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Duas ameaças ao otimismo do mercado ganham alívio

Dois temores do mercado explicam a baixa volatilidade do câmbio, a queda dos juros e a alta da bolsa para nível recorde dos últimos dias

Bolsa: riscos substanciais permanecem no radar, como o de a segunda denúncia contra o presidente Temer (Paulo Whitaker/Reuters)

Bolsa: riscos substanciais permanecem no radar, como o de a segunda denúncia contra o presidente Temer (Paulo Whitaker/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 18 de setembro de 2017 às 16h27.

São Paulo - Os indicadores mais recentes de retomada do crescimento ajudam a aliviar dois dos maiores temores do mercado: o de deterioração fiscal adicional e o de eleição de um candidato populista em 2018.

Essa percepção explica a baixa volatilidade do câmbio, a queda dos juros e a alta da bolsa para nível recorde dos últimos dias. Riscos substanciais, contudo, permanecem no radar, como o de a segunda denúncia contra o presidente Temer, mesmo não ameaçando o seu mandato, atrapalhar as reformas, e o de reversão no cenário externo benigno.

“À medida que você tem mais crescimento, há um efeito fiscal, com a arrecadação melhorando. Além disso, na área política, candidatos com perfil mais ortodoxo tendem a ter, na margem, mais suporte”, diz Rodrigo Borges, diretor de renda fixa da Franklin Templeton no Brasil. Ao mesmo tempo, o nível de crescimento ainda é longe de ser forte o suficiente para barrar a queda dos juros e a taxa básica pode chegar a 7% ou menos no final do atual ciclo de cortes, avalia.

A arrecadação de agosto, que deve ser divulgada nos próximos dias, tende a refletir a recuperação da economia, disseram à Bloomberg duas pessoas da equipe econômica com conhecimento direto do assunto. As fontes, que falaram na semana passada em condição de anonimato, relataram que os dados apurados pelos técnicos do governo surpreenderam positivamente em relação ao que era esperado.

“O que estamos vendo é uma recuperação cíclica e eu penso que ela vai provavelmente ser mais forte do que a maioria dos analistas espera”, diz Neil Shearing, economista-chefe para mercados emergentes da consultoria Capital Economics. Ele prevê crescimento de 1% do PIB este ano e 2,8% em 2018, acima da mediana das expectativas do mercado. Isso é apenas uma retomada após a “mais profunda recessão da história” vivida pelo país, diz Shearing, para quem os economistas tendem a subestimar as recessões e também os momentos de recuperação.

"Há sinais mais consistentes de que a economia está se recuperando e o mercado de trabalho surpreendeu nas últimas leituras”, diz Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho. Ainda não é possível falar em um ritmo forte de expansão, mas o terceiro trimestre começa a apontar para um crescimento econômico mais homogêneo, após o PIB ser sustentado pela agricultura no primeiro trimestre e pelo consumo no segundo.

Diante da economia apontando um crescimento maior, o mercado tem conseguido manter o humor positivo nas últimas semanas, mesmo em meio ao risco de a reforma da Previdência atrasar à medida que o Congresso concentra foco na denúncia contra Temer. "O calendário está ficando estreito para aprovar a reforma, que é bastante complexa e demanda negociação", diz Rostagno.

Rostagno pondera que, por ora, o cenário benigno no exterior favorece o Brasil, mas uma eventual reversão deste quadro lá fora poderá ter impacto nos ativos brasileiros se coincidir com um adiamento da reforma da Previdência no Brasil. "A chance de virar o ano sem reforma é real e pode estressar o mercado."

Shearing, da Capital, reconhece que, em alguma medida, uma retomada mais forte da economia deve ajudar a fortalecer a arrecadação, mas não diminuirá a importância das reformas. “O que é necessário para colocar a posição fiscal em um equilíbrio estável é uma reforma estrutural”, diz o economista, para quem o risco de um candidato populista em 2018 também persiste.

Gráfico da Bloomberg sobre câmbio

- (Gráfico/Bloomberg)

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