas do Itaú BBA destacaram que, apesar do lucro, os resultados operacionais foram piores que o esperado devido à hidrologia desfavorável e à estratégia de alocação de energia da empresa.

- MARFRIG avançou 2,23 por cento, após divulgar lucro líquido de 2,2 bilhões de reais no quarto trimestre, impulsionado por ganho de capital gerado pela venda da subsidiária Keystone. Para a equipe do Bradesco BBI, o resultado, em geral, mostrou a continuação de uma tendência positiva para as operações de carne bovina da companhia na América do Norte e na América do Sul.

- VALE fechou com acréscimo de 0,58 por cento. Analistas do Bradesco BBI reiteraram recomendação 'outperform' para os ADRs dos papéis da mineradora em relatório no qual avaliam que o efeito operacional da tragédia envolvendo um o rompimento de uma barragem da companhia em janeiro está se tornando mais claro.

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