Fleury aposta em aquisições para fortalecer negócio. Vale investir?
Empresa investe no setor aquecido de M&A enquanto investe no atendimento domiciliar
Estadão Conteúdo
Publicado em 23 de abril de 2022 às 14h26.
Última atualização em 23 de abril de 2022 às 14h26.
Com aquisições em áreas vizinhas ao seu negócio, o grupo Fleury (FLRY3) conseguiu no ano passado fortalecer sua atividade principal: o de medicina diagnóstica. O crescimento orgânico em exames ganhou musculatura a partir de segmentos, que, a princípio, parecem distantes, como o negócio de oftalmologia e ortopedia, por exemplo. Segundo a presidente do grupo, Jeane Tsuisui, a estratégia tem garantido à empresa a construção de um ecossistema de saúde. A ideia, após as primeiras compras, é seguir consolidando o mercado de diagnósticos, diz a executiva.
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Para colocar os pés nesses novos nichos, a companhia comprou no ano passado a Vita, focada em consultas e cirurgias ortopédicas. Também concluiu as aquisições da Clínica de Olhos Dr. Moacir Cunha e do Centro de Infusões Pacaembu, ingressando em segmentos onde ainda não atuava.
"Estamos fortalecendo nosso posicionamento em medicina diagnóstica e indo além, criando outros serviços para o paciente se manter engajado em sua jornada de saúde", comenta a médica, que completou recentemente um ano à frente da empresa.
No caso da clínica de ortopedia, o grupo passou a oferecer uma consulta integrada com o diagnóstico, para não haver "tantas idas e vindas", além da própria fisioterapia e da cirurgia, quando necessária. A executiva diz que isso não apenas promove uma melhor experiência como também reduz o desperdício do sistema.
Com essa estratégia, o resultado recente já mostrou que o caminho rende frutos. Com o impulso trazido por esses novos negócios, a empresa registrou no ano passado um crescimento orgânico de 24% da área de diagnóstico.
Setor aquecido
Em um momento em que o setor de saúde fervilha com movimentos de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês), Tsuitsui garante que o grupo manterá a disciplina de capital. "Temos uma equipe de M&A, que foi fortalecida. Estamos olhando negócios com disciplina para ter o retorno adequado", diz.
Recentemente, o Fleury chegou a entrar na disputa pela compra da Alliar, dona do laboratório CDB. Depois disso, anunciou a compra do Laboratório Marcelo Magalhães, de Pernambuco, por R$ 384,5 milhões, segunda maior aquisição da história do grupo. Fora isso mostrou que mantém apetite em crescer no seu negócio chave, o de medicina diagnóstica. Dessa forma, outras aquisições no setor-chave do Fleury seguem em estudo.
A executiva afirma que, apesar de todo o setor estar atento para aquisições na área hospitalar, essa não é a estratégia do grupo. Os hospitais, segundo ela, são considerados parceiros para a empresa. "Cerca de 90% da jornada de cuidado do cliente é ambulatorial. E ainda temos uma jornada de crescimento nesse segmento", diz.
Além das aquisições, outro modelo que tem ajudado a sustentar o crescimento do Grupo Fleury é o de atendimento domiciliar - que ajudou a expandir a penetração do grupo nas regiões e ampliar a participação de mercado, sem a necessidade de abrir novos laboratórios. Segundo a presidente, o cálculo é de que seriam necessárias 26 unidades de atendimento para suportar esse crescimento.
Tsuitsui destaca que o atendimento móvel não faz na casa do paciente apenas a coleta para exames de sangue, por exemplo, mas também já permite a realização de exames mais complexos, como polissonografia e ultrassonografias.
Vale investir?
No mercado, no entanto, os investidores olham com cautela para a estratégia da empresa. No ano, a ação acumula queda de cerca de 7%.
"À medida que o Fleury se afasta gradualmente de seu negócio principal, altamente lucrativo, ainda não está claro se conseguirá manter sua lucratividade historicamente forte", apontam os analistas Samuel Alves, Yan Cesquim e Pedro Lima, do BTG Pactual.
"A empresa está apresentando bons sinais de crescimento. As aquisições, os serviços internos e a diversificação fornecem os componentes necessários. No entanto, ainda é possível que o retorno progressivo dos pacientes possa explicar parcialmente a demanda após a pandemia", afirma em relatório o analista Maurício Cepeda, do Credit Suisse.