Interior da bolsa brasileira de valores, a Bovespa: saída de recursos no meio da tarde fez o dólar renovar máximas (Nacho Doce/Reuters)
Da Redação
Publicado em 11 de dezembro de 2012 às 16h47.
São Paulo - O dólar encerrou a terça-feira cravado em R$ 2,080, em um dia em que as declarações de representantes do Banco Central (BC) sobre câmbio foram intensas. Embora um fluxo comprador tenha puxado a moeda norte-americana para leve alta de 0,10% no fim dos negócios, o que culminou em anúncio de leilão pelo BC, a divisa chegou a reagir em baixa mais cedo às declarações do presidente do BC, Alexandre Tombini, e do diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo.
No mercado doméstico, o dólar à vista fechou cotado a R$ 2,0800 no balcão, com alta de 0,10%. Na máxima, a moeda bateu em R$ 2,0830 e tocou em R$ 2,0720, na mínima. O giro financeiro somava US$ 1,217 bilhão perto das 17 horas. Na BM&F, a moeda spot fechou a R$ 2,0810, com alta de 0,12% e 16 negócios (dados preliminares).
No mesmo horário, o dólar para janeiro de 2013 era cotado a R$ 2,083 (estável). Logo após o anúncio do leilão, a moeda chegou a recuar 0,05%. Antes disso, mostrava alta de aproximadamente 0,10%.
No meio da tarde, o dólar tornou a renovar máximas, em meio ao fluxo comprador que estrategistas atribuem a saídas de recursos para que corporações honrem compromissos de final de ano. "Muitas empresas praticamente encerram o ano fiscal perto do dia 20 e estão se preparando para as obrigações financeiras", citou um especialista.
Também, quando a moeda bate um patamar abaixo de R$ 2,08, o fluxo comprador se intensifica. Agentes não descartam ainda que tal fluxo empurrando o dólar para cima sirva para testar em qual nível da moeda o BC volta a intervir no mercado de câmbio.
A percepção se confirmou ao fim do dia, quando o BC anunciou leilão de venda de dólar com recompra. Pelo fato de que o dólar spot já estava fechado, a reação ficou concentrada no dólar futuro. O leilão de linha, como tal modalidade é conhecida, está ligado ao fornecimento de liquidez e às correntes comerciais. Na quarta-feira, o BC fará dois leilões de venda conjugada com recompra. As operações serão de até US$ 1,5 bilhão, distribuídos nos dois leilões.
Tombini reafirmou que o câmbio é flutuante, e Hamilton citou que tal regime continuará sendo a primeira linha de defesa do País contra choques. O diretor do BC, porém, reconheceu que, desde 1999, se pratica regime de flutuação suja do câmbio.
Para o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, o mercado está "tateando no escuro", ao avaliar que houve declarações contraditórias da parte do governo, principalmente, sobre o nível desejado do câmbio em face do enfraquecimento econômico.
O economista sênior do Besi Brasil, Flávio Serrano, considera que os comentários do BC tentam diminuir o mal-estar dos agentes quanto às políticas adotadas. "A comunicação é para desmentir verdades que o próprio mercado encontrou", observou, por exemplo, em relação à percepção que se espalhou depois do Produto Interno Bruto (PIB) enfraquecido no terceiro trimestre do ano. Na ocasião, a divulgação e declarações de membros do governo geraram o entendimento no mercado de que a administração federal desejaria um real mais depreciado para estimular a economia.
Também, não era raro encontrar agentes financeiros que consideravam que o foco da política monetária estava em impulsionar o crescimento em detrimento da inflação. Nesta terça-feira, Tombini citou que qualquer movimento no câmbio tem de considerar o controle da inflação e acrescentou que a estratégia monetária assegura convergência da inflação para o centro da meta em 2013.
Por sua vez, o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, disse que o governo não tem meta para câmbio, que a política cambial tem por objetivo reduzir volatilidade e afirmou que a política é tornar o câmbio mais realista. Na noite passada, Augustin já havia dito que o governo tem trabalhado para evitar excesso de volatilidade no câmbio.