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Gestora prega visão cautelosa com economia seja quem ganhar a eleição

Legacy Capital, com R$ 20 bilhões sob gestão, espera um aperto monetário global mais rápido do que a maioria dos analistas de mercado

Vista da Esplanada dos Ministérios, em Brasília (DF): novo governo terá muitos desafios econômicos, adverte a Legacy Capital (Ueslei Marcelino/Reuters)

Vista da Esplanada dos Ministérios, em Brasília (DF): novo governo terá muitos desafios econômicos, adverte a Legacy Capital (Ueslei Marcelino/Reuters)

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Bloomberg

Publicado em 15 de março de 2022 às 18h58.

Última atualização em 15 de março de 2022 às 20h10.

A Legacy Capital, uma das maiores gestoras de recursos independentes do Brasil, espera uma série de surpresas negativas à frente para os ativos brasileiros, que têm batido seus pares mundo afora graças a um intenso rali. E não importa quem saia vitorioso da eleição de outubro, o cenário para a maior economia da América Latina é desalentador.

“O Brasil tem tanto problema que, no fim das contas, tanto faz quem ganha a eleição”, disse Felipe Guerra, sócio-fundador da Legacy Capital, cujo fundo principal superou 97% dos pares neste ano. “Qualquer um que ganhe vai ter um cenário de juros altos, crescimento baixo e fiscal piorando. É muito desafiador.”

O tom mais pessimista de Guerra vem em um momento em que o real sobe 8,9% no ano, enquanto o índice Ibovespa acumula alta de 14% em dólares. Investidores estrangeiros despejaram mais de R$ 70 bilhões em ações na B3 desde meados de dezembro, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

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Mas, enquanto um grupo crescente de investidores, em particular estrangeiros, aposta que o líder das pesquisas e ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva adote uma abordagem pragmática caso seja eleito, Guerra não está convencido de que isso seria suficiente.

Guerra, 44 anos, diz que o próximo presidente — não importa quem seja — será forçado a ceder a medidas populistas, levando ao aumento de impostos no futuro, que chamou de “tarifaço”. E, com as pressões inflacionárias ganhando ainda mais força globalmente, intensificadas pela alta das commodities em meio à guerra na Ucrânia, a turbulência que se segue pode fazer com que os investidores fujam do Brasil.

A Legacy Capital, que tem R$ 20 bilhões sob gestão, tem posições tomadas em juros — apostando na alta das taxas — em países desenvolvidos e emergentes e espera um aperto monetário global mais rápido do que a maioria dos analistas prevê, segundo Guerra.

“A leniência com a inflação lá fora é assustadora”, disse Guerra, que também é diretor de investimentos da Legacy. “Já vimos isso acontecer ‘n’ vezes por aqui e é um processo custoso de reverter.”

Guerra, Pedro Jobim, Gustavo Pessoa e José Eduardo Araújo criaram a Legacy em 2018, depois que os três primeiros deixaram seus cargos na tesouraria do Santander Brasil. A gestora se tornou uma das maiores independentes de multimercado do país, em meio a um período de juros baixos, com investidores locais migrando recursos para ativos considerados mais arriscados.

No ano passado, o principal fundo da gestora teve perdas com algumas apostas de Brasil, com os ativos domésticos sofrendo com um atraso na distribuição de vacinas e crescentes preocupações fiscais. Com um ganho de 1,32%, seu retornou ficou atrás do índice IHFA, uma cesta de pares. Neste ano, o fundo sobe 5,96%.

A Legacy espera que o PIB do Brasil fique perto de zero neste ano, com inflação superando 7%, bem acima do limite superior da meta do país (de 5%). Também projeta inflação no fim do ano de 2023 em 5%, acima da estimativa de 3,7% da pesquisa Focus.

O Banco Central corre o risco de ter de explicar, pelo terceiro ano, uma inflação fora da faixa de tolerância da meta, disse Jobim, sócio e economista-chefe da Legacy.

A Legacy tem uma posição duplamente vendida em dólar contra o real e no índice Ibovespa.

“No Brasil, juro e inflação altos estão dados”, disse Guerra, o que tende a favorecer a moeda e crédito corporativo, mas deve pressionar o mercado acionário. “Temos nos focado mais no macro do que na política.”

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