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Euforia de investidores com impeachment pode ter vida curta

A partir de agora, a possibilidade de ganhos fica limitada por causa da dificuldade em enfrentar a crise política e econômica, na visão dos investidores


	Votação do impeachment: com processo encaminhado, investidores estão avaliando a seriedade dos problemas do país e a capacidade de Temer em resolvê-los.
 (Câmara dos Deputados/Antonio Augusto)

Votação do impeachment: com processo encaminhado, investidores estão avaliando a seriedade dos problemas do país e a capacidade de Temer em resolvê-los. (Câmara dos Deputados/Antonio Augusto)

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Da Redação

Publicado em 18 de abril de 2016 às 14h45.

Investidores em ativos do Brasil podem estar perto de descobrir que conseguir o que desejavam não é tão bom quanto parecia.

O dólar subiu e o Ibovespa caiu após a Câmara dos Deputados aprovar em votação a admissibilidade do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.

A possibilidade de ganhos de agora em diante é vista como limitada devido à dificuldade para enfrentar as crises econômica e fiscal independentemente de quem estiver no poder, segundo especialistas que acompanham o país há tempos.

Investidores compraram ativos brasileiros neste ano com base na especulação de que a saída de Dilma permitirá que um novo governo aprove medidas pensadas para tirar a maior economia da América Latina de sua pior recessão em um século e para combater a explosão do déficit orçamentário.

Mas devido à seriedade dos problemas, seu provável sucessor -- o vice-presidente, Michel Temer -- terá pouco espaço para errar.

“Tudo agora depende dos nomes da equipe econômica e dos anúncios sobre medidas de política concretas”, disse Alejo Czerwonko, estrategista de investimento em mercados emergentes do UBS Wealth Management, que administra US$ 1 trilhão em ativos por todo o mundo.

“É preciso haver uma equipe econômica com a credibilidade necessária e sinais de sucesso” na implementação de novas políticas.

A votação de domingo foi o passo mais significativo até o momento na batalha pelo impeachment de Dilma. A briga passa agora para o Senado, onde a abertura do processo de impeachment da presidente terá que ser referendada por uma maioria simples.

Se o Senado também apoiar a abertura do processo de impeachment, Dilma terá que deixar o cargo enquanto os senadores debatem o caso. O Senado, então, precisaria do voto de dois terços de seus 81 integrantes para encerrar o mandato da presidente.

Dilma, 68, negou as acusações de que alterou o orçamento do país para mascarar um rombo fiscal e jurou que não vai renunciar. Na Câmara, 367 dos 513 deputados votaram pela admissibilidade do processo de impeachment, mais do que a maioria de dois terços necessária.

O real caía 1,8 por cento, para R$ 3,5955, às 12h57 em São Paulo, depois de o banco central ter anunciado um leilão de swap reverso para conter a valorização da moeda, o que sustenta o preço e a competitividade de exportações brasileiras.

O Ibovespa recuava 0,1 por cento. Os títulos em dólar do Brasil para 2025 caíam 0,8 por cento, enquanto o custo para proteger os papéis contra um calote usando swaps de crédito de cinco anos subiam.

Os ativos brasileiros tiveram forte desvalorização no ano passado, enquanto a popularidade de Dilma despencava em meio à inflação alta, a um escândalo de corrupção sem precedentes e ao colapso dos preços das commodities.

Durante os cinco anos de mandato de Dilma, o déficit do país subiu ao maior nível em duas décadas e custou ao país o grau de investimento por agências de análise de crédito.

O real registrou o pior desempenho entre as principais moedas em 2015 com uma desvalorização de 33 por cento frente ao dólar, enquanto as ações do país tiveram forte baixa e o risco de possuir títulos do país subiu.

Com chances maiores de assumir o poder, Temer, de 75 anos, começou a traçar planos para a formação de um governo de transição, segundo um assessor envolvido na elaboração da estratégia.

Ele planeja diminuir o tamanho do governo e escolher um ministro da Fazenda que implementará políticas conservadoras do ponto de vista fiscal, segundo essa pessoa.

Muitos investidores, sem falar os brasileiros comuns, não estão convencidos de que Temer seja capaz de tirar a economia da recessão.

Uma pesquisa do Datafolha publicada neste mês mostrou que 61 por cento dos participantes apoiam a remoção de Dilma do cargo. Temer saiu-se um pouco melhor: 58 por cento pedem sua saída.

“Não estou muito otimista com o processo de impeachment como um todo -- Temer também não é nada bom”, disse Bianca Taylor, analista e estrategista de títulos soberanos da Loomis Sayles & Co. em Boston, EUA, que ajuda a administrar US$ 229,1 bilhões em ativos, incluindo títulos do governo brasileiro.

“A primeira reação seria manter-se positivo em relação ao impeachment. Mas o mercado ficará pessimista em um segundo momento”.

O otimismo do investidor provocou uma alta de 28 por cento nos títulos do Brasil em reais neste ano e um salto de 23 por cento do Ibovespa.

Os ganhos -- juntamente com a valorização de 12 por cento do real frente ao dólar -- deram ao Brasil um dos melhores desempenhos entre os principais mercados neste ano.

Para sustentar esses ganhos, o novo governo terá que mostrar que tem planos de corrigir as contas do país e recuperar a economia, disse Denise Prime, que administra US$ 4,5 bilhões em títulos de mercados emergentes na GAM UK, de Londres.

“O Brasil ainda precisa resolver problemas sérios pelo lado fiscal”, disse Prime. “Em algum ponto o mercado se concentrará novamente nisso e no que poderia ser feito e no que efetivamente está sendo feito a respeito”.

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