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Da Redação
Publicado em 28 de junho de 2011 às 08h40.
São Paulo e Rio de Janeiro - Fundos brasileiros aumentaram as aplicações em dívida corporativa para perto do maior nível em um ano, de modo a elevar o retorno em meio à queda do mercado acionário local.
Fundos de pensão, fundos de hedge e gestores de recursos aplicaram R$ 30,9 bilhões em títulos não governamentais entre janeiro e abril, de acordo com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais. As debêntures representavam 21,8 por cento da carteira de R$ 1,8 trilhão dos fundos brasileiros. Em dezembro, a parcela estava em 21,3 por cento, segundo a Anbima.
Os investidores estão aumentando as compras de dívida corporativa para conseguir rendimentos mais altos, por meio de ativos protegidos contra as altas de juros e menos vulneráveis às oscilações do mercado global. As debêntures de nota de crédito mais alta, que são indexadas ao Certificado de Depósito Interbancário, rendem cerca de 13,2 por cento, ou 814 pontos- base a mais do que dívida de empresas mexicanas de classificação semelhante. O Ibovespa caiu 10,75 por cento neste trimestre, acompanhando o tombo das bolsas em todo o mundo devido à crise da dívida na Europa.
“Os investidores não estão vendo os retornos que procuram com todos os problemas lá fora e a volatilidade do mercado acionário aqui”, disse Isacson Casiuch, diretor da área de banco de investimento do Banco Modal no Rio de Janeiro. “Mas você tem crescimento econômico forte e companhias com bons planos de investimento que têm que ser realizados. O mercado de debêntures está sendo uma alternativa para levantar capital.”
Debêntures da Vivo
O Comitê de Política Monetária do Banco Central, liderado pelo presidente Alexandre Tombini, subiu a taxa básica de juros em 150 pontos-base, ou 1,5 ponto percentual, este ano para 12,25 por cento para frear o crescimento e conter a inflação mais forte em seis anos. O CDI estava em 12,12 por cento ontem, acima dos 10,64 por cento de seis meses atrás.
Debêntures emitidas pela Vivo Participações SA, maior operadora de telefonia móvel do Brasil, rendiam 108,5 por cento do CDI, ou cerca de 13,2 por cento, em 15 de junho, de acordo com dados do mercado secundário compilados pelo Banco BTG Pactual SA. Os papéis têm nota de crédito local AAA pela Standard & Poor’s, o maior grau de investimento.
Notas de juro flutuante com vencimento em 2015 emitidas pela América Móvil SAB, operadora de celular com sede na Cidade do México, pagam 21 pontos-base a mais do que a TIIE, a taxa de empréstimo interbancário de 28 dias do México, ou 5,06 por cento.
As aplicações dos fundos em debêntures cresceram 8,5 por cento este ano para R$ 393,4 bilhões em abril, segundo a Anbima. Os investimentos em títulos da dívida pública aumentaram 3,8 por cento no período, para R$ 703,7 bilhões. As aplicações na bolsa recuaram 2,7 por cento, para R$ 301,8 bilhões.
Emissores de menor classificação
O aumento da demanda por debêntures abre caminho para que empresas estreantes e companhias de nota de crédito mais baixa façam emissões, disse Alexandre Muller, chefe de pesquisa de crédito corporativo do Banco BTG Pactual SA em São Paulo.
A Mills Estruturas e Serviços SA, empresa do Rio de Janeiro que faz andaimes e moldes de concreto, emitiu R$ 270 milhões em debêntures com prazo de cinco anos a um rendimento mais baixo do que planejava em sua oferta de estreia em abril, disse Camila Conrado, diretora de relações com investidores. Os papéis rendem 112,5 por cento do CDI, ou 13,7 por cento, contra 13,9 por cento. As notas têm classificação de risco local Aa.3 da Moody’s Investors Service, a quarta menor do grau de investimento.
As debêntures são negociadas menos ativamente do que dívida pública ou ações, dificultando a venda dos papéis em períodos de estresse, disse Laurence Mello, gestor de carteira do Credit Suisse Asset Management em São Paulo, que ajuda a administrar R$ 1,6 bilhão em dívida corporativa.
Os fundos do Credit Suisse que detêm apenas debêntures oferecem resgate em 60 dias e a maioria compra notas de classificação de risco superior para compensar a falta de movimentação no mercado secundário, disse ele.
“O mercado brasileiro ainda tem uma liquidez infinitamente menor do que o mercado offshore”, disse Mello em entrevista por telefone. “A gente tem de ser muito realista, porque num eventual cenário de crise, isso tende a diminuir.”