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Disparam apostas em depreciação cambial com BC reduzindo juros

Investidores esperam que a crise da dívida na Europa vá aprofundar a desaceleração da economia internacional

Real se desvalorizou em 13,3% desde de agosto, quando o BC surpreendeu o mercado ao reduzir a Selic para 12% mesmo com a inflação no patamar mais alto em seis anos (Wikimedia Commons)
DR

Da Redação

Publicado em 6 de outubro de 2011 às 06h15.

Nova York - O pessimismo dos investidores estrangeiros em relação ao rumo da moeda brasileira é o maior desde junho de 2010. O motivo é a expectativa de que o Banco Central vá reduzir o juro ainda mais à medida que a crise da dívida da Europa aprofunde a desaceleração econômica global.

Em 4 de outubro, os contratos futuros apostando na desvalorização do real em relação ao dólar superaram em US$ 714 milhões aqueles em que a moeda brasileira se valoriza, a maior diferença em mais de 16 meses, de acordo com dados compilados por Bloomberg e BM&FBovespa SA. Apostas em apreciação do real, ou as chamadas posições vendidas em dólar, foram maiores do que os compradas por um recorde de US$ 24,6 bilhões em julho. Os investidores estão mais pessimistas sobre o peso mexicano em quatro anos, mostram os dados dos mercados futuros.

O real se desvalorizou em 13,3 por cento desde o fim de agosto, quando o BC surpreendeu o mercado ao reduzir o juro básico para 12 por cento mesmo com a inflação no patamar mais alto em seis anos. A depreciação do real foi a segunda pior no mundo, atrás da moeda húngara. Operadores estão apostando que o Comitê de Política Monetária vai cortar a Selic em 200 pontos- base, ou 2 pontos percentuais, para 10 por cento em maio, mostram contratos futuros de juros.

“Foi um corte inesperado nos juros”, disse Ram Bala Chandran, estrategista para América Latina de moedas e juros no Citigroup Inc., em entrevista por telefone de Nova York. “Muitas pessoas pensaram que o Brasil poderia vir a perder o controle da inflação se cortasse juros.”

Enquanto o rendimento da Nota do Tesouro Nacional série F com vencimento em 2021, papel de referência do mercado, caiu quatro pontos-base no último mês para 11,55 por cento, a desvalorização do real eliminou o retorno em dólares para os investidores estrangeiros. A dívida denominada em real perdeu 9 por cento em dólares no último mês, a maior queda em três anos, de acordo com dados compilados pelo JPMorgan Chase & Co. Títulos de mercados emergentes em moeda local tiveram depreciação média de 8,9 por cento.

Intervenções no câmbio

O dólar atingiu a maior cotação em dois anos de R$ 1,9549 em 22 de setembro, levando o Banco Central a intervir no mercado de futuros pela primeira vez em dois anos para conter a alta. Em 4 de outubro, o BC leiloou US$ 1,7 bilhão em swaps cambiais, o que equivale a vender dólares no mercado futuro. Foi a terceira vez em duas semanas em que as autoridades usaram derivativos para defender o real.


Bancos centrais de mercados emergentes estão aumentando os esforços para conter a desvalorização de suas moedas, que pode prejudicar investimentos, abalar a confiança de empresários e elevar os preços das importações.

O BC da Turquia vendeu ontem uma quantia recorde de US$ 750 milhões em troca de liras em leilão, aumentando a intervenção total desde 5 de agosto para quase US$ 4 bilhões. A Rússia vendeu US$ 1,15 bilhão ontem, uma quantia “maior que o normal”, e US$ 8 bilhões no mês passado, disse ontem o presidente do Bank Rossii, Sergey Ignatiev, em Moscou. Polônia, Malásia e Filipinas também estão fazendo intervenções para sustentar suas taxas de câmbio.

‘Viés de fraqueza’

Todas as moedas de mercados emergentes com exceção do iuane chinês e o dólar de Hong Kong tiveram perdas em relação ao dólar desde o fim de agosto, diante do fracasso das autoridades europeias em conter a crise de dívida da região, que ameaça jogar a economia mundial em recessão.

“O movimento de fuga de ativos emergentes em direção a referências de maior liquidez atingiu duramente as moedas de mercados emergentes, especialmente o Brasil”, disse Mike Moran, estrategista de câmbio do Standard Chartered Bank em Nova York, em entrevista por telefone. “Ainda não temos a clareza essencial sobre como deveria ser ou será a solução na Europa. Até lá, moedas de países como o Brasil vão continuar sendo negociadas com viés de fraqueza, considerando-se o conjunto de fatores desconhecidos.”

O presidente do BC, Alexandre Tombini, baixou a taxa básica de juros de 12,5 por cento em meio ponto percentual em 31 de agosto. O Brasil então se tornou o segundo país do Grupo dos 20, depois da Turquia, a reduzir juros para sustentar o crescimento econômico. Todos os 62 economistas sondados pela Bloomberg esperavam que o BC mantivesse a Selic inalterada.

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 subiu 7,33 por cento nos 12 meses até meados de setembro, rompendo o teto da meta do BC de 6,5 por cento pelo quinto mês consecutivo. O BC tem como meta inflação de 4,5 por cento, com dois pontos percentuais de tolerância para cima ou para baixo.

