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Disputa comercial entre Estados Unidos e China deve terminar em um "cessar-fogo", afirma Gavekal

Para Arthur Kroeber, da Gavekal Dragonomics, disputa resultará em acordo que impede uma escalada adicional nas restrições comerciais

Donald Trump e  Xi Jinping: disputa comercial entre Estados Unidos e China não alterará fundamentalmente a relação econômica, segundo Gavekal Dragonomics (Jonathan Ernst/Reuters)

Donald Trump e Xi Jinping: disputa comercial entre Estados Unidos e China não alterará fundamentalmente a relação econômica, segundo Gavekal Dragonomics (Jonathan Ernst/Reuters)

Antonio Temóteo
Antonio Temóteo

Repórter especial de Macroeconomia

Publicado em 6 de dezembro de 2024 às 18h00.

As novas tarifas comerciais contra a China prometidas pelo presidente eleito Donald Trump assim que tomar posse ainda são incertas em sua escala, nos mecanismos legais para viabilizá-las e nos objetivos finais que conquistarão, avalia Arthur Kroeber, da Gavekal. Para o analista, no que diz respeito à China, existem três maneiras pelas quais a política comercial de Trump pode se desenrolar — e a situação caminha para um "cessar-fogo" entre os países:

  1. Guerra comercial: Tarifas elevadas e forte retaliação por parte da China, o que aceleraria o desacoplamento econômico entre os EUA e a China;
  2. Cessar-fogo: Tarifas ou ameaças de tarifas resultando em um acordo que impede uma escalada adicional nas restrições comerciais, mas não altera fundamentalmente a relação econômica;
  3. Grande acordo: Tarifas ou ameaças de tarifas resultando em um acordo que muda a relação entre os EUA e a China de forma substancial e positiva.

"O cessar-fogo é o cenário mais provável, com os termos sendo que a China receberia garantias de estabilidade na relação comercial (ou seja, sem novas tarifas por um tempo) em troca de compromissos para comprar mais produtos dos Estados Unidos e, talvez, algumas promessas para conter a capacidade excessiva em indústrias principais e/ou impor restrições voluntárias de exportação em alguns setores. Ambos os lados têm incentivos positivos para tal acordo", afirmou Kroeber, em relatório.

Segundo ele, a economia chinesa está em situação difícil e menos capaz de lidar com uma guerra comercial do que em 2018 e 2019. Pequim, afirmou o analista, estaria disposta a pagar um preço pela estabilidade e por um "pouco de respiro". Na prática, a China poderia aumentar as compras de produtos agrícolas dos Estados Unidos, que, neste ano, são estimadas em cerca de um terço do seu pico de 2022.

Compras de gás

Um exemplo prático desse desenrolar pode ser analisado no mercado de gás natural liquefeito (GNL) As empresas chinesas já assinaram contratos de longo prazo para comprar GNL americano, o que aumentaria as importações chinesas de gás dos Estados Unidos em sete vezes, para 27 milhões de toneladas por ano, disse Kroeber.

"Os contratos devem começar entre 2025 e 2028, mas foram adiados pela decisão do presidente Joe Biden, em janeiro de 2024, de suspender as licenças de exportação de GNL. A emissão dessas licenças criaria um aumento quase automático e muito grande nas importações chinesas de energia dos Estados Unidos. Pequim também poderia se comprometer a conter a capacidade excessiva industrial [overcapacity], o que provavelmente quer fazer de qualquer maneira", disse.

Do lado dos Estados Unidos, afirmou o executivo, Trump pode entender os impactos potencialmente graves sobre o crescimento e a inflação de uma guerra comercial máxima. E a principal motivação pode ser simplesmente poder reivindicar uma vitória em um acordo, mesmo que o conteúdo seja raso.

Resultados do 'cessar-fogo'

Para Kroeber, o mais provável é que Pequim e Washington cheguem a um acordo de cessar-fogo do que algo que reordene fundamentalmente o comércio global, reduza os superávits da China ou os déficits dos Estados Unidos, ou transfira a capacidade de produção global de volta da China para os Estados Unidos.

"Os fluxos comerciais globais e as estruturas de produção são determinados por forças mais profundas, como políticas macroeconômicas, balanços de poupança e investimento, e tecnologia. Esforços para mudar fluxos de comércio e investimento puramente por meio de comércio administrado, sem grandes mudanças nas políticas macroeconômicas, simplesmente aumentarão os custos, alongarão as cadeias de suprimento internacionais — criando incentivos para desvio do comércio — e reduzirão o crescimento econômico", disse.

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