Mercados

Fuga de investidor japonês de mercado local embala alta do dólar

Aposentados, donas de casa e outros investidores individuais fizeram resgates de 13,6 bilhões de ienes (US$ 178 milhões) em setembro

Os fundos que aplicam do real com sede no Japão tinham US$ 44 bilhões em contratos a termo em 20 de setembro, o que equivale a 13% das reservas internacionais do Brasil (Bay Ismoyo/AFP)

Os fundos que aplicam do real com sede no Japão tinham US$ 44 bilhões em contratos a termo em 20 de setembro, o que equivale a 13% das reservas internacionais do Brasil (Bay Ismoyo/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 30 de setembro de 2011 às 11h21.

Nova York - Os investidores japoneses, que acumulam US$ 102 bilhões em ativos brasileiros, estão retirando a maior quantidade de aplicações no mercado de câmbio do País desde abril. Esse movimento acelera a alta do dólar, que acaba derrubando os títulos de renda fixa locais.

Aposentados, donas de casa e outros investidores individuais fizeram resgates de 13,6 bilhões de ienes (US$ 178 milhões) de fundos que aplicam no real, de 1º a 20 de setembro, segundo dados compilados pelo JPMorgan Chase & Co. A queda de 14,7 por cento do real nos últimos três meses representou uma perda de 8,8 por cento em dólares para investidores em títulos domésticos, segundo o JPMorgan. O real tem o segundo pior desempenho entre todas as moedas acompanhadas pela Bloomberg, só perdendo para o zloty, da Polônia.

Os investidores japoneses estão fugindo do mercado de câmbio brasileiro em meio aos cortes de juros pelo Banco Central, à aceleração da inflação e aos receios com o impacto da crise da dívida europeia sobre a economia mundial. Os fundos mútuos japoneses chegaram a elevar suas aplicações na moeda, ações e títulos brasileiros para 7,9 trilhões de ienes no fim de agosto, contra menos de 1 trilhão de ienes em 2009, de acordo com dados da Nomura Holdings Inc.

“Vemos sinais de que investidores japoneses estão saindo e isso é muito significativo porque seus investimentos são enormes”, disse Maurício Junqueira, que ajuda a administrar cerca de US$ 300 milhões na Squanto Investimentos e São Paulo, em entrevista por telefone. “Mesmo uma saída de 10 por cento vai causar mudanças importantes para o real.”

Recessão global

A perda nos títulos denominados em real nos últimos três meses se compara a uma queda média de 7,6 por cento na dívida de mercados emergentes, de acordo com o JPMorgan Chase & Co. Enquanto a disparada dos papéis brasileiros reduziu a taxa nos títulos de referência do mercado com vencimento em 2021 em 76 pontos-base, ou 0,76 ponto percentual, para 11,72 por cento no terceiro trimestre, a desvalorização do real eliminou os ganhos dos investidores em dólar.

O real chegou ao menor patamar em dois anos de R$ 1,9549 por dólar em 22 de setembro, levando o Banco Central a entrar no mercado de futuros pela primeira vez em dois anos para conter as perdas. A moeda desabou 19 por cento em relação ao iene, eliminando todos os ganhos desde março de 2009. Todas as 25 moedas de mercados emergentes com exceção do yuan chinês se depreciaram em relação ao dólar desde o fim de junho.

Investidores internacionais esperam que a economia mundial tenha uma recaída para a recessão, com mais de um em três especialistas prevendo uma piora acentuada dentro do próximo ano, de acordo com uma sondagem da Bloomberg conduzida em 26 de setembro.


Corte surpresa

Os fundos que aplicam do real com sede no Japão tinham US$ 44 bilhões em contratos a termo em 20 de setembro, o que equivale a aproximadamente 13 por cento das reservas internacionais do Brasil, de acordo com as estrategistas de câmbio do JPMorgan Junya Tanase e Anna Hibino. Os investidores retiraram 71 bilhões de ienes desses fundos em abril, após o terremoto e o tsunami terem deixado cerca de 19.000 mortos ou desaparecidos e causado a pior crise nuclear desde Chernobyl.

A desvalorização do real se aprofundou após o BC ter feito um corte inesperado na taxa básica Selic de meio ponto percentual para 12 por cento em 31 de agosto, mesmo após a inflação ter se acelerado para o maior patamar em seis anos. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 subiu 7,33 por cento nos 12 meses até meados de setembro, rompendo o teto da meta do governo pelo quinto mês seguido.

‘Antídoto’

Um dia após o corte de juros, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse em Brasília que a medida era um “antídoto” para enfraquecer o real, após a disparada de 46 por cento desde o fim de 2008 que prejudicou as exportações. O governo também usou o Imposto sobre Operações Financeiras sobre derivativos cambiais para conter a valorização, que levou o real ao maior nível em 12 anos de 1,529 por dólar em 26 de julho. A moeda fechou em R$ 1,8403 por dólar ontem.

“O problema com o mercado brasileiro é que existe muita coisa acontecendo ao mesmo tempo”, Flavia Cattan-Naslausky, uma estrategista da RBS Securities Inc., disse em entrevista por telefone de Stamford, no estado americano de Connecticut. A retirada dos investidores japoneses representaria “outra camada de volatilidade e correção de preço”, disse ela.

Mais de 70 por cento dos investidores japoneses nos fundos que aplicam no real são aposentados com 60 anos ou mais, de acordo com a Nomura, divisão da maior corretora do Japão. Investidores dificilmente vão acelerar os resgates porque os pagamentos mensais que eles recebem dos fundos não são afetados pelas oscilações diárias nos mercados financeiros globais, disse Yujiro Goto, um estrategista de câmbio da Nomura em Nova York. Os rendimentos dos contratos a termo do real ainda são atraentes, ele disse.

A 8,4 por cento, o rendimento implícito nos contratos a termo de três meses do real é o quarto maior entre o de 38 moedas acompanhadas pela Bloomberg.

Acompanhe tudo sobre:ÁsiaCâmbioDólarJapãoMoedasPaíses ricos

Mais de Mercados

Petrobras ganha R$ 24,2 bilhões em valor de mercado e lidera alta na B3

Raízen conversa com Petrobras sobre JV de etanol, diz Reuters; ação sobe 6%

Petrobras anuncia volta ao setor de etanol

JBS anuncia plano de investimento de US$ 2,5 bilhões na Nigéria