O BC e o Ministério da Fazenda se recusaram a fazer comentários para esta reportagem, em comunicados enviados por e- mail.

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Nova York - O pessimismo dos investidores estrangeiros em relação ao rumo da moeda brasileira é o maior desde junho de 2010. O motivo é a expectativa de que o Banco Central vá reduzir o juro ainda mais à medida que a crise da dívida da Europa aprofunde a desaceleração econômica global.

Em 4 de outubro, os contratos futuros apostando na desvalorização do real em relação ao dólar superaram em US$ 714 milhões aqueles em que a moeda brasileira se valoriza, a maior diferença em mais de 16 meses, de acordo com dados compilados por Bloomberg e BM&FBovespa SA. Apostas em apreciação do real, ou as chamadas posições vendidas em dólar, foram maiores do que os compradas por um recorde de US$ 24,6 bilhões em julho. Os investidores estão mais pessimistas sobre o peso mexicano em quatro anos, mostram os dados dos mercados futuros.

O real se desvalorizou em 13,3 por cento desde o fim de agosto, quando o BC surpreendeu o mercado ao reduzir o juro básico para 12 por cento mesmo com a inflação no patamar mais alto em seis anos. A depreciação do real foi a segunda pior no mundo, atrás da moeda húngara. Operadores estão apostando que o Comitê de Política Monetária vai cortar a Selic em 200 pontos- base, ou 2 pontos percentuais, para 10 por cento em maio, mostram contratos futuros de juros.

“Foi um corte inesperado nos juros”, disse Ram Bala Chandran, estrategista para América Latina de moedas e juros no Citigroup Inc., em entrevista por telefone de Nova York. “Muitas pessoas pensaram que o Brasil poderia vir a perder o controle da inflação se cortasse juros.”

Enquanto o rendimento da Nota do Tesouro Nacional série F com vencimento em 2021, papel de referência do mercado, caiu quatro pontos-base no último mês para 11,55 por cento, a desvalorização do real eliminou o retorno em dólares para os investidores estrangeiros. A dívida denominada em real perdeu 9 por cento em dólares no último mês, a maior queda em três anos, de acordo com dados compilados pelo JPMorgan Chase & Co. Títulos de mercados emergentes em moeda local tiveram depreciação média de 8,9 por cento.

Intervenções no câmbio

O dólar atingiu a maior cotação em dois anos de R$ 1,9549 em 22 de setembro, levando o Banco Central a intervir no mercado de futuros pela primeira vez em dois anos para conter a alta. Em 4 de outubro, o BC leiloou US$ 1,7 bilhão em swaps cambiais, o que equivale a vender dólares no mercado futuro. Foi a terceira vez em duas semanas em que as autoridades usaram derivativos para defender o real.


Bancos centrais de mercados emergentes estão aumentando os esforços para conter a desvalorização de suas moedas, que pode prejudicar investimentos, abalar a confiança de empresários e elevar os preços das importações.

O BC da Turquia vendeu ontem uma quantia recorde de US$ 750 milhões em troca de liras em leilão, aumentando a intervenção total desde 5 de agosto para quase US$ 4 bilhões. A Rússia vendeu US$ 1,15 bilhão ontem, uma quantia “maior que o normal”, e US$ 8 bilhões no mês passado, disse ontem o presidente do Bank Rossii, Sergey Ignatiev, em Moscou. Polônia, Malásia e Filipinas também estão fazendo intervenções para sustentar suas taxas de câmbio.

‘Viés de fraqueza’

Todas as moedas de mercados emergentes com exceção do iuane chinês e o dólar de Hong Kong tiveram perdas em relação ao dólar desde o fim de agosto, diante do fracasso das autoridades europeias em conter a crise de dívida da região, que ameaça jogar a economia mundial em recessão.

“O movimento de fuga de ativos emergentes em direção a referências de maior liquidez atingiu duramente as moedas de mercados emergentes, especialmente o Brasil”, disse Mike Moran, estrategista de câmbio do Standard Chartered Bank em Nova York, em entrevista por telefone. “Ainda não temos a clareza essencial sobre como deveria ser ou será a solução na Europa. Até lá, moedas de países como o Brasil vão continuar sendo negociadas com viés de fraqueza, considerando-se o conjunto de fatores desconhecidos.”

O presidente do BC, Alexandre Tombini, baixou a taxa básica de juros de 12,5 por cento em meio ponto percentual em 31 de agosto. O Brasil então se tornou o segundo país do Grupo dos 20, depois da Turquia, a reduzir juros para sustentar o crescimento econômico. Todos os 62 economistas sondados pela Bloomberg esperavam que o BC mantivesse a Selic inalterada.

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 subiu 7,33 por cento nos 12 meses até meados de setembro, rompendo o teto da meta do BC de 6,5 por cento pelo quinto mês consecutivo. O BC tem como meta inflação de 4,5 por cento, com dois pontos percentuais de tolerância para cima ou para baixo.

O BC e o Ministério da Fazenda se recusaram a fazer comentários para esta reportagem, em comunicados enviados por e- mail.

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