Larry Fink, CEO da BlackRock: "nada pode tirar mais gente da pobreza do que o capitalismo" (Sean Gallup/Getty Images)
Repórter
Publicado em 26 de março de 2024 às 15h01.
Última atualização em 26 de março de 2024 às 15h23.
Adam Smith dizia ainda no século XVIII que o acúmulo de capital é uma das explicações para o fato de alguns países serem mais ricos do que outros. O tópico, abordado há quase 300 anos no clássico "Riqueza das Nações", foi tema da carta anual de Larry Fink, CEO da BlackRock. Para Fink, não só o acúmulo, mas a forma como é feito, é determinante para garantir crescimento econômico sustentável e uma das razões de os Estados Unidos serem a maior potência do mundo.
"Na minha opinião, esta é a lição mais importante da história económica recente: os países que visam a prosperidade não precisam apenas de sistemas bancários fortes – eles também precisam de mercados de capitais fortes", afirma Larry Fink.
Esse grande diferencial, aponta o CEO da BlackRock, foi evidente durante a crise de 2008. Ele defende que, na época, os Estados Unidos se recuperaram mais rapidamente do que qualquer outra nação desenvolvida devido à força do mercado de capitais, enquanto a Europa, com maior dependência dos bancos para financiar a economia, ficou "congelada".
"É claro que os bancos americanos tiveram de reforçar os padrões de capital e reduzir os empréstimos. Mas como os Estados Unidos tinham um conjunto secundário de dinheiro mais robusto - os mercados de capitais - o país conseguiu recuperar muito mais rapidamente."
À frente da maior gestora do mundo, com US$ 10 trilhões em investimentos, Larry Fink é uma das figuras mais importantes do mercado financeiro mundial. Não à toa, é constantemente consultado por chefes de Estado e formadores de políticas econômicas. Ele afirma que, somente no ano passado, visitou 17 vezes. A constatação, para ele, foi clara: "cada vez mais países reconhecem o poder dos mercados de capitais americanos e querem construir os seus próprios. É claro que existem vários. São cerca de 80 bolsas no mundo. Mas os investimentos ainda são pequenos."
Apesar das tentativas, Larry Fink pontua que a parte cultural sobre como diferentes sociedades alocam suas poupanças pode ser determinante para a prosperidade de um país.
O Japão, segundo Fink, seria um exemplo de alocação não tão eficiente. Dada a idade da população e maior propensão à poupança, o país tem uma das maiores reservas do mundo. Mas parte significativa fica em bancos. Um dos desafios do país, pontua o CEO da BlackRock, é transferir esse dinheiro para o mercado de capitais.
A situação, no entanto, seria ainda mais delicada na Índia, segundo o CEO, onde as reservas costumam ser feitas em ouro.
"A commodity teve um desempenho inferior ao do mercado de ações indiano, revelando-se um investimento abaixo da média para investidores individuais. Nem investir em ouro ajudou a economia do país. Mesmo quando alguém coloca o seu dinheiro num banco, há um efeito multiplicador porque o banco pode usar esse dinheiro para financiar uma hipoteca. Mas ouro? Ele apenas fica em um cofre. Pode ser uma boa reserva de valor, mas o ouro não gera crescimento econômico."
Esses fatores, afirma Larry Fink, devem ser cada vez mais determinantes, conforme a população mundial envelhece e aumenta a expectativa de vida. Em sua carta, por exemplo, ele traz um estudo da OCDE que afirma que a partir de 2035 o mercado de trabalho do Brasil passará a encolher.
"Em meados do século, uma em cada seis pessoas a nível mundial terá mais de 65 anos, contra uma em cada 11 em 2019. Para dar apoio a essa população, os governos terão de dar prioridade à construção de mercados de capitais robustos como o dos Estados Unidos."
Para Fink, nada pode tirar mais gente da pobreza do que o capitalismo. "Nenhum outro modelo econômico pode nos ajudar a alcançar a esperança de liberdade financeira – quer a queiramos para nós próprios ou para o nosso país."