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Euforia com possível derrota de Dilma pode ser ouro de tolo

Para consultorias, a alta motivada pela mudança de poder não é justificada, já que o "novo presidente não terá uma varinha mágica" para os problemas do país

Aécio durante comício no Rio: Bovespa teve uma série de altas motivada por especulações de que o tucano poderia ganhar a eleição (Dado Galdieri/Bloomberg/Bloomberg)
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Da Redação

Publicado em 22 de outubro de 2014 às 15h41.

Nova York - Nas últimas 3 semanas, o Ibovespa teve 2 dias com altas diárias que superaram qualquer uma registrada nos últimos 27 meses, motivadas por especulações de que Aécio Neves poderia ganhar a eleição presidencial.

A Silvercrest Asset Management Group e O Wells Fargo Private Bank entendem que esses avanços “são como ouro de tolo”.

“Nós estamos olhando para além da eleição e analisando o que o Brasil precisa fazer para voltar aos eixos. E o país tem muito a fazer”, disse Patrick Chovanec, estrategista-chefe da Silvercrest, em entrevista por telefone em 20 de outubro, de Nova York.

Mesmo se Dilma não for eleita, “o novo presidente não terá uma varinha mágica para corrigir tudo”.

Os problemas pelos quais a economia brasileira está passando no momento, como crescimento perto de zero, inflação em alta e queda nos preços internacionais de commodities, entre outros, são graves; 2015 será um ano difícil para qualquer um que vencer, segundo Chovanec e Sean Lynch, do Wells Fargo.

Se por um lado uma vitória de Aécio provavelmente geraria ganhos adicionais, com operadores otimistas quanto à tomada de medidas para atrair investimentos, esses lucros podem não durar muito.

“A primeira coisa da qual sempre precisamos nos lembrar é que o Brasil é um país grande e tem muitos eleitorados”, disse Paulo Bilyk, diretor de investimentos em São Paulo da Rio Bravo Investimentos, que gerencia R$ 10 bilhões (US$ 4 bilhões) em ativos.

“O país geralmente se empolga com o que a vitória de um sobre o outro implica”.

Movimentos de mercado

O Ibovespa recuou 3,4 por cento ontem, atingindo o nível mais baixo desde junho, e o real registrou a maior queda dos mercados emergentes depois que uma pesquisa do Datafolha mostrou que Dilma teria 46 por cento dos votos no segundo turno, em 26 de outubro, contra 43 por cento de Aécio.

Trata-se de uma inversão nos ganhos registrados depois que Aécio conseguiu um surpreendente segundo lugar no primeiro turno, no dia 5 de outubro. O Ibovespa saltou 4,7 por cento no dia seguinte, com a Petrobras avançando 11 por cento, o maior rali desde 2008.

O índice subiu outros 4,8 por cento no dia 13 de outubro depois que uma pesquisa do Sensus mostrou Aécio, ex-governador do estado de Minas Gerais, com 52 por cento de apoio dos eleitores e Dilma com 37 por cento.

Esses números levaram alguns investidores a começarem a antecipar que uma administração de Aécio adotaria medidas no ano que vem para reduzir a inflação e estimular o crescimento em uma economia atolada em sua primeira recessão desde 2009.

Nomeação de Fraga

Aécio se comprometeu a nomear Armínio Fraga, O ex-banqueiro central que ajudou o Brasil a evitar um calote em 1999, como seu ministro da Fazenda se vencer a eleição.

Fraga disse em uma entrevista, no dia 6 de outubro, que reduziria os gastos para impulsionar o superávit primário do governo ao longo dos próximos dois ou três anos.

Até mesmo uma vitória de Dilma poderia dar certo para os investidores, segundo Bilyk, da Rio Bravo.

Embora o maior risco seja que Dilma continue aumentando os gastos, Bilyk disse que consegue imaginar um cenário em que o desempenho dela “não é nada especial, mas também não é um desastre”.

A Pacific Investment Management, que gerencia o maior fundo de bonds do mundo, reiterou ontem sua visão positiva a respeito dos bonds brasileiros, dizendo que espera que as políticas econômicas melhorem tanto em um governo de Dilma quanto em um de Aécio.

