Guararapes dá desconto futuro para fazer do cartão próprio alavanca de vendas na Riachuelo
Programa oferece 20% de desconto na compra seguinte e quer aumentar recorrência nas lojas e melhorar base de clientes na financeira, que ainda sofre com inadimplência
Repórter Exame IN
Publicado em 29 de maio de 2023 às 09h58.
Última atualização em 30 de maio de 2023 às 17h31.
Dono da Riachuelo, o grupo Guararapes (GUAR3) entrou numa série de mudanças recentes em busca de voltar aos trilhos de rentabilidade.
A mais evidente delas foi a chegada do ex-CEO da Dafiti, André Faber, para o comando da empresa, substituindoOswaldo Aparecido Nunes, que estava há 50 anos na empresa. Outras têm a ver com a busca de melhora operacional tanto no varejo quanto no braço financeiro, a Midway. De olho nisso, a companhia reformulou a política do seu cartão bandeirado ou private label.
A companhia lançou no último mês o "Compra Futura". O programa funciona como uma espécie de cashback para quem tem cartão Riachuel. Os clientes passam a receber 20% do valor cupom como desconto para a próxima compra. A cada nova compra, um novo desconto fica disponível.O objetivo, explica o executivo responsável pela Midway, Francisco Santos, é aumentar a recorrência do cliente e o tíquete-médio, enquanto melhora a base de clientes da financeira.
"Nós tínhamos duas dores. A primeira é que oferecíamos um desconto de 10% na boca do caixa para o cliente fazer o cartão, mas ele já faria essa compra mesmo sem desconto. A segunda é que entre 60% e 70% desses clientes acabavam usando o cartão uma vez e não usavam mais", conta Santos, que assumiu o braço financeiro da Guararapes no fim de 2022.
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Com o novo formato, o desconto pode chegar até 40% do valor total da nova compra, válido a partir do dia seguinte da primeira. Desta forma, o cliente poderá fazer uma compra para gerar créditos até o último dia de cada mês e poderá utilizar seu saldo para a próxima compra a partir da liberação do crédito até o dia 15 do mês seguinte.
A dinâmica será válida para todas as lojas físicas de Riachuelo, Casa Riachuelo e FANLAB, ressaltando que o “Compra Futura” não é válido para compras das categorias de beleza, eletrônicos, celulares, relógios e recargas. Em breve, a expectativa é que ela entre no e-commerce, no app e na Carter’s.
Até 3 vezes mais compras
"O que percebemos é que teríamos ali a oportuniade de ter recorrência do cliente na loja. Então, se o cliente voltasse mais vezes na loja a gente teria vendas que não tinha e essas vendas poderiam subsidiar um desconto. Por outro lado, na Midway eu poderia dar para o cliente um desconto maior e ele usaria mais vezes o cartão, porque ele teria um benefício perene, além do parcelamento melhor, que já era dado", explica Santos.
A empresa fez testes pilotos antes de implantar a dinâmica. Os testes nas cidades de Salvador (BA), Recife (PE) e Rio de Janeiro (RJ) mostaram que o cliente frequentava a loja de duas a três vezes mais com o benefício. "O varejo ganha dinheiro porque ele tem mais clientes comprando e voltando e a gente como Midway fica mais relevante na loja assim num balcão." As vendastiveram incrementos superiores a 230% no cartão e aumentou a participação da Riachuelo em até 4 p.p. frente ao mês anterior ao início do piloto, começando a se aproximar dos níveis pré pandemia. Um número importante dado o primeiro trimestre de baixo crescimento nas vendas do varjeo do grupo: 2,9% (sendo que a Riachuelo, principal operação, cresceu apenas 1,3%).
Melhora na seleção de clientes
Um dos desafios das varejistas está justamente na operação do braço financeiro de cada uma, dado o momento da inadimplência.Relatório do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME) mostra que o ambiente macroeconômico mais pressionado com inadimplência alta das famílias e juros básicos ainda na casa dos 13,75% devem continuar pressionando as operações de crédito das varejistas no curto prazo, exigindo mais provisões e menor concessão.
No primeiro trimestre de 2023, a Midway reportou aumento de 10,3% na receita líquida, para R$ 550,8 milhões, e o lucro bruto avançou 20%, para R$ 472 milhões, com aumento da carteira, que chegou a R$ 5,7 bilhões (cartões e empréstimos pessoais).No entanto, a provisão para perdas de créditos totalizou R$342,3 milhões, 42% a mais do que um ano antes e levando a um prejuízo líquido de R$ 11 milhões no período.
"Estamos operando bem as torneiras de inadimplência. A despeito do cenário do mercado, a inadimplência está controlada e uma a cada três compras no varejo ainda é com os cartões da Midway", diz o executivo. A companhi conseguiu reduzir o índice de inadimplência de 15 a 90 dias de 10,5% para 10,2%, mas ainda viu alta expressiva na inadimplência acima d e90 dias, de 16,7% para 22%.
"Hoje tem uma grande parte de clientes bons que não teriam problema de usar o cartão. É esse cliente que estou buscando com a dinâmica da 'Compra Futura'. Buscar o cliente que vem em busca de valor e não de crédito. O problema atual [do cenário macroeconômico] é que tem seleção adversa. Cliente que vem só quer crédito e tem menos propensão a pagar", argumenta Santos.