Para diretor, os analistas da Fitch que avaliam o Brasil analisavam em abril um cenário de estabilidade da dívida pública bruta até 2018 (Brendan McDermid/Reuters)
Da Redação
Publicado em 28 de setembro de 2015 às 20h41.
São Paulo - O diretor-executivo da Fitch Rating para o Brasil, Rafael Guedes, afirmou nesta segunda-feira, 28, que "a dinâmica da dívida é preocupação número 1 de analistas" da agência internacional para a avaliação da nota soberana do país.
Ele destacou também que para a análise da trajetória do passivo bruto público também contribui como o Congresso se comportará para aprovar medidas do ajuste fiscal proposto pelo governo.
"A perda significativa de reservas também pode causar rebaixamento de um país. Mas as reservas no Brasil estão bem e são robustas. Esse é o único ponto positivo", comentou Rafael Guedes.
Ele também apontou que outros dois fatores poderiam ser uma piora substancial das dívidas de bancos públicos e uma deterioração do perfil da dívida pública interna, que não está no seu cenário-base, inclusive porque apresentou grande melhora na última década.
Guedes afirmou que é "viável" para o país atingir um cenário econômico no qual evitará o avanço da dívida pública bruta. "Essa dívida está em 65% do PIB e está encostando em 70% do Produto Interno Bruto", comentou.
"Para estabilizá-la, é preciso um crescimento do país próximo a 2% e superávit primário ao redor de 2,5% do PIB. É bastante factível para que o Brasil atinja essas marcas", destacou.
"Mas com investimento baixo, a 16% do PIB, o país não consegue crescer 2%", ponderou Guedes.
Ele ressaltou que o desequilíbrio da economia pode também ser identificado na elevação expressiva do déficit nominal, que atingiu 6,5% do PIB em 2014 e caminha para 9% do PIB neste ano.
Guedes avaliou que as medidas relativas ao ajuste fiscal proposto pelo governo para 2016, com uma meta de superávit primário de 0,7% do PIB, podem ser aceitas pelo Congresso.
"O ajuste não tem medidas difíceis de serem aprovadas, desde que haja consenso da base (do governo)", comentou. "Uma coisa é a vontade da equipe econômica, outra é a capacidade de passar medidas."
"Ajuste fiscal com economia em retração é extremamente difícil", comentou Guedes. "O primário de 0,7% do PIB depende de uma série de medidas."
Ele ressaltou que no início deste ano o Congresso não ajudou o governo na aprovação de ações corretivas das contas públicas.
Ele destacou que a perspectiva negativa do Brasil indica que há risco maior de 50% para que a nota soberana do país seja rebaixada entre 12 e 18 meses.
Ponto negativo
Guedes afirmou que a área fiscal é "tradicionalmente um ponto negativo" da economia brasileira. Ele destacou que o governo tem uma meta de 0,7% do PIB de superávit primário para 2016, mas que ainda não é nítido que o poder Executivo conseguirá alcançá-la.
"O governo está mostrando que está enfrentando um Congresso que não o tem apoiado", comentou Guedes. "O cenário-base (do poder Executivo) para a economia está ficando distante daquilo que será entregue", apontou.
Para Guedes, os analistas da Fitch que avaliam o Brasil analisavam em abril um cenário de estabilidade da dívida pública bruta até 2018.
Mas como os indicadores econômicos se deterioram desde aquele mês, quando a agência reduziu a perspectiva do país de neutra para negativa, isso está sendo ponderado pelos especialistas da agência internacional.
"A capacidade de pagamento da dívida tem se alterado significativamente", ponderou, referindo-se à piora de resultados fiscais e de atividade desde o início do ano.
"Vamos olhar agora as novas premissas. Vamos avaliar se a expectativa de estabilidade da dinâmica da dívida pública para 2018 vai ser impactada ou não", comentou. "Conforme o cenário-base dos analistas, o Comitê da Fitch vai avaliar."
Guedes ponderou que o Brasil tem um problema estrutural de crescimento, que está relacionado com vários fatores, como baixo nível de investimentos. "Crescimento e confiança baixos e o Congresso não ajuda", disse. "É um quadro difícil."
Contas externas
O diretor da Fitch destacou ainda que "a piora das contas externas do Brasil está se ajustando muito rápido", sobretudo com a expressiva desvalorização do real ante o dólar desde o início do ano.
"O déficit de transações correntes deve baixar de US$ 103 bilhões em 2014 para perto de US$ 70 bilhões em 2015", comentou.
Na avaliação de Guedes, por outro lado, a grande "volatilidade" do câmbio desde o começo de 2015 gera um quadro de dúvida e instabilidade que afeta "o ingresso e saída de investimentos no país".
Segundo ele, um movimento malfeito de gestores de recursos ao considerar uma determinada cotação do dólar pode comprometer o resultado de sua aplicação relativa a um período de "seis meses ou até de um ano inteiro".