Com a aproximação do segundo turno, as oscilações do mercado aumentaram. A volatilidade do Ibovespa atingiu seu nível mais alto em dois anos nesta semana.

A diferença entre a volatilidade de 90 dias do Ibovespa e do MSCI Emerging Markets Index chegou ao nível mais amplo desde 1999, mostram dados compilados pela Bloomberg.

São Paulo - Algumas semanas atrás, era improvável que o segundo turno das eleições 2014 acontecesse entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB). Marina Silva (PSB) era a candidata em segundo lugar nas pesquisas de intenção de votos. Aécio, no entanto, virou o jogo e será o candidato a concorrer ao cargo nesse segundo turno. A seguir, veja outras viradas importantes da corrida eleitoral brasileira.
  • 2. Collor X Lula (1989)

    2 /8(Lula: Fabio Rodrigues Pozzebom/AGÊNCIA BRASIL; Collor: Orlando Brito/Veja)

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    As eleições presidenciais de 1989 marcaram uma grande virada. Em abril, Collor tinha apenas 17% das intenções de voto para o cargo de presidente. Após um crescimento grande, Collor passou no primeiro turno com 28% dos votos e Lula com 16%. No segundo turno, Collor venceu as eleições.
  • 3. FHC X Lula (1994)

    3 /8(Lula: AGÊNCIA BRASIL; FHC: Germano Lüders/EXAME)

  • Nas eleições presidenciais de 1994, Lula sofreu outra virada. O candidato do PT liderava as pesquisas. Em maio, tinha 42% das intenções de votos. Fernando Henrique Cardoso, candidato do PSDB, por outro lado, tinha 16%. Com a consolidação do Plano Real, FHC ultrapassa Lula no início de agosto. No final das contas, Fernando Henrique vence as eleições ainda em primeiro turno, com 54% dos votos.
  • 4. Dilma X Serra (2010)

    4 /8(Antônio Cruz/AGÊNCIA BRASIL)

    Serra liderava as pesquisas em abril de 2010. O candidato do PSDB tinha 38% das intenções de voto, enquanto Dilma tinha 28%. Em maio, no entanto, após uma subida rápida de Dilma, os dois ficaram empatados com 37% das intenções. Após o primeiro turno, Dilma passa em primeiro lugar, com 46% dos votos e Serra, com 32%.
  • 5. Dilma X Serra (2º turno de 2010)

    5 /8(Wilson Dias/AGÊNCIA BRASIL)

    Antes mesmo que o primeiro turno acontecesse, as pesquisas mostravam que Dilma perderia para Serra. O candidato do PSDB levaria o segundo turno com 50% das intenções, contra 40% para a presidenciável do PT. Dilma vira, eventualmente, o jogo e vence as eleições.
  • 6. Anastasia X Helio Costa (MG - 2010)

    6 /8(Anastasia e Helio Costa: ABr)

    Antonio Anastasia (PSDB) buscava reeleição ao cargo de governador de Minas Gerais em 2010. Seu principal adversário era Helio Costa (PMDB). As pesquisas apontavam Helio Costa à frente nas intenções de voto. Em julho, Costa tinha 44% das intenções de voto, enquanto Anastasia tinha apenas 18%. Em setembro, Anastasia ultrapassou Costa nas pesquisas e foi eleito ainda em primeiro turno, com 62% dos votos.
  • 7. Fernando Haddad (Prefeitura de São Paulo - 2012)

    7 /8(Paulo Fridman/Bloomberg)

    Na campanha para prefeitura de São Paulo de 2012, ora as intenções de voto mostravam José Serra (PSDB) em primeiro, ora o candidato Celso Russomanno (PRB). Lá embaixo, de maneira discreta corria Fernando Haddad, candidato do PT. Até agosto, Haddad sequer pontuava dois dígitos nas intenções. Até a última pesquisa de intenção de votos daquelas eleições, divulgada dias antes do primeiro turno, Russomanno estava em primeiro e Serra em segundo. No final das contas Serra e Haddad passaram para o segundo turno, o qual Haddad venceu com 55% dos votos.
  • 8. Agora, veja políticos votando neste domingo

    8 /8(Reuters)

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