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Dólar teve ano mais fraco em cinco décadas: o que esperar para 2026?

No Brasil, moeda americana acumula baixa de quase 10% no ano; fatores internos e externos explicam o movimento

Dólar: queda frente às principais moedas do mundo (Julia Kuznetsova/Getty Images)

Dólar: queda frente às principais moedas do mundo (Julia Kuznetsova/Getty Images)

Letícia Furlan
Letícia Furlan

Repórter de Mercados

Publicado em 30 de dezembro de 2025 às 08h36.

Quando 2025 começou, o dólar estava na casa dos R$ 6, mas o mercado já previa que a moeda americana perderia força ao longo do ano. No primeiro boletim Focus de janeiro, as instituições financeiras previam o dólar abaixo desse patamar, mas ainda não contavam com a desvalorização que viria a seguir. Até o fechamento desta segunda-feira, 29, a divisa acumulava baixa de 9,85% no ano.

O primeiro semestre de 2025 foi um dos períodos mais fracos da moeda desde 1973, segundo relatório do UBS. Não foi somente no Brasil: moedas de outros emergentes da América Latina, como Colômbia e México, tiveram valorização ainda maior sobre a divisa americana.

Já os últimos meses foram marcados por forte volatilidade. Desde que as eleições presidenciais de 2026 no Brasil começaram a fazer preço no mercado, o dólar se afastou das mínimas do ano, mas longe de recuperar o patamar em que estava quando 2025 começou.

Esse comportamento do dólar no ano se justifica por uma série de fatores econômicos e políticos, dentro e fora do Brasil.

Por aqui, o contexto atual, marcado pela taxa básica de juros a 15% ao ano, funciona como um forte escudo técnico, atraindo operações de carry trade. Nessa dinâmica, investidores tomam empréstimos em uma moeda com taxa de juros baixa e investe em outra moeda com taxa de juros mais alta, obtendo lucro nesse diferencial.

Enquanto a Selic se mantém acima dos dois dígitos, temos o Fed (Federal Reserve) em um ciclo de fim de aperto monetário, o que alivia a pressão sobre moedas emergentes.

Por outro lado, o desequilíbrio das contas públicas continuou pesando sobre o real. É uma variável que aumenta o risco de investimento no Brasil, o que limita a entrada de dólares no país e, via de regra, impede uma valorização mais acentuada do real.

Nessa reta final de 2025, o tabuleiro político começou a mover suas peças e fazer preço no mercado, sobretudo após o anúncio da pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro à presidência.

Para onde irá o real em 2026?

Apesar dos ruídos, o real demonstrou resiliência este ano, mantendo uma trajetória de valorização contra o dólar, especialmente no segundo semestre do ano, quando a divisa americana chegou à mínima de R$ 5,27.

Quando os investidores veem chances de uma política fiscal mais prudente no país, a moeda brasileira tende a se valorizar. Além disso, a expectativa de cortes na Selic abre espaço para um maior fluxo de recurso estrangeiro na bolsa, mesmo com a forte valorização do Ibovespa ao longo do ano.

Em relatório, o BNP Paribas prevê que a moeda brasileira experimente uma valorização gradual após o terceiro trimestre de 2026. Segundo a casa, a expectativa é que o dólar se mantenha relativamente forte no início de 2026, atingindo R$ 5,60 no terceiro trimestre, mas o real pode se valorizar após as eleições de outubro de 2026, chegando a R$ 5,20.

A valorização do real após as eleições está ligada à redução da incerteza política, que será um fator decisivo para os investidores. As eleições presidenciais e parlamentares no Brasil, agendadas para outubro, são vistas como um ponto crítico.

a Ágora Investimentos, do Bradesco, vê o dólar chegado a R$ 5,50 no fim de 2026. Em relatório, analistas avaliam que o movimento de desvalorização do dólar tende a ser duradouro, especialmente devido ao “enorme desafio fiscal nos Estados Unidos”.

Ainda que em patamares elevados, os juros também sustentam fluxo para a renda fixa.

Como o dólar se comportou no ano?

Em seu relatório de novembro, o UBS destacou que o dólar teve seu pior semestre desde 1973 e prevê que essa fraqueza continue em 2026, especialmente no primeiro semestre. A principal razão para essa previsão é a expectativa de mais cortes nas taxas de juros pelo Fed, que devem continuar pressionando a moeda.

O banco projeta que a taxa EUR/USD alcançará 1,20 até o final de 2026, uma forte valorização do euro frente ao dólar. A visão do UBS é que a moeda americana enfrentará dificuldades para recuperar o terreno perdido, principalmente devido aos déficits fiscais e de conta-corrente dos EUA e à contínua diversificação global das reservas internacionais.

O dólar poderá ficar atrás das principais moedas do G10, com uma queda nas taxas de câmbio em relação a moedas como o euro e o dólar australiano.

O BNP Paribas compartilhou uma visão similar de fraqueza para o dólar durante 2025. A força do euro foi um fator central, impulsionada pelo aumento das taxas de hedge por investidores europeus.

Para 2026, o banco francês projeta um dólar ainda enfraquecido, embora com uma trajetória mais equilibrada. A moeda perderá terreno contra outras de alto rendimento, como o euro e as moedas de mercados emergentes, mas manterá alguma força contra o iene japonês.

A previsão de BNP Paribas para o EUR/USD é de 1,20 até o final de 2026, e o dólar poderá continuar sua queda frente ao yuan chinês.

Segundo relatório da BlackRock, 2025 foi marcado por uma fraqueza do dólar, que ajudou a impulsionar os mercados de títulos dos mercados emergentes, especialmente em moeda local.

A BlackRock não forneceu uma previsão clara para a taxa de câmbio do dólar em 2026, mas o banco manteve uma posição tática de que a moeda pode continuar a sofrer com a política de flexibilização das taxas de juros do Fed.

O banco também mencionou que a incerteza sobre a direção do dólar será um tema importante, especialmente no contexto da elevada dívida pública dos EUA e da crescente adoção de stablecoins, que podem alterar a dinâmica da moeda.

A previsão para a moeda americana é de uma continuidade da fraqueza em um ambiente de incertezas, o que pode beneficiar mercados emergentes, especialmente em termos de dívida em moeda local.

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