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Estatais elétricas concentram incertezas eleitorais na Bovespa

Foco do investidor na economia mundial e a percepção de que o Brasil não terá ruptura na política econômica tem feito a maioria das ações da Bovespa passar incólume ao cenário de eleições presidenciais. Exceto no setor elétrico.

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 24 de julho de 2010 às 10h59.

São Paulo- O foco do investidor na economia mundial e a percepção de que o Brasil não terá ruptura na política econômica, vença José Serra (PSDB) ou Dilma Rousseff (PT), tem feito a maioria das ações da Bovespa passar incólume ao cenário de eleições presidenciais. Mas a conversa não é tão simples quando se trata do setor elétrico.

Por razões distintas, estatais de energia têm concentrado as atenções de analistas sobre o futuro pós-eleições, seja pela expectativa de que as incertezas sobre elas cresçam, como Eletrobras, ou diminua, como Copel e Cesp.

"A eleição não é o único 'driver' no setor, mas sem dúvida entra na conta dos investidores", diz o diretor de pesquisa da corretora Geração Futuro, Vágner Salaverry.

Na Eletrobras, o temor é sobre como vai evoluir a partir de 2011 o interesse manifestado pelo atual governo de tornar a companhia uma "Petrobras" do setor elétrico. Um dos riscos é a empresa se envolver em investimentos que gerem retorno menor aos acionistas.

Mesmo com a promessa de ampliar a governança corporativa e melhorar o tratamento aos minoritários, a Eletrobras não conseguiu evitar que sua ação ordinária acumulasse uma queda de quase 13 por cento em 2010 até 22 de julho, contra variação negativa de 4,1 por cento do Ibovespa no período.

Já para Cesp e Copel a situação é outra.

A Cesp tem amargado penúria na bolsa em meio às arrastadas conversações entre os governos paulista, seu controlador, e federal pela renovação de concessões de hidrelétricas que vencem em 2015. A decisão ficará para o próximo governo. Assim como ela, outras estatais podem ser prejudicadas se, ao final dos contratos, a União optar por uma nova licitação.

Há ainda discussões em torno da privatização da geradora paulista, possibilidade que levou a Itaú Corretora a recentemente elevar a recomendação do papel para "overweight", por entender que discussões sobre o assunto devem turbinar o papel nos próximos meses.

"Se o governo de São Paulo se mantiver com o PSDB, no caso de uma vitória de Serra para presidente haveria um alinhamento entre os governos federal e paulista, o que poderia favorecer uma venda da Cesp no futuro", diz o analista Osmar Camilo, da corretora Socopa.

Para Copel, estatal de energia do Paraná, a previsão é de um novo ciclo para a companhia com a saída do atual governador Roberto Requião (PMDB), para quem analistas entortam o nariz devido a medidas polêmicas tomadas nos últimos anos.

"Mudando o governo, se o mercado julgar que não é na linha do atual, a ação da Copel tem como mexer", avalia o gerente de pesquisa da corretora Planner, Ricardo Tadeu Martins.

Pelo sim, pelo não, algumas corretoras preferem não pagar para ver. A Geração Futuro tirou de suas carteiras todo investimento em ações do setor elétrico de controle estatal.

De qualquer forma, o cenário é bem diferente do visto às vésperas da última mudança de partidos no governo. Em 2002, a bolsa paulista chegou a acumular queda superior a 60 por cento no pior momento daquele ano, em outubro, diante de temores com os rumos do país no caso de vitória do petista Luiz Inácio Lula da Silva.

Sem surpresas nos dois mandatos de Lula, com crescimento econômico e resiliência do país a crises externas, o Ibovespa --principal índice de ações brasileiras-- subiu 480 por cento desde o começo de 2003, contra alta de apenas 24 por cento do Dow Jones, de Nova York. Calculada em dólares, a valorização da bolsa paulista vai a mais de 1 mil por cento.

Ingerência política?

O setor de telecomunicações, em menor grau, também chama a atenção de investidores devido ao Plano Nacional de Banda Larga, que no início de 2010 trouxe bastante volatilidade às ações da Telebrás. O governo pretende garantir oferta de banda larga em 40 milhões de domicílios até 2014, e prevê uma capitalização de 3,2 bilhões de reais da Telebrás.

"Talvez tenha alguma mudança razoável se for a Dilma ou o Serra eleito na execução desse processo", afirma Camilo, da Socopa.

Em comum com Telebrás e Eletrobras, outras grandes estatais com ações na carteira teórica do Ibovespa, como Petrobras e Banco do Brasil, carregam o risco eleitoral.

"Vão aparecer especulações de como vai ficar a atual gestão, se vai manter o mesmo quadro, porque isso implica continuidade de estratégias", diz Martins, da Planner.

Outro prisma é sobre o peso das nomeações de cargos nas estatais, a depender dos resultados das eleições no Congresso. Para a consultoria estrangeira Eurasia, se Dilma vencer e o PT tiver bancada maior no Senado, "o PMDB pode ter menos peso em indicações nas estatais onde tem tido bastante participação, como a Eletrobras".

De toda forma, na Petrobras esse risco tem ficado em segundo plano. A atenção está voltada ao aumento de capital da empresa, previsto para setembro próximo.

"Isso sendo resolvido, abre espaço para perspectiva de crescimento da companhia, independentemente de quem ganhe a eleição", acredita Camilo, da Socopa, em referência ao nível baixo de preço das ações da petrolífera nos últimos meses.

Quanto ao BB, na opinião de profissionais do mercado, a sucessão presidencial deve determinar a continuidade do uso da instituição como instrumento para expansão do crédito no país.

"Se o Serra ganhar, o uso político do BB deve diminuir. Não é que ele não usaria politicamente o banco, mas talvez a agressividade com que o BB diminuiu os spreads para atender a uma demanda de crédito que estava reprimida nos últimos anos não seja compartilhada por Serra", avalia Camilo.

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