Plataforma da Petrobras: governo pressiona a estatal para manter preço dos combustíveis (Divulgação/Petrobras)
Da Redação
Publicado em 26 de abril de 2011 às 08h24.
São Paulo - A resistência da equipe econômica em permitir um reajuste no preço da gasolina está afetando a rentabilidade do Fundo Soberano brasileiro, cujo principal investimento são as ações da Petróleo Brasileiro SA.
O Fundo, criado em dezembro de 2008 com capital de R$ 14,3 bilhões, acumulou uma perda de 7,4 por cento entre 1 e 20 de abril, a maior queda para um mês desde outubro, segundo dados da Comissão de Valores Mobiliários. As ações ordinárias da Petrobras, que correspondem a 57 por cento da carteira do fundo, caíram 9,6 por cento no período. As preferenciais, que respondem por 23 por cento da carteira, recuaram 7,8 por cento.
O governo está pressionando a Petrobras a manter os preços dos combustíveis ao mesmo tempo em que as autoridades tentam conter a maior inflação do País desde 2008, disse Felipe Salto, analista da Tendências Consultoria Integrada em São Paulo. A estatal não reajusta a gasolina desde meados de 2009, mesmo depois de o petróleo negociado em Nova York ter se valorizado 61 por cento no mesmo período até a semana passada.
O Fundo Fiscal de Investimento e Estabilização, criado para gerar uma poupança e ajudar o País a enfrentar choques externos, acumula uma rentabilidade de 28 por cento desde sua criação. Além da Petrobras, o Fundo investe em papéis do Banco do Brasil SA, que representa 9 por cento dos ativos. Os 11 por cento restantes estão aplicados em títulos do governo.
Levantando capital
Diferente dos fundos soberanos de outros países como Cingapura e Noruega, o fundo brasileiro não é financiado com superávits nas contas públicas, já que o País acumula déficits orçamentários. A solução foi o governo emitir títulos públicos para levantar o capital inicial. O governo não fez novos investimentos nem retiradas desde a criação do fundo.
O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, disse em 12 de abril que os preços da gasolina terão que subir se o petróleo continuar alto. Dois dias depois, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse em entrevista em Washington que não vai haver reajuste da gasolina no “curto prazo”.
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo está em 6,44 por cento nos 12 meses até meados de abril, perto do teto da meta perseguida pelo Banco Central, que é de 4,5 por cento com tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
“Teremos que ter um reajuste”, disse Nelson Rodrigues de Matos, analista do Banco do Brasil SA, em entrevista por telefone do Rio de janeiro. “A questão é o timing. O próprio presidente da empresa diz que, do jeito que o preço do petróleo está, terá que ter um reajuste. Mas depois o ministro da Fazenda vem e diz que isso não é necessário. Provavelmente é esse o problema que o investidor está vendo em relação à empresa.”
Alta de ações
A assessoria de imprensa do Ministério da Fazenda não quis fazer comentários.
Ações de empresas petrolíferas em todo o mundo subiram neste ano, impulsionadas pela alta do preço do petróleo, enquanto a Petrobras teve um desempenho abaixo da média. A maior produtora de petróleo dos Estados Unidos, Exxon Mobil Corp., já se valorizou 18 por cento. A Royal Dutch Shell Plc, maior da Europa, acumula alta de 4 por cento. A chinesa PetroChina Co., subiu 6 por cento. As ações preferenciais da Petrobras acumulam baixa de 3,7 por cento no mesmo período.
O barril de petróleo chegou a US$ 113,48 em Nova York ontem, a maior cotação em 31 meses.