BMF&Bovespa: Azambuja comentou que o mau humor do mercado com as empresas do grupo X dificulta a entrada de projetos pré-operacionais na Bolsa brasileira (Yasuyoshi Chiba/AFP)
Da Redação
Publicado em 9 de julho de 2013 às 19h05.
Rio de Janeiro - Conhecido como "Eike Batista do Sul", o paranaense Alexandre Souza Azambuja fez nesta terça-feira, 09, o sexto pedido de aval deste ano na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para registro de companhia aberta. A BR Night Entertainment S.A. é a solicitação da vez. O empresário desenhou um modelo de negócio que prevê a listagem de startups (empresas iniciantes) pré-operacionais na BM&FBovespa - daí a associação com o nome do bilionário.
Embora mantenha os pedidos de registro em época de "vacas magras", Azambuja comentou que o mau humor do mercado com as empresas do grupo X, sob comando de Eike Batista, dificulta a entrada de projetos pré-operacionais na Bolsa brasileira. Azambuja, CEO da Templars Trust (que deu origem a uma série de empresas pré-operacionais), admitiu que a "maré revolta" fez com que alterasse planos para algumas das empresas pertencentes à holding.
"Para nós, é sempre ruim. Quando está dando certo você não é bom como Eike Batista. Quando ele vai mal o mercado pensa: se até Eike está dando errado, imagina o resto", falou Azambuja em tom de zombaria.
Em entrevista ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, ele foi taxativo em afirmar que houve mudança de ânimo de investidores e da própria Bolsa para projetos de startups. O "efeito X", segundo o empresário, ocorre até para ofertas de R$ 20 milhões a R$ 50 milhões, cifra modesta frente à captação feita pelas companhias de seu mentor.
A Templars Trust cria e prepara pequenas empresas pré-operacionais sem ativos para ir ao mercado, sob inspiração nas Public Shells norte-americanas. O objetivo é capitalizar as companhias por meio de leilões na Bolsa para venda de participações acionárias. A diferença é que Azambuja negocia previamente com os futuros investidores. Depois da listagem, o caminho seria fazer o que o empresário chama de fusão reversa. Nela, a companhia ainda sem ativos - mas listada e atendendo a requisitos de governança corporativa - se funde com outra que está fora do mercado acionário.
As nuvens negras que pairam sobre o mercado mudaram a estratégia para a Atletas Brasileiros S.A., primeira empresa que a Templars pretende levar à Bovespa. O modelo inicial seria captar recursos na Bolsa para então comprar os direitos econômicos de jogadores de futebol, principal ativo da companhia. Ao perceber uma maior desconfiança, a lógica foi revertida: Azambuja vendeu o controle da companhia para o Paraná Clube e tornou a Templars minoritária no negócio. Com isso, a empresa chegará à Bolsa com um banco de atletas.
"O desgaste do modelo aumentou com a derrocada das X. Percebemos que a própria Bolsa ficou desconfortável e resolvemos tornar a companhia operacional antes de fazer uma oferta primária", diz. O mesmo está sendo feito com a companhia de saneamento Ectas.
Apesar de constatar o revés de Eike, Azambuja disse que o empresário foi fundamental para quebrar paradigmas no mercado brasileiro sobre companhias pré-operacionais. "É dele o mérito de inaugurar aqui esse modelo, que lá fora é comum."
O CEO da Templars cita a petroleira HRT como outra companhia que apostou na ida ao mercado antes da maturação do negócio e também "errou a mão". Mas frisa que o setor de petróleo, ao contrário das companhias que toca, tem muito risco e exige capital intensivo. Azambuja admite que tem sido alvo de brincadeiras no mercado. "Ser discípulo de Eike agora virou maldição."
Apesar da diferença de tamanho entre a Templars e o império X, os controladores se assemelham em carisma e ambição. Recordista em pedidos de registro de companhia aberta na CVM, Azambuja recebeu o aval para 14 delas.
No momento, outras seis estão na fila do órgão regulador: Florestal Brasileira S.A., CB3P, Deluxe Motor, Templar Web, Templar Pictures e BR Night Enterteinment. Ainda este ano serão encaminhados pedidos para a Templars Consult e a Vinícolas Brasileiras.
A justificativa para seguir com os registros é um projeto de longo prazo e a crença de que as condições do mercado de capitais tendem a melhorar neste segundo semestre, favorecendo as ofertas de ações.
A meta do empresário curitibano é montar uma "linha de produção" de 100 companhias por ano, ou seja, criar mil novas companhias no País em dez anos. "É o Projeto Prometeus: roubar o fogo do Olimpo e entregar para o empresário comum", declarou, em uma frase digna de Eike Batista.