Um ano depois de abrir capital, Inter pode fazer uma oferta subsequente. Foram contratados os bancos Bradesco BBI, Goldman Sachs, BTG Pactual, J.P. Morgan, Santander e Caixa Econômica Federal como coordenadores (Cauê Diniz/B3/Divulgação)
Natália Flach
Publicado em 11 de julho de 2019 às 12h46.
Última atualização em 11 de julho de 2019 às 16h36.
São Paulo - Diferentemente do imaginário popular que diz que os mineiros são discretos, o banco Inter tem chamado bastante atenção para além das montanhas de Minas Gerais. Prova disso são os 10.000 clientes que, em média, abriram conta no banco em dias úteis de abril a junho, levando o banco a alcançar a marca de 2,5 milhões de correntistas, de acordo com prévia operacional divulgada nesta quinta-feira (11).
Não à toa, as ações do banco da família Menin — que também é dona da construtora MRV — acabou atraindo o interesse de investidores. Em seu primeiro ano de negociação na bolsa, recém completado na quarta-feira (10), os papéis do Inter se valorizaram 511%. Somente em 2019, o avanço foi de 107% (considerando a cotação do início da tarde desta quinta-feira, quando as ações caíam quase 5% para 13,30 reais). Procurado, o banco não se pronunciou.
Mas o que explica esse salto? Para Rafael Passos, analista da Guide Investimentos, são dois motivos: a melhora dos resultados operacionais e a possibilidade de uma oferta subsequente de certificados de depósito de ações (chamadas units) que pode chegar a 1 bilhão de reais.
Apesar de ainda não ter aprovado a operação, o Inter contratou o Bradesco BBI, Goldman Sachs, BTG Pactual, J.P. Morgan, Santander e Caixa Econômica Federal como coordenadores da potencial oferta, de acordo com fato relevante divulgado nesta quinta. "Até o presente momento, o banco não definiu nem aprovou a efetiva realização de qualquer oferta pública de distribuição de units, tampouco seus termos e condições, ou quaisquer outras possíveis operações para captação de recursos no Brasil ou nos Estados Unidos", diz o comunicado ao mercado.
Caso decida levar adiante o plano, a emissão pode ser a porta de entrada de investidores estrangeiros no banco. "Existe a possibilidade de algum investidor estratégico entrar na operação do banco", diz Passos. É bom lembrar que, no dia 17 de abril, o presidente Jair Bolsonaro autorizou o Inter a ter até 100% de capital estrangeiro.
Mesmo com tantas novidades a caminho, a Guide está neutra nos papéis do Inter. "É uma ação cara se comparada a pares como Bradesco e Itaú, mas vemos uma mudança estrutural no setor bancário, e o Inter é um dos expoentes de modelos menos burocráticos e tarifas reduzidas."
Outra casa que está neutra é o Bradesco BBI, segundo relatório de final de maio. "Dadas incertezas se o Inter pode aumentar sua receita (por meio de taxas ou juros), deve haver espaço para ganhos de eficiência no caminho, graças ao seu modelo digital. Mas nossa recomendação permanece neutra, já que vemos desafios de execução", escreve Rafael Frade, analista do Bradesco BBI.
Já a área de análise do Santander está mais otimista. Em relatório de meados de junho, escreve que o Inter "possui a melhor história de banco digital que ouvimos até agora. Sua estratégia global é desafiadora, mas viável, em nossa visão — pois possui ampla oferta de produtos e serviços; está crescendo rapidamente, mas sem movimentos desnecessariamente apressados; suas operações são fundamentadas em uma combinação de um banco existente com estrutura e plataformas tecnológicas; além de ter um histórico comprovado", diz Henrique Navarro, analista do Santander. A recomendação da casa é manter os papéis.
Resultado
No segundo trimestre, a originação de crédito atingiu 905 milhões de reais, crescimento de 43% em relação ao mesmo período do ano passado. O destaque ficou por conta da concessão de crédito imobiliário, graças à proximidade do banco com a construtora MRV. Entre abril e junho, a concessão desse tipo de financiamento chegou a 312 milhões de reais, alta de 43% ante o mesmo período de 2018.
Já o crédito para empresas cresceu 62% para 398 milhões de reais, enquanto o crédito consignado (que é concedido 100% digitalmente), atingiu 195 milhões de reais, alta de 28%frente ao primeiro trimestre de 2019.
A prévia operacional não mostra o lucro do banco, no entanto, no primeiro trimestre, o resultado operacional líquido foi de 12,1 milhões de reais, alta de 15,7% em relação ao mesmo período de 2019. Só que, na comparação com o quarto trimestre, a queda foi de 46%, já que a instituição obteve 22,3 milhões de reais.
"Tipicamente nosso primeiro trimestre é sempre o pior. No caso, a gente teve um impacto direto do IGP-M, do custo para montar a nossa plataforma e do aumento do provisionamento do cartão crédito. Não dá para montar um banco, o sexto maior, sem investimento e sem trazer gente num primeiro momento", afirmou João Vitor Menin, presidente do Inter, na conferência de resultados relativos aos primeiros meses de 2019. "O Inter vai além do crédito, temos uma parte de serviços que tende a escalar à medida que a gente tenha de 3,5 milhões e 4 milhões de correntistas."
Desafios tecnológicos
Por medida de segurança, o Inter suspendeu, em 17 de junho, o acesso dos clientes às contas correntes até que uma falha no sistema fosse corrigida. Por causa de um erro, as contas apareciam negativadas ou zeradas. No mesmo dia, o problema foi resolvido, mas houve grande repercussão nas mídias sociais. Em nota, a instituição afirmou que “o fato não representou prejuízos financeiros para nenhum correntista”.
Esta não foi a primeira vez que o Inter se viu em meio a um imbróglio tecnológico. Em maio do ano passado, houve vazamento de dados de quase 20 mil correntistas, pelo qual o banco teve de pagar uma multa de 1,5 milhão de reais.